As coisas não estão bonitas pelos lados do município do Tarrafal de Santiago. Os dirigentes do MpD local não se entendem quanto ao desempenho do presidente da Câmara Municipal, José Pedro Soares  (foto). O deputado e líder do partido ventoinha naquele concelho do extremo norte de Santiago, José Soares, acha que o seu colega do partido é incompetente e um autarca de pouca confiança, ao ponto de solicitar mais fiscalização do governo sobre os fundos transferidos para a Câmara Municipal, no ámbito do PRAA, Fundo de Ambiente, Fundo de Turismo, entre outros contratos-programa.

Num encontro do partido, onde esteve presente o líder do MpD e primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, o deputado José Soares chegou a pedir o reforço da fiscalização dos fundos tranferidos para a Câmara Municipal local, mostrando-se claramente desacreditado quanto à capacidade e honestidade do autarca José Pedro Soares, em gerir os fundos que o governo anda a tranferir para todos os municípios do país.

“Pensando no Tarrafal e na felicidade dos Tarrafalenses, com a vossa permissão propomos maior fiscalização do governo à câmara até às próximas eleições e que as verbas dos grandes contratos programas não fossem transferidos pela conta comum da câmara mas sim por uma conta de investimento criada para o efeito ou diretamente para a conta dos operadores que exercem ou executam as obras no município”, sugere aquele deputado e líder dos ventoinhas, num audio a que Santiago Magazine teve acesso.

Visivelmente agastado, o deputado, José Soares, lançou, por exemplo, a seguinte questão ao presidente da CMT e a todos os presentes: “Se o nosso objetivo é construir a grande cidade do Tarrafal, com serviços de qualidade e excelência, em parceria com o governo através do financiamento do programa PRRA, Fundos do Turismo, do Ambiente e Manutenção Rodoviária e outros contratos programas, pergunta-se como é possível o Pelouro de Urbanismo e Obras sem vereador, sem diretor de gabinete, sem engenheiro, só com um arquiteto, funciona para corresponder a parceria que o governo e o setor privado pretende estabelecer com o município e as expetativas dos Tarrafalenses.”

Confira a intervenção do deputado José Soares, na íntegra.

“Se o nosso objetivo é construir a grande cidade do Tarrafal, com serviços de qualidade e excelência, em parceria com o governo através do financiamento do programa PRRA, Fundos do Turismo, do Ambiente e Manutenção Rodoviária e outros contratos programas, pergunta-se como é possível o Pelouro de Urbanismo e Obras sem vereador, sem diretor de gabinete, sem engenheiro, só com um arquiteto, funciona para corresponder a parceria que o governo e o setor privado pretende estabelecer com o município e as expetativas dos Tarrafalenses.

Sr. Presidente do MpD, Sr. Primeiro ministro, Sr. Presidente da CMT, Sres. Vereadores e convidados, só as obras não ganham as eleições, se fosse por isso PAICV ainda estaria no poder. Na CMT era preciso mais comunicação e visibilidade, mais confiança, mais coragem de decidir, mais respeito pelo MpD, para com a população e munícipes que nos elegeu. Digo “era” porque agora é tarde.

Os tarrafalenses, a maioria que felizmente conseguem fazer a separação de poderes, afirmam que a CM transformou numa delegação do governo, pois não consegue investir e realizar nada com recursos próprios que não seja transferências do poder central. Se estamos errados que nos prove o contrário. A maioria dos funcionários e colaboradores da CM, apesar de lhes serem descontados a contribuição do INPS, não beneficiam de proteção social porque a CM desconta e não honra os seus compromissos com o INPS e trabalhadores. Aliás, um número significativo de ex-funcionários, apesar de estarem aposentados, ainda são pagos pela Câmara e não pelo INPS.

Na formalização das listas para as eleições autárquicas e durante a campanha eleitoral de 2016 existia uma equipa forte por isso ganhamos as eleições, hoje não existe equipa e liderança da CM. O presidente da CM não partilha, não comunica, nunca fez um post no Facebook para interagir e dar confiança aos eleitores. Não delega responsabilidades, existem interferências de terceiros na gestão camarária, muitas vezes decidem verbalmente em detrimento dos vereadores ou da equipa, nas praças, nos cafés, nos estádios, em Assomada e na Praia em vez de ser nas reuniões quinzenais na CM. Nota-se uma degradação constante e progressiva dos espaços verdes, dos espaços públicos e património municipal e o setor do turismo que deveria ser a bandeira do município foi simplesmente desmantelada. Os serviços de fiscalização em teoria com uma boa reforma, na prática são deveras deficientes e a autoridade municipal não é respeitada nem pelos munícipes nem pelos investidores. Em Tarrafal, infelizmente, qualquer pessoa pode construir e ficar sem licença e onde bem quiser; as construções de currais na Cabeça do Colonato e os supostos estaleiros no parque de viaturas, das proliferações de quiosques inclusive os espaços verdes e das oficinas no centro da cidade são exemplos disso. O terminal rodoviário, este sim o primeiro de Santiago encontra-se às moscas. Enquanto os motoristas de transporte de passageiros, dentro e fora do município, apesar da existência do código de postura e de trânsito determinam as suas paragens onde bem entenderem. Muitas vezes as autoridades fiscais são postas em causa pelas decisões não consertadas do presidente, de pessoas que não fazem parte da CM pondo em causa o papel dos fiscais muitas vezes levando-lhes a frustações e desmotivações. Quem se atreve a dar sugestões e opiniões políticas à equipa camarária é automaticamente posto de lado e perseguido de forma silenciosa típico de partidos de esquerda, alguns aqui presentes são vítimas.

No concelho, a nível da administração política camarária quase tudo é mau, escuro, vermelho ou desgovernado. Infelizmente, quando se chega a Santa Catarina muda-se de cor e de cenário, quando se chega à capital na presença dos decisores, muda-se de cor, ficando tudo verde, tudo perfeito. Por isso, convém ouvir as estruturas partidárias, a base, os militantes, a população e os promotores. Mesmo antes que se prove o contrário e que seja muito tarde.

Sr. Presidente do MpD e Sr. Primeiro ministro, a nível nacional por tudo o que Tarrafal é para o MpD e as expetativas geradas com a vitória do MpD, liderado por si, primeiro ministro, Tarrafal gostaria ver concretizado a reabilitação do cais de Tarrafal, tornando-o num porto misto – passageiro e carga. A asfaltagem Tarrafal – Calheta, um investimento estruturante e político, a asfaltagem ex-Campo de Concentração – Centro da Vila, recuperação e nova política agrícola nos perímetros de Colonato e de Ribeira Prata e mais e melhores incentivos ao setor da pesca. Urge uma referência e uma instituição para a juventude no Tarrafal. A nível local é urgente resolver o problema financeiro, o saneamento e a redução do pessoal da câmara. Ações que começaram no início deste mandato, mas que ainda não saíram do papel. A câmara municipal deve governar à direita e para os Tarrafalenses e não com vinganças e ameaças silenciosas. Tarrafal e suas gentes em primeiro lugar. Governar é também um ato de coragem, de entrega e de servir. Por isso, a câmara municipal deve-se abrir aos seus parceiros, partilhar mais, ser mais sincera, ter mais respeito pelos munícipes e funconários, exercer bem o poder que povo lhe deu.

Pensando no Tarrafal e na felicidade dos Tarrafalenses, com a vossa permissão propomos maior fiscalização do governo à câmara até às próximas eleições e que as verbas dos grandes contratos programas não fossem transferidos pela conta comum da câmara mas sim por uma conta de investimento criada para o efeito ou diretamente para a conta dos operadores que exercem ou executam as obras no município. Que sejamos um novo rumo, nova política e à direita para que não fiquemos para trás. Que a próxima equipa, principalmente o candidato à câmara, para ganhar as eleições e governar Tarrafal seja fruto da escolha dos militantes de base, dos simpatizantes e amigos do Tarrafal. Tarrafal não pode e nem deve ficar na cauda das sucessivas avaliações e sondagens dos municípios de Cabo Verde. Temos todas as motivações e condições de estarmos no Top 5 de Cabo Verde. Parafraseando o munícipe aqui presente, a dama é de facto gosta e bonita por isso precisa de ser valorizada e promovida. Por Tarrafal, por MpD e por suas gentes.”