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Polícia Nacional de Cabo Verde 

O Ministério Público (MP) abriu, no último ano, 153 processos por indícios de crimes cometidos por agentes da autoridade, a esmagadora maioria da Polícia Nacional, traduzindo-se num aumento de 38% face a 2019, segundo dados oficiais.

De acordo com o relatório anual sobre a situação da Justiça (ano judicial 2019/2020), elaborado pelo Conselho Superior do Ministério Público (CSMP) e ao qual a Lusa teve acesso, entre o número atual de processos contra agentes da autoridade, 90,8% visam elementos da Polícia Nacional, 5,9% guardas prisionais e 3,3% da Polícia Judiciária.

No último ano judicial (01 de outubro a 31 de julho), os serviços do MP registaram 153 novos processos “por indícios de crimes cometidos por agentes de autoridade”, mais 42 processos face ao ano judicial anterior (+38%).

Esse volume processual juntou-se aos 219 que estavam pendentes, transitados do ano judicial 2018/2019. Desse total, segundo o MP, foram resolvidos 59 até 31 de julho, pelo que o ano judicial iniciado em 01 de outubro último começou com 313 casos pendentes.

“Verifica-se, assim, que o número de processos resolvidos foi inferior ao número de processos entrados, uma diferença de 94 processos, contribuindo para o aumento de pendência em relação ao ano anterior, na ordem dos 42,9%”, aponta o MP, que não tipifica, neste relatório, o tipo de crimes imputados aos agentes da autoridade.

Cabo Verde tem em curso dois processos-crime mediáticos envolvendo agentes da Polícia Nacional, um dos quais o homicídio de um agente, em outubro de 2019, na Praia, atingido a tiro por outro colega.

Um segundo caso envolve três agentes da Polícia Nacional na esquadra de Santa Catarina, também na ilha de Santiago, implicados num crime de agressão sexual a uma mulher que estava detida.

O parlamento discute na quinta-feira, 29 de outubro, o estado da Justiça no país, abordando nomeadamente este relatório do MP.

Neste relatório, no âmbito da relação com as autoridades policiais, a quem delega competências de investigação, o MP aponta a necessidade de um reforço, pela Polícia Nacional, dos elementos afetos, em regime de exclusividade, à investigação criminal, a nível nacional, “fazendo funcionar em todas as comarcas núcleos de investigação criminal”.

Além disso, é defendida a instalação da Direção Central de Investigação Criminal da Polícia Nacional, bem como a nomeação do seu diretor, “conforme previsto na Lei Orgânica” daquela força policial, e a afetação de “mais elementos à investigação criminal”.

É defendido igualmente que a introdução de uma “gestão por objetivos e para resultados nos órgãos de polícia criminal de competência genérica”, fixando “objetivos qualitativo e quantitativo que devem ser alcançados em cada ano judicial, de modo a complementar a forma de trabalhar do Ministério Público”.

Com Lusa

Comentários  

+1 # Alécio Romão 29-10-2020 12:46
Enquanto não tivermos um órgão independente, talvez uma Corregedoria da Polícia, sob tutela do Ministério da Justiça, mas independente em sua atuação, e superiormente hierárquica à Polícia, trabalhando em colaboração com a PJ, mas responsável pela gestão das provas produzidas, e com um bem equipado laboratório forense, existirão probabilidades de termos "juízes em causa própria" nos casos de alegado abuso ou corrupção policial. Os casos denunciados são na maioria das vezes objeto de investigação interna e creio ser muito notória a desconfiança do cidadão nesses casos. Reparemos por exemplo no caso do preso que foi espancado na cela da BAC, ao qual o comendante veio, na mesma noite e antes de qualquer investigação, dizer que o indivíduo morreu debida a "baixa glicémia" e que teria sido conduzido em vida ainda ao hospital da Praia! Ora, veio a confirmar-se que a causa da morte teria sido violência, constatado pelo médico-legista que o indivíduo tinha "a maioria dos órgão internos "pisados" por golpes violentos de cassetete e que apresentava hematomas por todo o corpo" cujo formato condiz com as cassetetes da polícia". Aquele comandante devia ter sido responsabilizado pela sua ligeira defesa em prol do seu subordinando e reformado cumpulsivamente (creio que só os coitados são despedidos e mandados pra cadeia, isso já todos sabem). Para além do caso do indivíduo que terá "saltado" da viatura policial (e apresenta uma contusão na occipital, isto é, a parte traseira do cráneo (o que é muito estranho pra uma pessoa que salta de uma viatura numa rampa, de frente (teria ele saltado de costas?) Ora a própria PN diz que não se consegue abrir a carroceria daquele veículo por dentro, o que torna essa explicação mais estranha ainda...), mas enfim, teorias são apenas isso. Meras e apenas teorias. Temos ainda caso do próprio comandante da PN no caso "Tútu" a dizer que a morte do agente teria sido "acidente". Creio que muito parte pouca gente seria capaz de confiar, caso a investigação lhe fosse confiada, que ele "queimaria" um dos seus... Se não se tivesse provado que o "suspeito" detido a priori fosse inocente, isso aconteceria? Creio que já é tempo dos tribunais deixarem de confiar em provas e evidências produzidos exclusivamente pela polícia, em prol da justiça efetiva, para que voltemos a ver esta e sintamo-nos seguros, e não ameaçados, como é o caso de muita gente que já foi, alegadamente, vítima de agentes os deviam proteger e que eles mesmos pagam, através dos impostos a que o Estado vai, ao bolso de todos nós.
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0 # Emanuel Delgado 28-10-2020 19:33
Muito preocupante.
A policia deve ser um. aliado do cidadão.
É o que esperamos.
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+2 # santos 28-10-2020 18:03
importante sempre trazer essas noticias, seria mais interessante saber das queixas contra os outros proficionais, pricipalmente os medicos, procuradores e juizes, com queixas a expirarem o prazo nos tribunais. Desafio lançado ao Santigo Magazine.
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+4 # MIA GATO 28-10-2020 12:25
Estes casos de abusos da policia podia até ser maiores se tivesse um promotor da justiça nos comandos das esquadras. agora, o que não se entende é que a policia ignora os abusos do thugs, traficantes, motoqueiros barulhentos, etc. mas consegue abusar nas pessoas de bem. só neste projeto de país mesmo.
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0 # Terra 27-10-2020 21:55
Hagora nao e policia sao funcionarios
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