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Por: Júlio C de Carvalho

 

Em menos de dez dias, a diplomacia caboverdiana foi confrontada com dois episódios de consequências ainda por determinar mas com grande potencial de serem negativas para a percepção do prestígio e utilidade do nosso país ​no quadro da nossa organização Sub-Regional e da nossa amizade e parceria estratégica com os Estados Unidos.

O primeiro foi a “derrota” em relação à  nossa pretensão de assumir a ​presidência da comissão de CEDEAO e o segundo trata-se do voto recente ​de Cabo Verde na Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 21 de Dezembro de 2017, ​sobre instalação de representações diplomáticas em Jerusalém e o reconhecimento desta cidade como capital de Israel,  duas medidas que pouco antes tinham sido tomadas pelos Estados Unidos.  Cabo Verde fez parte dos 128 países que votaram a favor da Resolução, consequentemente, contra os Estados Unidos.

Votaram contra 9 países incluindo os Estados Unidos, abstiveram 35 e não compareceram 21. Assim um total de 64 países de uma forma ou outra evitaram votar “contra” os Estados Unidos, independentemente da posição efectiva que poderão ter sobre o assunto. 

Desconhecemos porque não fomos informados, as razões que motivaram o voto de Cabo Verde, mas sabemos que se trata de um voto que poderá ter consequenciais nas nossas relações com os Estados Unidos. Tratando-se pois ​de uma posição que pode ter consequências desfavoráveis ​no contexto do interesse nacional representado pelas relações ​de amizade e cooperação consolidadas em fortes laços históricos com os ​Estados Unidos, é entendimento da UCID que o Governo deveria consultar todos os partidos com assento na Assembleia  Nacional, e na sequência ponderar o que poderia ser a melhor posição no que concerne ao interesse nacional que certamente está aqui em jogo.

Porque, se é certo que a expressiva votação a favor reflete posições que poderão estar alinhadas com a legalidade internacional, não é menos certo que apesar disso, um conjunto relativamente grande de países preferiram não se pronunciar, deixando claramente prevalecer o que consideram seu interesse nacional no quadro de relações ​bilaterais com os Estados Unidos e Israel.

A UCID não tendo sido consultada sobre o voto de Cabo Verde, não está em posição de se pronunciar sobre o acerto do sentido deste voto, que espera que levou em consideração interesses nacionais para além da legalidade e factores históricos e geopolíticos envolvidos.

Por isso, não deixa de interpelar o Governo perguntando e exigindo uma resposta. 

  1. O Governo ao votar contra os Estados Unidos levou em consideração que este país foi de uma importância extraordinária para Cabo Verde sobreviver como Estado independente, socorrendo o nosso povo com ajudas publica ao desenvolvimento, desde primeira hora? Ajuda sob forma de uma massiva ajuda alimentar durante os primeiros anos críticos da nossa independência; disponibilização de um grande numero de bolsas de estudos para formação superior dos nossos jovens; programas de conservação de solo e água que foi e ainda tem sido activos fisicos e de investigação importantes na defesa contra erosão e na conservação e aumento de disponibilidades hidricas, que hoje tornaram mais realistas construção de barragens e furos; dois Progrmas de Millenium Challenge Accounts na ordem de centenas de milhões  de dólares que criaram infraestruturas, acervos informativos criticos sobre a política e  regime jurídico do solo e gestão da agua; flexibilizacão e compreensão na aplicação da política de emigração, além de outros projectos e programas de menor montantes mas tambem importantes. Esta prova de amizade e solidariedade se manifestou desde sempre, incluindo no período do sistema do partido único, cujo valores basilares divergiam amplamente dos defendidos pelos Estados Unidos?
  2. Sabe o Governo  que infelizmente o quadro atual da política americana não é tão favorável à emigração, e que por isso percepção de reversão  na nossa política externa em relação aos Estados Unidos, poderá fornecer munições àqueles que promovem uma política anti-imigração nos Estados Unidos, e assim prejudicar a estabilidade e segurança da nossa comunidades neste país?
  3. Em que se baseou o Governo para tomar uma posição hostil em relação aos Estados Unidos quando tinha à disposição outras opções, desde abstenção ao não comparecimento, que certamente seriam compreendidas por todos, a começar pelos Estados Unidos que acabaram por interpretar no contexto uma abstenção ou nãocomparecimento como um acto até amigável? 

​Resta a Cabo Verde agora explicar à sua comunidade nos Estados Unidos o sentido deste voto, e atuar diplomaticamente para mitigar eventuais consequências negativas nas nossas relações com os Estados Unidos. ​

​Relativamente à presidência da Comissão, a posição da UCID é bem conhecida. Tratou-se de uma jornada vergonhosa e desprestigiante para Cabo Verde, expressiva de uma  incompetência e amadorismos evidentes, que esperamos que sejam corregidos com a rapidez necessária. 

O que os dois episódios tem em comum é o facto de as decisões terem sido tomadas sem uma auscultação politicamente qualificada, que no mínimo teria de envolver os partidos com assento parlamentar. A  UCID lembra ao Governo que tradicionalmente nas questões de política externas que põem em causa grandes interesses nacionais Cabo Verde deve ter uma só voz, expressiva de unanimidade. Mas que não deve contar com seguidismos que impõe posições sem troca de opiniões. Pelo menos da parte da UCID.

Júlio C de Carvalho

VP UCID: Relações  Externas, Cooperação e Comunidades

Partido Democrata Cristão

 

Comentários  

0 # PEPETELA 03-01-2018 10:04
Eis um homem que queria ser Presidente da CEDEAO, que confunde a realidade política e económica e a Dignidade de uma Nação. O seu texto demostra uma alienação grave e triste de uma pessoa que porque vive na terra do Oncle Sam, deve tudo fazer para agradar todas as decisões políticas mesmo aquelas combatidas pela sociedade civil americana. Se calhar o Júlio Carvalho estava a tremer até fazer chichi na sua calça quando ouviu as vergonhosas ameaças da Nikki Haley, Embaixadora dos USA na ONU. 128 nações recusaram aceitar o diktat americano, historicamente pesado de consequências: caro Júlio a realidade política e “matimatika” demostra que somente 8 países estiveram ao lado dos “teus” USA. Os ausentes e abstencionistas recusaram aceitar e ficar ao lado de Trump. A lógico do voto é quem está comigo vota para mim para que na hora da contagem posso ter a maioria. Ponto e traço. Foram 192 países que não ficaram ao lado do Trump. Porquê é que Cabo verde devia ficar de fora deste grupo? O que o Sr. Júlio acha dos votos a favor dos países africanos onde há maior investimentos americanos, com grandes empresas, bancos, exportações comerciais e sobretudo com um maior saldo migratório do que Cabo Verde para USA e visitas de turistas americanos (alguns com 2 voos diários) tais como a Libéria, o Gana, Serra Leoa, Nigéria, Etiópia ou Djibuti? Sabe que este último (Djibuti) é o único país africano com uma grande militar americana? Muito mais, caro Dr. Júlio todos os países do Mundo com bases militares americanos desmarcaram-se dos USA. Você acha que ficar ao lado, a todo custo dos USA vai salvar Cabo Verde da seca, da pobreza, do desemprego, das crises financeiras, etc. Agora, Caro Júlio, o que você acha do sofrimento dos palestinianos que morrem todos os dias como moscas desde que o Trump decidiu “privatizar” Jerusalém espaço mundial espiritual e de paz. Prezado Dr. Júlio você acha também que um Governo por tudo ou nada deve consultar toda gente (neste caso o Júlio Carvalho) para tomar uma decisão? O Governo de Cabo Verde está de parabéns pela decisão tomada a favor da Dignidade, Dignidade de Cabo Verde como uma Nação que respeita a Dignidade de todas as nações mesmo as oprimidas.
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0 # Djuzédikabuverdi 03-01-2018 02:26
Aquilo que o Senhor Carvalho despachou em duas palavras (factores historicos e geopoliticas) encostados a legalidade, terão sido por certo as razoes que levaram o eis Presidente B. Obama a não tomar em consideração escolhas politicas desta natureza.





















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