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O ex-primeiro-ministro cabo-verdiano José Maria Neves considerou hoje "bastante incaracterística" a situação política em Cabo Verde, com um Governo sem norte, a crescente ingerência do chefe de Estado e uma quase ausência da oposição.

"Estamos a ter alguns sinais preocupantes que levam a uma degenerescência da figura do primeiro-ministro no sistema de Governo. Há um espaço muito pantanoso e incaracterístico nas relações entre o Governo e o Presidente da República. Há cada vez mais uma interferência do Presidente da República na governação do país", defendeu José Maria Neves em entrevista à agência Lusa a propósito do primeiro aniversário da Fundação com o seu nome.

Naquela que é a sua primeira grande entrevista depois de ter deixado a liderança do Governo do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), em abril de 2016, José Maria Neves assinalou que se "percebe claramente um recuo" do primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva, perante "um avanço" do Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e o protagonismo do vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia.

Como exemplo, apontou o protagonismo de Jorge Carlos Fonseca na liderança das delegações às cimeiras da Comunidade de Estados da África Ocidental (CEDEAO), considerando que a recente derrota da candidatura de Cabo Verde à presidência da organização é tanto do Governo como do Presidente.

"O árbitro não pode correr o risco de estar a perder jogos. O árbitro tem de arbitrar o jogo. Há uma cada vez maior ingerência nos assuntos do Governo. Cada vez menos árbitro e cada vez mais parte do jogo a favor do Governo", disse.

Relativamente à prestação do executivo do Movimento para a Democracia (MpD), que sucedeu aos 15 anos dos seus governos, José Maria Neves, que não foi candidato à reeleição, considerou que, dois anos depois da entrada em funções, continua sem norte.

"Está à procura do norte e falta-lhe uma bússola. Entre a campanha eleitoral e a assunção do Governo terão perdido os instrumentos de navegação. Não se trata de navegação à vista, nem no alto mar, trata-se de navegação à deriva", disse.

Reconheceu um maior crescimento atual da economia quando comparado com a última legislatura do seu governo, que considerou ter sido penalizado pela crise internacional, mas reclama parte dos louros da retoma económica.

"Quando este Governo assume já há uma retoma da economia tanto no último trimestre de 2015 como no primeiro de 2016, e não há [atualmente] um crescimento muito superior ao ritmo de crescimento iniciado nessa altura. Houvesse outras medidas macroeconómicas hoje e a economia estaria a crescer a um nível mais elevado tendo em conta as condições que este Governo herdou", disse.

José Maria Neves lamentou que estejam a ser "desaproveitados" alguns dos seus projetos emblemáticos como as barragens, o programa de habitação social "Casa para todos" ou as políticas paras o setor do agronegócio.

Considerou, por outro lado, que as medidas anunciadas por este Governo já estavam tomadas e com instituições a funcionar.

"Muda-se o nome das instituições, faz-se um conjunto de discursos e de jogos sem que se vá ao essencial das questões", afirmou.

Para José Maria Neves, com o Governo a completar dois anos de mandato este é o momento de mudar a tónica da discussão.

"Neste momento, o debate não pode ser a comparação deste Governo com o passado. Temos de começar a discutir as políticas deste Governo - e ainda não há nada de novo para discutir -, e as políticas deste Governo com o futuro", frisou.

Questionado sobre o papel da Oposição e do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), liderado por Janira Hoppfer Almada desde 2014, o ex-presidente do partido afirma não estar a fazer militância ativa e desconhecer as propostas para "o momento político que se está a viver".

Ainda assim, não esconde a "angústia" e "frustração" pela forma como está a ser feito o debate político em Cabo Verde

"O jogo político está bastante incaracterístico em Cabo Verde e em alguns momentos estranha-me a ausência do maior partido da oposição no debate ou na chamada de atenção em relação a algumas questões políticas importantes do país", disse.

Rejeitou, no entanto, qualquer hipótese de vir a protagonizar uma candidatura à liderança partidária.

Depois de quase dois anos em silêncio, pontuado por algumas intervenções através da sua página pessoal na rede social Facebook, José Maria Neves diz ter tido oportunidade de refletir sobre os seus 15 anos de governação.

"Dezoito anos depois é muito fácil dizer em 2001 faria diferente. Claro, com as informações e os dados que tenho hoje. Se voltasse ao governo hoje há muitas coisas que faria diferente, mas infelizmente no governo não há ensaio e depois representação, vamos ensaiado e realizando simultaneamente e vão-se fazendo coisas boas e outras menos boas", disse.

Com Lusa

Comentários  

0 # Camarada Kota 17-04-2018 17:26
Se aquilo que o grande SÓCRATES DE SANTIAGO diz é verdade, fico bastante preocupado. Eu não tinha o actual Presidente da República actual por alguém com pretensão para concentrar o poder. A partir de agora vou prestar mais atenção às suas atitudes.
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+1 # SÓCRATES DE SANTIAGO 17-04-2018 11:20
O DOUTOR JOSÉ MARIA NEVES tem toda a razão. Estamos a viver, efectivamente, uma situação política especial e estranha em Cabo Verde, em que se nota uma quase total ausência da figura e das acções do Primeiro Ministro, Senhor Ulisses Correia e Silva, pois este é, quase sempre, substituído pelo seu vice e Ministro das finanças e de Administração Pública, Senhor Olavo Correia, que coordena as áreas económicas e responde pelo Governo no Parlamento. Bem ou mal, também esta é a voz do povo, o Senhor Olavo Correia tem sido até ao presente o VERDADEIRO PRIMEIRO MINISTRO DE CABO VERDE, sendo o Senhor Ulisses Correia e Silva relegado a um plano secundário, parecendo até um MARCIANO em eternas férias, algures, numa GALÁXIA qualquer, que, de quando em vez, sente saudades do planeta terra e de um país como o nome de Cabo Verde e repentinamente aparece, com um ar sorridente, para dizer aos seus e aos cabo-verdianos que ele é que é o Primeiro Ministro de Cabo Verde, embora muito ausente, apagado e triste, com um estilo um pouco extraterrestre. Por outro lado, nota-se, claramente, uma invasão do Presidente da República à esfera governamental. Este, agora, acantonado lá pelos lados do Palácio do Plateau, quer também governar, dar ordens, propor e mostrar caminhos ao Governo da República, usurpando constantemente as competências do Governo, qual mau ÁRBITRO DO SISTEMA, " TA DJUGA TA PITA". O Palácio do Plateau, com ajuda do Senhor Manuel Faustino, foi transformado no segundo Palácio do Governo. Só falta ao Senhor Presidente, Jorge Carlos Fonseca, mudar de fato e gravata para a Várzea e, com o seu inseparável amigo de peito, Manuel Faustino e o seu recente livro "ALBERGUE ESPANHOL" que ele tem lançado em todas as visitas e "regabofes" aos municípios, só falta, dizia, mudar para a Várzea e dizer alto e bom tom: Agora é que me sinto um PRESIDENTE DA REPÚBLICA POR INTEIRO, pois sou PRESIDENTE e PRIMEIRO MINISTRO DE CABO VERDE, sou que nem TRUMP e PUTIN, respectivamnete, nos EUA e na Rússia.
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0 # Djosa Neves 17-04-2018 16:34
Os habituais disparates num capitulo novelistico. Entretanto, a caravana da realidade passa por TODAS ladeiras, municipios, cidades e povoações...
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+2 # senhor tavares 17-04-2018 07:16
A vida deve ser feita de gestão responsável. O melhor meio de desenvolver o que bom há numa pessoa é através da apreciação e do encorajamento. Falar mal dos outros não faz diferença para o desenvolvimento de Cabo Verde. O Sr. JM Neves deve ter a pretensão de ser um grande empresário em vez de equacionar a possibilidade de se candidatar para coisa alguma. Os que armam em políticos devem desprender do aparelho do ESTADO. Que sejam empresários também!
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+1 # Aristocrata Bué 16-04-2018 12:22
E por que não te calas, homem? Deixa-nos ter saudades tuas. Cada dia dizes uma coisa: ora é o aumento de subsídio para ex-PM e segurança que reclamas; ora é a excessiva intervenção do PR que te apoquenta; ora é o resmungo de um de[censurado]do que é chamado pela justiça, que na tua tristonha opinião nunca deve responder pelos actos cometidos fora do exercício das suas funções parlamentares; ora é o PAICV que não está a fazer oposição. Olha, eu próprio que sempre te apoiei e nunca escondi a minha crítica à liderança de Janira Almada, agora estou com fastio das tuas sistemáticas interferências. Se continuares nesta saga de imbastável nem as presidenciais vais algum dia ganhar. Um tipo cobiçoso que cria fundação só porque Pedro Pires criou, esquecendo-se que Pires passou à reforma de vez. Agora és político retirado, só de boca para fora, e não deixa os outros trabalhar. És professor, acumulando salário com subsídio de ex-PM e gestor de fundação? Que moral tens tu para estares sempre armar-te em homem de esquerda? Que esquerda tão gananciosa e egoísta é esta? Explica-nos, se faz favor! Caramba, dá-nos uma folga durante um tempo!!!
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0 # Djosa Neves 17-04-2018 10:00
É a tal esquerda dos anúncios bazofentos, da inação governativa e das obras faraónicas, para encher os bolsos dos camaradas aburguesados, que adoram mansões e carros de luxo. Está á vista de todos (excepto do ceguinho Procurador Geral da Republica), espalhada pelas 24 cidades, por alguns outros países que tão bem conhecemos e noutros ainda menos conhecidos. É o socialismo escalavrado, cujo principio principal é a pomposa ganancia a partir do momento que se apossa das chaves dos cofres públicos.
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