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 lígia fonseca

A primeira-dama de Cabo Verde, Lígia Fonseca, considerou este domingo, 14, que o partido no poder no país (MpD) tinha o “dever moral e político” de integrar mulheres como cabeças de lista às autárquicas deste ano no país.

 “Concordo que o partido deve escolher os melhores candidatos e não deve mudar alguém que está a fazer um bom trabalho e tem avaliação positiva do seu eleitorado pelo simples facto de ser homem. Isso seria uma discriminação proibida pela Constituição”, começou por dizer Lígia Fonseca, numa publicação na sua página no Facebook.

 A reação da primeira-dama surge dois dias depois de o Movimento para a Democracia (MpD), partido no poder em Cabo Verde, ter apresentado os candidatos às autárquicas deste ano, com 22 homens como cabeças de lista em outros tantos municípios.

 E também surge pouco mais de seis meses depois da aprovação na Assembleia Nacional do diploma conhecido como lei da Paridade de Género, que abriga a que pelo menos 40% dos candidatos às eleições autárquicas de 2020 no país sejam mulheres.

 Lígia Fonseca notou que o MpD tinha a possibilidade de fazer novas escolhas em quatro municípios e que tinha o “dever moral e político” de ter aproveitado essas possibilidades para integrar mulheres.

 “Um partido que está no poder e que aprovou a lei da paridade tem de ser líder neste movimento para uma sociedade mais equitativa onde as mulheres tenham, de facto, as mesmas oportunidades que os homens”, insistiu Fonseca, para quem o MpD tinha de dar um “sinal forte” e ter “maior responsabilidade”.

 “Porque é quando se está no poder e quando as sondagens mostram a possibilidade de continuar que temos a força para fazer as mudanças que acreditamos serem necessárias”, prosseguiu.

 Na publicação, a primeira-dama disse esperar que o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), o maior da oposição em Cabo Verde, indique “alguma mulher” para a presidência das câmaras onde as sondagens mostram que podem continuar a ganhar ou têm chances de ganhar pela primeira vez.

 “Esse é que é o teste. Indicar mulheres onde sabem que as chances são mínimas, é fácil porque os homens não estão tão disponíveis para arriscar e de bom grado cedem o lugar”, considerou Lígia Fonseca, uma das vozes que mais tem lutado em favor da paridade e da igualdade entre mulheres e homens em Cabo Verde.

 No sábado, a presidente do Instituto Cabo-verdiano para Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), Rosana Almeida, mostrou-se “insatisfeita com o sinal politico dado” com a ausência de mulheres como cabeças de lista às autárquicas MpD.

 “Na verdade, dos 22 candidatos anunciados oficialmente até agora todos são homens. As mulheres ficaram fora da lista, situação que deixa a presidente do ICIEG insatisfeita com o sinal político dado”, lamentou a líder institucional.

 Para cumprimento da exigência, a lei define que os dois primeiros lugares nas listas de candidaturas plurinominais – além das autarquias locais também as listas candidatas a deputados - terão de ser “ocupados por candidatos de sexo diferente, não podendo ser colocados mais de dois candidatos do mesmo sexo, consecutivamente, na ordenação dos restantes lugares”.

 A lei da paridade estipula que em caso de incumprimento dos requisitos é determinada a “rejeição pelo tribunal” das listas candidatas.

 Mas mesmo sem serem conhecidos todos os nomes das listas, a presidente do ICIEG chamou atenção que é preciso “respeitar o espírito da Lei da Paridade e corrigir desequilíbrios de género na política em Cabo Verde”.

 O PAICV ainda não apresentou os seus cabeças de listas para as oitavas eleições autárquicas, que devem acontecer entre outubro e novembro deste ano.

 O artigo referente à rejeição levou o partido União Cabo-Verdiana Independente e Democrática (UCID), um dos três com representação no parlamento – três deputados -, a pedir a fiscalização sucessiva do Tribunal Constitucional à lei da Paridade, aprovada pela Assembleia Nacional, alegando a sua inconstitucionalidade.

 O presidente da UCID, António Monteiro, disse que discorda “completamente” do artigo 6.º da lei, que impede que os partidos concorram e que as listas sejam rejeitadas em caso de não conseguirem a proporção.

 O líder partidário entende que se trata de uma legislação que vai promover as “listas fantasma” e a bipolarização, já existente em Cabo Verde, entre o MpD e o PAICV.

 A lei define, no seu preâmbulo, que o objetivo de ultrapassar os níveis “insuficientes” da participação política e representação das mulheres em “cargos eletivos e outros cargos de decisão”, tanto ao nível do poder central, como do poder local.

 Há quatro anos, o MpD venceu 18 das 22 Câmaras Municipais, enquanto o PAICV ganhou duas e outras duas foram conquistas por candidatos independentes.

 Até hoje, Cabo Verde já teve cinco mulheres como presidentes de câmaras municipais, desde as eleições autárquicas que começaram em 1992.

Com Lusa

Comentários  

0 # Ovídio 19-06-2020 08:28
Uma proposta da sociedade cível:
Lígia Fonseca para a Câmara da Praia; Rosana Almeida para Assembleia Municipal; Eva Ortet como mandatária.
Joana Rosa e Filomena Gonçalves para Maio e assim por diante. Há mulheres sim nas fileiras partidárias. Não querem assumir a linha da frente. Respeita-se a opção pela traseira.
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+1 # José Anónimo 15-06-2020 12:36
A Dra. Lígia Fonseca sempre gozou da estima e admiração de muita gente, por mostrar ser uma pessoa preocupada com as situações sociais e pela sua imparcialidade. Mas, penso que, agora, ela acabou de dar-se um tiro no pé.
Para além dos pontos já referidos por outros comentadores (a mulher cabo-verdiana vem ganhando lugar por mérito próprio, essa lei é só para “inglês ver” para C. Verde conseguir mais fundos, pôr mulheres em listas apenas para responder a uma demanda numérica é ofensivo para as próprias mulheres, etc.), há a questão da imparcialidade quando ela diz que o MpD tinha o “dever moral e político”. Então, e os outros partidos não tinham, também, esse “dever”?
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+2 # Fantonneli Mariah 15-06-2020 12:34
Fica a impressão de alguém foi vedado o caminho para ser candidato as autárquicas. A Lei 68/IX/2019, conhecida como Lei de Paridade, corre o risco de ser interpretada como uma lei para proteger as mulheres nas dis[censurado]s pelos cargos públicos, à semelhança da Lei da VBG que é tida como uma lei para proteger e defender as mulheres. A impressão com que fico, é que essa lei, apesar de ser bastante apoiada pelas mulheres, ela acaba por ser uma lei que está a inibir as mulheres na politica. Nas autárquicas anteriores, desde a sua história em Cabo Verde, tivemos mulheres candidatas e algumas vencedoras e desempenharam as suas funções com muita notoriedade, como por exemplo a Dra Isaura Gomes mais conhecida por Zau e que veio a renovar o seu mandato contra um "guru" politico em Cabo Verde Sr Dr Onésimo Silveira. Ainda nas ultimas autárquicas de 2016, tivemos mulheres a concorrer para presidente de câmaras na Praia, na Calheta de S. Miguel e em Porto Novo antes da aprovação e publicação da Lei de Paridade. Concordo com as posições das duas mulheres dos dois maiores partidos em Cabo Verde, Dra Filomena Delgado do MpD e Engª Eva Ortet do PAICV,
que convergiram na ideia de que qualquer mulher que quiser ser candidata, deve fazer um trabalho prévio, para poder ganhar notoriedade e posicionar-se. Até o momento, não dei conta de nenhuma mulher que se mostrou interessada e que lhe foi barrada o caminho. Portanto, se não temos nenhuma mulher candidata nos 22 municípios do país, a culpa é delas e não deles.
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0 # Pirass 15-06-2020 15:02
Acrescento a Dra. Vera Almeida, a Eng. Rosa Rocha, foram também mulheres que chegaram ao poder nas câmaras do Paul e Porto Novo. Muitas concorreram como os casos de Leonesa Fortes, Filomena Martins, ... O problema é que aqui não fazem as primárias e as pessoas são indicadas com o indicador direito ( és tu) que vai candidatar.
Se Cabo Verde tivesse 40% de governantes mulheres em todos os setores teríamos um desenvilolvimento maior. Um abraço.
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0 # Avelino R. Pina 15-06-2020 10:21
"Dever moral e político" dá alguém direito de colocar qualquer um (homem ou mulher) em cargos de responsabilidade e/ou de Liderança em Cabo Verde? Estão a querer brincar com o país e com as suas gentes. Por amor de Deus!
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+2 # John Miller 15-06-2020 09:21
Deixem de tolices! Essa lei apenas veio afrontar as próprias mulheres, tal e qual a questão das quotas atribuídas aos negros nas universidades brasileiras: é uma coisa que só serve para rebaixar ainda mais quem se acha discriminado pelo status quo. A mulher cabo-verdiana não precisa de andarilhos para alcançar lugares de destaque. Ela por si só é muito bem capaz de consegui-lo!
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-2 # Agnelo 15-06-2020 06:06
O partido é livre sim para escolher os candidatos que bem entender, mas este mesmo partido, a bem pouco tempo aprovou uma lei e agora não cumpri.
Não se compreende como é possível que em 22 candidatos( alguns casos com novas escolhas), nenhuma mulher ter sido indigitada. Arisco a dizer que estamos perante um retrocesso, com tudo aquilo que já foi feito para o bem das nossa mulheres.
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0 # Caboverdiano 15-06-2020 00:57
É a lógica de bai sem djobe pá lado.
Quando é que o MPD cumpriu alguma coisa?
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+3 # Por aí não, doutora! 14-06-2020 23:37
a sociedade caboverdiana criou um problema com essa lei chamada de "paridade", copiada para o nosso ordenamento Jurídico para fazer de conta que ela, a sociedade, é vanguardista. Acho até que a mulher caboverdiana não merecia essa lei, pois ela a pulso vem ganhando o seu espaço devagar mais seguro liderando já alguns sectores no País. A Doutora Lígia pessoa estimada por quase todos os caboverdianos, esqueceu-se duma coisa: estamos no dominio do poder...não percebo a indignidade manifestada: na noite eleitoral faz-se a aritmética, e num ano em que as eleições autarquicas precedem as legislativas...meter uma mulher só porque é imoral não coloca-la como cabeça de lista e depois perderesse o municipio dando gaz a oposição naquele municipio, é ingenuidade, desculpe-me lá!
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