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Espírito Santo

O provedor de Justiça António Espírito Santo Fonseca diz-se “não disponível” para um segundo mandato. Em declarações à Inforpress, Espírito Santo Fonseca afirmou que em Maio manifestou a sua indisponibilidade ao presidente do Parlamento, assim como aos líderes dos principais partidos políticos e ao próprio Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca.

António Espírito Santo Fonseca pretende, depois de concluir o mandato, escrever as suas memórias e dedicar-se às organizações da sociedade civil. Militar nas fileiras dos partidos políticos, segundo ele, “está fora de questão”.

António Espírito Santo esteve na linha da frente da fundação do Movimento para a Democracia (MpD) que, em 1991, venceu as primeiras eleições democráticas em Cabo Verde, tendo sido eleito deputado nas listas desse partido político e, mais tarde, exerceu as funções de presidente da Assembleia Nacional.

Conforme referiu na entrevista, olhando para trás, congratula-se com o facto de o provedor de Justiça ser hoje um “órgão instalado” e com uma “procura crescente”, que passou de uma média anual de centena e meia de procura, nos primeiros três anos, para mais de duas centenas.

Desde a sua posse, em Janeiro de 2014, a esta parte, recebeu 781 comunicações, sendo que 533 foram admitidas como queixa, 236 não foram aceites e 12 encontram-se em análise preliminar, conforme revela o último relatório do seu mandato entregue em finais de Junho ao Parlamento.

Por outro lado, registaram-se 37 queixas provenientes de cidadãos estrangeiros, todos residentes em Cabo Verde, seis das quais entradas neste ano de 2018.

“Há uma procura por parte dos cidadãos cada vez maior de solução para situações de injustiça, pela via informal, recorrendo ao provedor de Justiça”, indicou, acrescentando que as pessoas querem mais celeridade na decisão sobre os seus problemas.

No entanto, prossegue, é preciso decidir que se quer um provedor de Justiça com “os poderes completos”, isto é, para “desempenhar completamente a sua missão no quadro do Estado de Direito, o que também “significa meios para responder às solicitações dos cidadãos relativamente à conformidade constitucional de algumas leis”.

Deixou transparecer que já foi desafiado por alguns queixosos em relação à constitucionalidade de algumas normas jurídicas, o que o levou a solicitar uma fiscalização junto do Tribunal Constitucional.

Certos casos chegados ao provedor de Justiça, assegura Espírito Santo, exigem uma investigação e no final da qual o queixoso poderá dirigir-se ao Ministério Público, se se verificar “indícios fortes e credíveis” de irregularidades e ilegalidades que diz respeito sobretudo a crimes.

“Até agora não há meios para fazermos isso”, queixa-se António do Espírito Santo Fonseca, para quem, num Estado de Direito, “o provedor precisa desses meios”.

Instado se a falta desses recursos o tem desmotivado, respondeu nesses termos: “Não, não me desmotivei”.

Deixa, porém, transparecer que a Associação Africana de Provedores de Justiça (AAPJ) recomenda que estes façam apenas um mandato, mas que não coincida com uma legislatura de cinco anos, quer dizer, propõem que seja de seis anos.

“É claro que estão a referir-se aos provedores de Justiça já consolidados. No caso de Cabo Verde é um órgão que acaba de ser instalado”, comenta, mas para ele “um mandato de cinco anos chega”.

Depois de terminar o seu mandato, vai escrever as suas memórias e, eventualmente, prossegue, estará disponível para “uma intervenção política de cidadania, desde que isso não signifique o alinhamento com partidos políticos ou alinhamento para candidaturas políticas”.

“Gostaria de poder ter relações com as organizações da sociedade civil, dialogar contraditoriamente com associações e outras que entendam ter intervenções cívicas em Cabo Verde. Como diz o outro, eu quero andar por aí e mais nada”, concluiu.

Para ele, a política não se esgota na actividade partidária ou na competição ao cargo.

A eleição do novo provedor de Justiça, por lei, deve ocorrer no final do presente ano.

É um órgão independente, eleito pela Assembleia Nacional, com dois terços dos votos dos deputados presentes, o que, a priori, exige uma negociação entre as bancadas parlamentares do Movimento para a Democracia (MpD-poder) e a do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV-oposição).

A sua atribuição essencial é a defesa e promoção dos direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos dos cidadãos. Compete a esta instituição assegurar, através de meios informais, a justiça, a legalidade e a regularidade do exercício dos poderes públicos.

Com Inforpress

Comentários  

0 # Daniel Carvalho 30-07-2018 21:27
Salvo devido respeito para com os articularas comentaristas, as tais comparações não fazem sentido.
António Espírito Santo provou ser um Homem com princípios muito sólidos e que estará de desistir das suas funções, talvez porque está sentie-se inútil. Ele não tem poderes próprios, não tem competência própria para decidir nada e esse facto coloca-o numa situação ingrata para um Homem da sua verticalidade.
Contrariamente, um Procurador Geral da Republica num sistema como o nossa, é porventura o Homem com mais poderes no sistema, apenas "comparável" ao Primeiro Ministro.
Se JM declinou o convite para um segundo mandato, não tenho conhecimento, mas em relação ao actual PJ, acredito tratar-se de uma desilusão, pois CABO VERDE NÃO É UM ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO, nos termos plasmado na CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Se alguém quiser debater esse assunto comigo, estarei sempre disponível, mas preferencialmente num debate centralizado e dirigido.
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0 # Porto Madeira 30-07-2018 18:46
Antonio Espírito Santo, santantonez de gema mas com alma de caboverdiano. Um homem cujas características são uma raridade no mundo das altas persolalidades que temos por estas ilhas. Com pelo menos 10 Espíritos Santos na política, este país estava num outro patamar muito mais avançado, principalmente em termos de ética, transparência, legalidade e justiça social. ESTE MERECE RECEBER A MAIS ALTA CONDECORAÇÃO AINDA EM VIDA!
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0 # Badiu di fora 28-07-2018 19:02
Oh Zebedeu Maneta, pelo amor de Deus! Comparar António Espírito Santo com Alfredo Veiga e Júlio Martins?! Isto é coisa de louco. A.V. saiu dos TACV ou CV Airlines, conforme quiserem, podre de rico, contribuiu para dar aquela empresa "na pedra", foi criar a sua própria empresa e hoje é um dos homens mais ricos do país, não por mérito, mas sim porque neste Cabo Verde miserável, quem mais rouba é que é Rei. Isto sem falar da história de leite e Yogurte Mimo de Olavo-Ministro, cujo A.V. é um dos protagonistas. DEFINITIVAMENTE, ALFREDO VEIGA E ESPÍRITO SANTO NÃO SÃO COLEGAS! O outro, J.M., não lhe restava outra opção a não ser deixar o cargo de PGR, porque sentiu o cheiro da morte, em resultado das falcatruas que fez, e resolveu abandonar o país às pressas, fixando definitivamente a sua residência algures entre Lisboa e Timor-Leste. Ou seja, ele tratou-se de salvar a sua pele e da família. Portanto, J.M. E ESPÍRITO SANTO, TAMBÉM NÃO SÃO COLEGAS. Por favor, não misturar alhos com bugalhos. Ponto final!
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0 # Uma pessoa de bem 28-07-2018 04:48
Um grande homem, humilde, de trato fino e adepto da Justiça e da boa gestão da coisa pública. Pode-se dizer que ele cumpriu o seu papel na instalação e funcionamento da Provedoria de Justiça que, durante anos, não passava de letra morta na Constituição. Tem demonstrado o seu firme posicionamento em relação a aspetos importantes, doa a quem doer, como, por exemplo, na questão do parquímetro (Plateau) que tem corrido muita tinta e que o Provedor tem se posicionado ao lado dos cidadãos. Que o próximo tenha pelo menos o mesmo perfil do Eng.º António Espírito Santo.
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0 # Zebedeu Maneta 27-07-2018 18:34
Isto que é uma raridade ninguém comenta. Ah Cabo Verde! Em toda a história do nosso país independente só três pessoas tiveram a mesma hombridade de António Espírito Santo: Alfredo Carvalho, quando abandonou os TACV, Júlio Martins Tavares, recusando o cargo de Procurador Geral da República, depois de nomeado e publicado no B. O., Rosa Vicente, deixando o cargo de Presidente da Comissão Nacional de eleições e agora este grande senhor, António de Espírito Santo. É de bater palmas, sem dúvidas nenhumas. E sobretudo em África que todos conhecemos. Num país em que alguns perdem três eleições consecutivas e ficam agarrados ao cargo, tentando desviar atenção das pessoas, procurando culpados, outros dos sindicatos que tanto criticam os políticos passam quarenta à frente da instituição até entrarem no caixão, e há até uns descarados que dizem: só mais um mandato à frente do partido, se não tiver X fasquia eleitoral vou me demitir. Depois, calam-se, como se a palavra de um dirigente político fosse vento ou água a correr na ribeira. E há uns que são ainda mais descarados e dizem: Se eu sair quem é que fica a substituir-me? Etc. etc. Qualquer truque serve para agarrar o cargo até morrer ou até dar com a instituição na pedra.
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