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Garzon

O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón (foto) acusou os Estados Unidos da América (EUA) de “instrumentalizarem”, por razões políticas e eleitorais, a extradição do empresário colombiano Alex Saab, acusado de ser testa-de-ferro do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e detido em Cabo Verde.

“Os Estados Unidos estão a instrumentalizar a jurisdição cabo-verdiana para alcançar um objetivo político na sua guerra particular, na sua guerra económica e guerra jurídica, contra a Venezuela e todos os seus altos responsáveis”, afirmou Garzón, membro da equipa de advogados de Saab, em declarações à RCV na quinta-feira.

Cabo Verde “não pode permitir esta vocação expansiva para atingir fins políticos através de mecanismos de persecução jurídica”, sublinhou o antigo magistrado, considerando que “os factos que imputam [ao empresário] são claramente inconsistentes”.

Alex Saab, com 48 anos, foi detido em 12 de junho pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA.

A detenção foi classificada pelo Governo da Venezuela como “arbitrária” e uma “violação do direito e das normas internacionais”, tal como as “ações de agressão e cerco contra o povo venezuelano, empreendidas pelo Governo dos Estados Unidos da América”.

Saab era procurado pelas autoridades norte-americanas há vários anos, suspeito de acumular numerosos contratos, de origem considerada ilegal, com o Governo venezuelano de Nicolás Maduro.

Em 2019, procuradores federais em Miami (EUA) acusaram Alex Saab e um seu sócio, por suspeita de operações de lavagem de dinheiro, relacionadas com um suposto esquema de suborno para desenvolver moradias de baixa renda para o Governo venezuelano, que nunca foram construídas.

O Governo de Cabo Verde e o Tribunal da Relação do Barlavento, a quem competia a decisão de extradição, já aprovaram a mesma no passado dia 31 de julho. A defesa de Saab manifestou, no entanto, a decisão de recorrer para o Supremo Tribunal do país.

“Iremos demonstrar aí o caráter político deste caso e a necessidade das autoridades judiciais de Cabo Verde entrarem a fundo na realidade”, afirmou Garzón.

“Eu sei que é difícil compreender a magnitude do confronto dos Estados Unidos contra a Venezuela, mas aqui está em jogo a vida e a liberdade de uma pessoa em relação a quem, até agora, uma única das acusações que os Estados Unidos lhe fazem”, prosseguiu.

A defesa de Saab, disse ainda Garzón, vai “exercer todos os seus direitos e utilizar todos os mecanismos nacionais e internacionais para que a extradição não se produza”, evitando assim que o Presidente dos Estados Unidos (Donald Trump) “obtenha os ganhos eleitorais e políticos com este caso”.

Na opinião do antigo juiz espanhol, os Estados Unidos, que têm eleições presidenciais em novembro, nas quais Trump disputa a sua reeleição, estão a impor a sua vontade à Venezuela e a Cabo Verde.

“Não se pode renunciar ao princípio de reciprocidade, como fez a senhora ministra da Justiça de Cavo Verde (Janine Lélis) em relação aos Estados Unidos”, defendeu Garzón.

“Se [Saab] em vez de ser, como dizem os meios de comunicação, o suposto testa-de-ferro do Presidente Maduro, a acusação fosse da Venezuela contra o suposto testa-de-ferro de Donald Trump, o que faria Cabo Verde? Receio que não fizesse o mesmo”, alegou o ex-magistrado.

Garzón indicou ainda que a estratégia da defesa se centra, por agora, no recurso para o Supremo “contra a decisão de extradição arbitrária”, ainda que tenha a intenção de recorrer “a outras instâncias jurisdicionais internacionais no momento oportuno”.

Com Lusa

Comentários  

0 # Maria Fortes 15-08-2020 04:26
Ainda a procissão vai no adro ou seja o epílogo da novela "Detenção e Extradição de Alex Saab" está longe de chegar.
Este caso começou com a exposição de Alex Saab como uma vítima dum complot americano com a única finalidade de destituir Maduro.
Com o desenrolar dos acontecimentos a defesa de Alex Saab recorreu a uma outra estratégia e tenta através duma carta dirigida ao Primeiro Ministro subornar o Governo com a promessa pública e irrealizável duma ajuda 100 vezes superior à ajuda que os Estados Unidos já deram a Cabo Verde. A pergunta agora é: - Quem dá mais! Aliás e como diz o ditado : - "Quando a esmola é grande o pobre desconfia."
Agora entramos noutra fase ou seja a fase de ameaças diplomáticas e outra fase a de chantagem acusando bastante tardiamente as autoridades policiais de roubo de vinte mil dólares. É também estranho e diga-se pouco normal e provável que um multi -milionário não esteja em posse de vários de cartões de crédito, viajando com dinheiro vivo numa maletinha como se fosse um caixeiro viajante ou como se tratasse de um simples comerciante entre ilhas.Também a equipa de defesa cabo-verdiana não tem poupado esforços para recrutar e mobilizar a opinião pública através dos órgãos de comunicação social. Recentemente os brasileiros acusados de tráfico de droga tiveram mais sucesso com essa táctica. Foi pena e aqui Garzon deu uma grande lição de Direito Penal à equipa de defesa cabo-verdiana de Alex Saab que este caso não está na alçada do Tribunal Penal Internacional. Se todos esses métodos, se toda essa táctica falharem é muito provável que Venezuela vai arriscar com uma operação relâmpago militar com Comandos Especiais para resgatarem Alex da prisão na Ilha do Sal.
O que seguirá não atrevo a prognosticar. É simplesmente um segredo dos deuses ou melhor dizendo das partes interessadas e com um desfecho imprevisível.
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0 # toto 14-08-2020 18:07
Trump não emite mandato de captura , pq nos EUA os três poderes são independente . Segundo o artigo este foi emitido pela procuradoria da Florida p "lavagem de dinheiro " ,porem em carta, o Sr Alex S.Moran reconhece q não pagou o credito (?) como q tb não lhe ofereceram alternativa (?), então, pergunto o sr esta com divida ou (?). Alguém pode explicar esta parte Jurídica para entender de q e' acusado ?
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0 # Alécio Romão 18-08-2020 10:23
Essa de que "Trump não emite mandato de captura" lembra-me a de um indivíduo, dono de uma empresa unipessoal, a dizer a um credor que "ele não devia um tostão" mas sim a empresa! Vender os 3 poderes dos EUA como independentes? " Devemos mesmo, a esta altura do campeonato, vender a ideia de que há algo que, querendo, não conseguiria Trump Fazer? (até porque estou curioso sobre quem o compraria) Esse mesmo senhor que despediu o Diretor do FBI por ter seguido com o processo de acusação contra ele, no caso da (alegada) fraude nas eleições (e alegadamente com a ajuda da Rússia) e elogiado um ditador? (que é o que Putin é) Talvez não nos devamos esquecer que os procuradores nos EUA são nomeados pelo presidente, com aprovação pelo senado, do qual ele detém a maioria partidária... Melhor é não comentarmos mais nada, e nem armarmos em "Paladinos da Justiça" numa luta entre leões!
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-4 # M de Souza 14-08-2020 16:22
Esse senhor deveria era ter em atenção o que se passa no país dele. País esse que "oferece" a nacionalidade a todos os milionários do narcotráfico das ex colónias espanholas na América do Sul e Central. Ele que respeita Cabo Verde como nação livre e independente e que vá a procura do paradeiro do Rei JC. A Espanha é um dos países mais corruptos da Europa ao nivel da Nigéria e do Brasil. Portanto ele que vá dar lições de moral lá pá "xtocha".
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0 # Alécio Romão 18-08-2020 10:34
Assim como estamos preocupados nós com o que se passa em Cabo Verde, onde os políticos fazem o que lhes dá na pilha, e fica por isso mesmo... E quem nos pagaria por isso? Estamos mesmo aqui todos a minimizar, menosprezar e desprezar um senhor, brilhante advogado, que está aqui a fazer o seu trabalho? e até a desprezar e falar mal de um país, como a Espanha, que nada tem a ver com a questão em pauta, apenas por conta disso? Não terá o detido direito a defesa? Não devemos antes deixar que o Estado e seus representantes se defendam? Ou vamos mesmo continuar sendo "caixas de ressonância, sem ideias nem convicções, fechando os olhos ao mal, quando vem do nosso partido/governo, mesmo sendo nós as vítimas e só vendo esse mesmo mal, quando praticado por terceiros e partidos a nós desafectos?
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