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sara lopes

Antiga ministra do Ordenamento do Território e ex-dirigente do PAICV acusa a direcção do partido tambarina de cometer uma grande “barraca” ao votar abstenção no dossier SOFA, cometendo a mesma gaffe aquando da aprovação da taxa sobre os lacticínios e sumos de fruta. Sobre a promulgação do diploma pelo presidente da República, Sara Lopes ironiza dizendo que Jorge Carlos Fonseca fez bem “ao decidir não consultar o Tribunal Constitucional ‘porque não teve dúvidas’, mesmo sabendo que toda a oposição manifestou sérias reservas quanto a algumas opções aprovadas pelos deputados”

Sara Lopes fez estes comentários num post publicado ontem, sábado, na sua página do facebook, onde se insurge contra a postura do PAICV na gestão deste polémico dossier. O partido liderado por Janira Hopffer Almada, note-se, anunciou que vai suscitar a fiscalização sucessiva do SOFA junto do Tribunal Contitucional, mas, para a antiga governante isso “é o minimo que pode fazer depois da barraca da abstenção na AN. Votar favoravelmente a sobretaxa sobre a importação do leite e derivados foi no minimo surpreendente. Voltou a deixar-nos perplexos quando fundamenta de forma brilhante e acutilante as suas reservas relativamente a alguns artigos do SOFA, mas no final, vota abstençao, transferindo para o PR a responsabilidade de defender os interesses nacionais e a CRCV. Errou feio, de novo”, começa por criticar Sara Lopes, para quem, a oposição “não deve actuar como Pôncio Pilatos”, e nem “estar desavisada”.

Ou seja, para a ex-dirigente do PAICV, a actual liderança de Janira Hopffer Almada teve um desempenho fraco no tratamento desta matéria, ao não se acautelar das questões que poderiam se levantar em torno da sua aprovação.

Quanto à promulgação do diploma pelo PR, Lopes é bem irónica: “O Sr. PR preferiu confiar nas suas certezas e não utilizar um recurso do sistema que certamente tranquilizaria uma parte da Nação que tem dúvidas”.

Eis o post na íntegra:

«O PAICV vai suscitar a fiscalização sucessiva do SOFA? Muito bem, é o minimo que pode fazer depois da barraca da abstenção na AN. Votar favoravelmente a sobretaxa sobre a importação do leite e derivados foi no minimo surpreendente.

Em nenhum lugar do mundo a oposição votaria uma medida destas, tal qual foi formulada. Voltou a deixar-nos perplexos quando fundamenta de forma brilhante e acutilante as suas reservas relativamente a alguns artigos do SOFA, mas no final, vota abstençao, transferindo para o PR a responsabilidade de defender os interesses nacionais e a CRCV. Errou feio, de novo.

Ora quem leu a "Grande Entrevista" do «mais alto magistrado da Nação", na verdade um mar de lamentações, chorinhos e queixinhas inconsequentes, sem nenhuma mensagem impactante, oportuna, inspiradora, digna de um Presidente a meio do segundo mandato, num ano de seca, muito dificil para a maioria dos caboverdianos, percebeu que a decisão estava tomada. O Sr. PR ratificaria o SOFA, tal qual foi aprovado, não porque nada no diploma suscitara-lhe qualquer dúvida, como disse, mas porque não ia comprar essa briga com o sistema que ajudou-lhe a ser eleito.

O rosário de lamentações e queixumes que encheram as páginas do jornal evidenciaram um PR mais preocupado com o seu papel nos processos, a sua participação em determinadas reuniões internacionais em representação do País, do que com a complexidade e importância dos dossiês em pauta, com a essência das decisões e as suas possiveis implicações. Esteve bem o Sr. Presidente ao decidir não consultar o Tribunal Constitucional "porque não teve dúvidas", mesmo sabendo que toda a oposição democrática manifestou sérias reservas quanto a algumas opções aprovadas pelos deputados da nação, mesmo sabendo que uma parte não desprezivel da sociedade cabo-verdiana tem sinceras e legitimas preocupações e reservas quanto à bondade, não do SOFA, em si, mas de alguns dos seus artigos, mesmo sabendo que há juizes do TC que têm posição contrária à que deu a maioria de aprovação ao SOFA, nos exatos termos em que foi aprovado pela AN? O Sr. PR preferiu confiar nas suas certezas e não utilizar um recurso do sistema que certamente tranquilizaria uma parte da Nação que tem dúvidas.

Ora, parece evidente que o Sr. PR prescindiu dessa consulta precisamente porque o posicionamento do TC poderia colocar-lhe numa saia justa com o sistema que não quer contrariar. Pois bem, poderia ter resolvido esta questão há muito tempo, podiam poupar-nos das queixinhas públicas, dos ditos, destidos, gaguejos e desmentidos, para no final declararem-se "Best Friends for Ever" e rumarem de braços dados a Nova York, onde podem até ser convidados para uma Coca-Cola na White House e ganhar uma selfie com o lendário DT. Até aqui nada de novo! Aliás desta vez tivemos sorte: da ultima vez que o Sr. PR disse que decidiria antes de partir para a AG das Nações Unidas, deixou ao Presidente substituto a responsabilidade de nomear os embaixadores políticos. Bom, melhorou um pouco. Mas a oposição não pode ser desavisada. A boa, acutilante e oportuna oposição é o sal da democracia. Não deve actuar como Pôncio Pilatos, quando está convicta das suas posições, nem deixar-se condicionar. É que até Deus na sua infinita bondade pode deixar-se adormecer se nada nem ninguém incomodar os seus divinos planos».

Sara Lopes

Comentários  

-2 # Luiz Nunes 25-09-2018 22:17
Criticar a implementação do SOFA parece coisa da raposa que despreza a parreira por não poder pegar as uvas...
Os Estados Unidos é um país amigo de Cabo Verde, com inúmeros investimentos a "fundo perdido" (diferente de outros paises que emprestam o dinheiro para casas e outras obras mas querendo receber e bem por tais valores...), além do que cerca de 1/3 da população Cabo Verdiana residem na América. Esse acordo é bom para os dois países, e isso é sempre o que interessa...
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+1 # Domingos Landiim 24-09-2018 23:34
Meu prezado colega jurista, Daniel Carvalho, salvo devido e merecido respeito, você nunca deve fazer um mau acordo, para depois ir ver se funciona. Por que não um excelente acordo, ab initio? Para lhe ser sincero, não gosto do acordo SOFA, nos moldes que ele está redigido, porque não acautela os interesses de Cabo Verde. É sempre uma parte a exigir tudo da outra parte e não há nenhuma reciprocidade de vantagens. Leia o acordo criticamente e vai ver que ele não é aquilo que se diz por aí. O jurista deve ser crítico até de minúcias, na minha modesta opinião, e não ir na cantilena de circunstância. Nós temos que espremer a norma na sua razão de ser e não ficar pelo floreado. Então, acha o Sr. Doutor que um soldado americano, matando aqui em Cabo Verde, mesmo que seja o Presidente da República ou Primeiro-Ministro, só deve responder perante a justiça americana? Existe equilíbrio nisto? Que raio de país é este? Haja bom senso!
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-1 # Daniel Carvalho 24-09-2018 16:17
Confesso que conheço integralmente o conteúdo do controverso texto do acordo SOFA e que tenho acompanhando os palavreados que vêm sendo salteados sobre o assunto.
Mas também confesso que ainda não dei conta de nenhum argumento avaliável, nem a favor nem contra.
Por exemplo, a Drª. Sara parece ser literalmente contra determinadas disposições do acordo,que entretanto ela não identifica e muito menos fundamenta. Assim não, especialmente para pessoas que já desempenharam altas funções neste país.
Determinadas pessoas, ou devem manter-se caladas ou apresentar posições fundamentadas.
Pessoalmente, acho que há aspectos discutíveis porque muito sensíveis mas no global concordo com o texto que do meu ponto de vista não comporta qualquer incongruência. Acordos São acordos e devem ser pontualmente cumpridos, podendo serm sempre alterados se circunstâncias supervenientes vieram a justificar.
Enquanto não me demonstrarem o problema a inconstitucionalidade, não levo a sério comentários de ninguém.
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0 # Osvaldo Lopes 24-09-2018 13:24
O 1º episódio do crime já está consumado. O 2º virá com a construção e operacionalização de estruturas militares e embaixada dos EUA á volta do palácio do Governo (isso se faz num país soberano!? Em que cidade, senão a Praia isso é permitido?!), á custa de deslocalização de escola para beira mar e do clube de golfe e ténis que merecia tratamento de fundo pois está em vias de desaparecimento por falta de dirigentes que de Santiago só buscam riqueza pessoal!
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0 # Binbirim 24-09-2018 03:08
Caso cometermos erros porque os parceiros já cometeram esses mesmos erros, entao estamos mesmo fu.......... . Que pena.
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0 # Virginia Campos 23-09-2018 21:14
Sara ta na gozo. Acaso existe alguém neste Paicv que pense? Dirigentes acusados de roubar energia electrica não podem pensar. Ora, um partido que vota abstenção, na expectativa de o PR lhe salve da vergonha não dá. Ou seja, Paicv não sabe usar o poder de "votar" "não", mas espera do PR favores políticos. Ou seja, não ratificar um acordo de manifesto interesse nacional. Ora, isso não passa de uma palhaçada deste bando de palhaços. O Paicv, tendo reservas políticas sobre este assunto, deveria exercer o seu direito de votar "não" até as últimas consequências. Parece mesquinhice esperar que seja o PR a fazer o papel de oposição ao Governo. Ao apostar numa suposta dúvida do PR para lhe salvar as suas burrices, JHA levou o troco. Bem feito!
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0 # Djosa Neves 23-09-2018 20:25
Os militantes do PAICV é que erraram forte e feio. Ou mudam a Direcção ou que se preparem para a hecatombe!! Só não vê quem não se quer incomodar.
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-4 # H2SO4 23-09-2018 14:54
Mas o que é que porocura a Sra. Sara. Sossega ,Leao. Quem nao te conhece que venha ao sal e aqui na rua do teu passado. Está moder e a roer..... cuidados com ela . Tem duas faces..... . Sopra depois morde.
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+2 # Emanuel ALFAMA 23-09-2018 13:36
CONCORDO COM A OPINIÃO DA Sra SARA LOPES.
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+2 # Jaime Miranda 23-09-2018 13:17
Estou inteiramente de acordo com a posição analítica da Dr.ª Sara Lopes. Devo dizer que, sobre a votação do leito e dos seus derivados no parlamento, a posição do PAICV, deixou-me de queixo caído e desanimado.Quanto ao SOFA, com os argumentos de que haveria normas inconstitucionais, o voto contra do PAICV, era a mais racional. Em fim paciência! Vamos indo labutando em leitos derramados.
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+2 # Artur Rocha 23-09-2018 12:43
Uma mente lúcida e coerente como poucos ainda existentes no nosso pequeno e complexo país. Quanto ao post publicado, não encontro argumentos válidos para a contrariar, feliz ou infelizmente. Estes valiosos recursos do partido da oposição pecam por uma razão, compreensível, mas pouco benéfica para o dito partido:permanecerem ao de longe vendo o partido descaracterizar-se, desacreditar-se e enfraquecer-se, sem, no entanto, mobilizarem esforços para mudar o rumo da situação. Penso ser menos doloroso experimentar novo tratamento do que depois vir ter de cortar um braço ou uma perna inteira para se manter vivo.
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+3 # Manuel de Miranda 23-09-2018 11:03
Concordo plenamente com a opinião d
Drª Sara Lopes, relativamente ao texto SOFA.
A oposisão partidária, em Cabo Verde é diferente ao resto do mundo, porquanto: Na discussão e aprovação de alguma leí que apriori
a suscita alguma dúvida, sobretudo para o Povo, vota abstenção e não contra.
Vejamos alguns exemplo:
* Aquando do aumento dos vencimentos dos titulares de cargos públicos, coisa surreal para o nosso país, que revoltou o Povo Caboverdiano;
* A sobretaxa da importação do leite e derivados;
* É agora, a hipoteca do país, com a polémica leí do SOFA;
Tudo isto, nāo é o PAICV que eu conheço.
Lamentavel!
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+2 # Amancio Gonçalves Mo 23-09-2018 10:04
Cara amiga e Camarada Sara Lopes, pesso-lhe apenas a sua permiçao para fazer minhas as suas Ilucidativas palavras
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+1 # Catarino Dias 23-09-2018 09:01
A Sara Lopes nunca foi dirigente do PAICV, foi de[censurado]da nacional pelo PAICV na qualidade de independente!
A bem da verdade uma das melhores de[censurado]das que a Assembleia Nacional.
Assim como esteve no governo do JMN como independente.
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