Agência do Banco Cabo-verdiano de Negócios em Sal-Rei, na Boa Vista, foi assaltada esta tarde, 29, por pelo menos três indivíduos encapuzados, munidos de AKM.
Ainda não se sabe qual o valor em dinheiro levado pelos meliantes, que aproveitaram o momento dos protestos dos polícias – que, de acordo com fontes na Boa Vista estavam no Djéu em churrascada – para invadir a agência do BCN em Sal-Rei. Os autores – segundo testemunhas oculares, três e encapuzados – entraram na agência do banco cabo-verdiano carregando uma arma de guerra, AKM, e punhais.
O assalto aconteceu na hora do fecho do balcão para atendimento público e com recurso a um veículo com chapa vermelha, supostamente, pertencente à equipa que faz o levantamento predial no âmbito do MCA. A viatura, uma pick-up, teria sido roubada desde ontem.
Durante a acção, que demorou poucos minutos, mandaram todas as pessoas que se encontravam dentro da agência para deitarem no chão antes de pedirem ao gerente para abrir o cofre, que, ao que consta não chegou a ser aberto. Os meliantes levaram todo o dinheiro da caixa e também de alguns clientes que já tinham sacado dinheiro do banco.
Algumas pessoas contactadas por Santiago Magazine afirmam ter ouvido pelo menos um tiro.
Terminou a greve da Polícia Nacional (PN), resta agora fazer uma sumária avaliação e identificar as suas consequências :
O PAÍS FICOU TRÊS DIAS PRATICAMENTE SEM SEGURANÇA, MAS VALEU AO ESTADO DE DIREITO O COMPORTAMENTO E O BOM SENSO DOS CIDADÃOS . NADA DE GRAVE ACONTECEU NO PAÍS, SALVO O CASO DO ASSALTO DO BANCO NA BOAVISTA (que com ou sem Polícia acontecera antes) .
a) A greve teve uma aderência elevada a nível nacional, com a maioria ou quase todas as esquadras do país praticamente desertas, excepto o concelho de Santa Catarina de Santiago . Que não aderiu à greve, por considerá-la desnecessária e inoportuna .
Confio que o Governo já está a analizar o caso de Santa Catarina e que tire as suas conclusões politicas ;
b) Apesar da alta aderência, a greve não atingiu os efeitos pretendidos pela cor[censurado]ção e seu sindicato . Se a greve pretendia pressionar e chantagear o Governo, para aceitar as reivindicações da cor[censurado]ção, tal objectivo ficou pelo caminho . O Governo resistiu à pressão ;
c) Se aos olhos dos cidadãos, a Polícia Nacional não gozava de boa simpatia, com a greve, a falta de simpatia tornou-se quase ódio . A onda de repudio foi muito expressivo, atingindo a percentagem da aderência à greve (90 e tal por cento) ;
d) Por este motivo, atingiu-se um paradoxo, que dificilmente será sanado : a Polícia Nacional existe para dar segurança aos cidadãos e estes aumentaram a sua descrença na cor[censurado]ção policial . Existe, hoje, praticamente, um divórcio entre as duas partes . E este problema é grave, tendo em conta que, em todos os países do mundo, as comunidades são fundamentais para ajudar a Polícia, no desempenho eficiente das suas funções . Criou-se uma clivagem paradoxal e o Governo não pode deixar de considerar esse elemento ; a Polícia saiu mais desacreditada dessa greve ;
e) O diálogo entre o Governo e a Polícia Nacional não vai ser fácil, sobretudo se a cor[censurado]ção insistir na radicalização das suas reivindicações e na firmeza de posições .
O diálogo entre o Ministro da Administração Interna e a Polícia Nacional chegou quase ao fim .
A Polícia pediu a sua demissão e lançou palavras de ordem ofensivas contra a Tutela, minando assim a necessária confiança, que é exigida .
O ambiente politico ficou envenenado .
A desconfiança foi esticado ao limite e por mais que se faça um esforço de parte a parte, nunca as relações serão como dantes ;
e) A imagem e a credibilidade da Polícia e do sindicato atingiu o ponto mais baixo, o que pode dificultar o desempenho e a execução do programa do Governo, num dos seus pontos fundamentais, que é o combate à criminalidade .
Se não houver mudanças profundas quanto ao ambiente reinante, essa cor[censurado]ção vai ter dificuldades no seu funcionamento e a realização dos fins do Governo vai sofrer perturbação ;
f) Essa greve nunca devia ter existido . Parecendo que não, mas as raízes das suas consequências são e serão continuamente profundas . É como um casamento que chegou ao fim . Por mais que o casal procure restabelecer a relação, será sempre turbulento e complicado ;
g) E a situação agrava-se, quando é evidente que se misturou as reivindicações cor[censurado]tivas com motivações politicas . Esta situação é significativamente complicada .
i) Se o Governo não agir e não alterar esse estado de coisas, e com a urgência necessária, quem vai ficar mal é o país e os cidadãos . E o pior é que a sociedade sabe e sabia que a cor[censurado]ção está a todos os níveis partidarizada ; é uma situação complexa ;
j) O que é mais preocupante de toda essa complexa situação, é o facto do Governo da República ter ordenado a requisição civil, que é uma medida com suporte legal, e a Polícia Nacional e o sindicato terem literalmente caído intencionalmente na desobediência . Esta situação abala a legitimidade do Governo, põe em causa o cumprimento da lei e desafia o Estado de Direito . O Governo ficou numa situação politica e desperadamente lixada .
O Governo tem duas opções : ou fecha os olhos e finge que nada aconteceu ou tome as medidas adequadas, para repor a sua legitimidade, a sua autoridade, a autoridade do Estado, a autoridade da lei violada e, enfim, a autoridade do Estado de Direito ;
l) Se o Governo fechar os olhos, perde a legitimidade e nos próximos casos não terá como impor a sua autoridade e ninguém o respeitará . Principalmente o primeiro-ministro, como chefe do Governo, deixa de ser o que os poderes lhe confere : perde legitimidade ;
m) Por aquilo que se viu na televisão e a forma como a Direção da Polícia se argumentou, coloca-se algumas dúvidas . Não se transmitiu a necessária convicção nos argumentos, recorrendo quase sempre a evasivas e generalidades . Essa que é a verdade sentida pela sociedade ;
n) Estamos perante uma crise institucional grave ; estamos perante a situação mais grave que este Governo teve que enfrentar ; estamos perante um desafio à autoridade do Estado de Direito . O Governo saberá agir com cautela, ponderação, inteligência mas com firmeza .
E, neste caso, o papel do primeiro-ministro é determinante, para que se possa urgentemente resolver essa crise institucional .
o) Paradoxalmente, o Governo saiu politicamente reforçado, pois teve apoio dos cidadãos ;
p) O Paicv saiu de todo mais enfraquecido, desorientado, sem coerência politica, mostrando ser um partido politicamente arruinado, sobretudo após a publicação da entrevista do seu líder histórico, JMN, enquanto era primeiro-ministro, defendendo que, em circunstâncias nenhumas, a Polícia Nacional pode fazer greve .
Esta greve da Polícia Nacional fica historicamente marcada por três elementos: 1) incompreensão, distanciamento e antipatia por parte da comunidade cabo-verdiana residente e na emigração; 2) apoio oportunístico, sem sentido de estado e de responsanilidade pela oposição; 3) demonstração inequívoca de que Cabo Verde é um país de brandos costumes, inclusive gatunos.
Se o objetivo foi fragilizar o governo e criar o ambiente para a contestação social generalizada, fica claro que o objetivo não foi alcançado. Antes o seu oposto. Mais uma vez, prevaleceu o bom senso dos cabo-verdianos.
Os sindicatos que se associaram e lideraram a greve romperam, efetivamente, com o "Acordo de Concertação Estratégica" que recentemente subscreveram. Quanto a isso, lamento imenso que se ponha em causa tal acordo e se passe por cima dos interesses supremos da Nação.
Esta greve não foi uma simples greve. É muito mais do que isso. É é desta forma que deve ser compreendida.