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O mundo rural está numa situação crítica. Não choveu este ano. As sementeiras estão se definhando aos poucos. Em muitas regiões, já não há volta a dar, mesmo que chova. Talvez um pouco de pasto e recarga das nascentes de água. O mundo rural está, pois, a viver um momento particularmente difícil.

Esta situação levou a associação “Vos di Santiagu” a endereçar uma carta às entidades públicas, nomeadamente, ao Presidente da República, ao Presidente da Assembleia Nacional, ao Governo e aos Presidentes dos Municípios da Ilha de Santiago para, no imediato, tomaram uma posição no sentido de salvar as famílias rurais da ilha.

A carta, cuja cópia Santiago Magazine teve acesso, apela ao Governo no sentido de “iniciar a importação urgente de pasto e ração para salvamento de animais; a procurar o mais breve quanto possível formas de equipar as barragens que têm agua acumulada, mesmo que procurando parcerias institucionais para o efeito; e equipar vários furos construídos e por equipar, e activar os que estão equipados, porém, inactivos; a intervir junto da Electra (para religação da energia), com vista à reactivação dos furos (com água e equipados), porém, inactivos porque a energia foi cortada por causa da dívida; a activar o funcionamento dos furos equipados com sistemas, mas que se encontram inactivos; bem como a implementação de sistemas de adução de água”.

Para apoiar na materialização este apelo, a associação pede que a Assembleia Nacional “diligencie no sentido de, se necessário, produzir alguma lei que agilize a materialização do exigido nos pontos anteriores” e ao Presidente da República, o pedido vai no sentido de Jorge Carlos Fonseca “utilizar a sua magistratura de influência junto do Governo com vista a concretização dos pontos precedentes, o mais breve quanto possível”.

A associação Vos di Santiagu entende que o poder local pode jogar um papel importante aqui. Neste sentido, a associação apela aos presidentes dos Municípios da Ilha de Santiago “a se unirem, com urgência, e juntamente com os serviços desconcentrados ligados ao sector da agricultura e pecuária encontrarem soluções urgentes para acudir as necessidades de salvamento da população da ilha de Santiago, seus munícipes”.

Igual atitude devem assumir os agricultores da ilha. Estes devem “unir-se em grupos de vigilância e cuidados, com a conservação dos equipamentos dos furos, materiais e ferramentas destinadas à agricultura; e no consumo racional de energia, água e pastos”.

A carta desta organização da sociedade civil faz questão de lembrar que o mundo rural da ilha de Santiago é composto por 8 municípios, e alberga mais de 145 mil pessoas, conforme senso de 2015. Pelas contas da associação, cerca de 90% destes cabo-verdianos vivem da agricultura e pecuária, onde gastam a maioria do seu rendimento.

E é aqui é que reside o problema. Com efeito, esta massa humana está a passar por grandes apertos, tanto na questão de segurança alimentar quanto no acesso aos rendimentos.

Na verdade, em situações normais, por estas alturas “a população já começa a colher os primeiros frutos. Entretanto, este ano as coisas aconteceram de forma adversa, uma situação que se configura o pior ano agrícola dos últimos 40 anos - a última vez em que não caiu uma gota de chuva foi em 1977.

Ora, sem alternativas, verifica-se uma descapitalização das famílias rurais, em virtude de ter que se desfazer dos seus animais ao desbarato. Um quadro negro, e que pode pior porque a própria sustentabilidade da população está em risco, com a falta de pão.

Neste momento, avisa a missiva da associação, já é “visível a desnutrição das crianças nos caminhos das escolas, que viram, este ano, os seus sacrifícios agravados com a reforma de ensino em curso, por terem de andar mais quilómetros para chegar as escolas, que antes lhes estavam à distância de passos”.

Recorde-se que o Governo está a preparar um plano de emergência para acudir das famílias rurais no valor de 850 mil contos. Este plano abrange salvamento de gado, abastecimento de água e emprego para as famílias mais carentes do meio rural.Estima-se que vivem no mundo rural de Cabo Verde cerca de 16 mil e 200 pessoas. Se assim for, cada faília terá direito a pouco mais de 4 mil escudos mensais do orçamento do plano em preparação.

Comentários  

0 # SÓCRATES DE SANTIAGO 04-11-2017 15:52
Agora sim! Assim é que quero ver a nossa querida Associação "VOS DI SANTIAGU". Activa, pulsante e com voz. A situação por vós narrada e por nós presenciada "in loco" é, de facto, muito grave e trágica. Que quem de direito comece já agir, com acções concretas no terreno, antes que a crise se transforme em calamidade. Em Cabo Verde e em Santiago, particularmente, temos uma má lembrança das várias fomes provocadas por sucessivas secas, mormente as de anos 20, 30, 40 e 50 do século passado, fomes essas que ceifaram vidas a milhares de cabo-verdianos, na sua maioria, do interior de Santiago, obrigando muitos a emigrarem para São Tomé como contratados. "Quo vadis" o Governo? "Quo vadis" o Ministro da Agricultura? "Quo vadis" Os Presidentes das Câmaras Municipais de Santiago?
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-1 # de casa 31-10-2017 16:23
Um saco de racao custa 2.200$00 e alimenta uma vaca durante 11 dias
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0 # Filomeno Rodrigues 31-10-2017 15:49
Deve o Governo antecipar o periodo de abertura de fabrico de aguardente, uma vez que os subprodutos, bagás e fodjada de cana são utilizados na alimentação de animais, para além de gerar algum emprego. A ração animal pode ser disponibilizada imediatamente,mediante uma concertação com as Empresas do sector pecuário, que a mantém em Stocks, evitando assim a venda ao desbarato dos animais..
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