Lamentavelmente, não houve mudança de governo em 2016 mais sim mudança de governantes. Não foi para isto que o povo votou.
A pobreza extrema e a criminalidade de todos os tipos alastram-se incontrolavelmente por todas as Ilhas de Cabo Verde. O índice de crimes poderá ter diminuído, mas a violência dos crimes aumentou.
Todavia, não se notou ainda nenhuma sensibilidade e/ou capacidade, por parte do actual Governo, no sentido de reverter a situação.
Os resultados mostram claramente que os esforços envidados, no sentido de combater a pobreza em Cabo Verde, têm vindo a produzir efeitos contrários. Muitas famílias já não conseguem gerir os fracos recursos que têm, os pobres vão ficando mais pobres enquanto vão surgindo alguns “ricos de última geração “que são os verdadeiros beneficiários desses programas.
O Governo tem conhecimento deste fenómeno, mas não tem mostrado interesse em rever as suas políticas sociais e económicas.
Num país pobre como Cabo Verde, quando surge um “rico” que nunca trabalhou na vida, corresponde a mil pessoas que ficaram mais pobres. A lógica disto é simples, como o país não tem uma economia de mercado, não produz nada e importa quase tudo, o pouco dinheiro existente vai-se acumulando nos bolsos de alguns, em vez de circular livremente no mercado criando empregos, agitando o mercado interno, aumentando a produção e acabando por promover a exportação de excedentes.
Cabo Verde é um caso raro. Em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Aproximadamente 150.000 Caboverdeanos, 1/3 da população do país, vivem no limiar da pobreza. Na generalidade a pobreza é um fenómeno sem fronteiras. Está directamente relacionada com a vulnerabilidade económica de vários países cujos governos pouco ou nada fazem para debelar a situação, como é o nosso caso. Esporadicamente surgem algumas medidas cosméticas para acalentar os ânimos e fazer o boi dormir, e é só.
Sinceramente, não gostaria de incluir Cabo Verde neste universo, mas, lamentavelmente, não estamos satisfeitos com o que está passando neste nosso país. Um desequilíbrio social abismal. Dois mundos diferentes em que se tornaram visíveis as fronteiras separando a pobreza da riqueza ostentada por muitos que nunca fizeram nada na vida, a não ser gravitar à volta do poder e aproveitar dos benefícios inerentes.
Tenho a consciência da realidade económica de Cabo Verde. Erradicar a pobreza de um país não acontece de dia para noite, e nem é possível resolver esses problemas à martelada. Todavia, a minha indignação prende-se com a falta de sensibilidade dos governantes em relação à situação socio-económica extremamente caótica que se vive em Cabo Verde. Estou convencido de que os sucessivos governos não deram o devido tratamento a este fenómeno social.
Sistematicamente têm-se vindo a escudar-se nos factores conjunturais para justificarem a manifesta incapacidade em gerir este dossier. Em várias sociedades existe a chamada pobreza “culturalmente” induzida. No nosso país a pobreza é economicamente imposta.
Neste momento, o Governo tenta defender-se alegando uma falsa diminuição das bolsas de pobreza em Cabo Verde. Para o efeito, os governantes apresentam dados fabricados em laboratórios que felizmente não convencem a ninguém.
Fazendo uma prudente análise com base em indicadores reais colhidos no dia-a-dia da vivência da nossa gente, estou plenamente seguro daquilo que digo. Como é possível termos nestas desafortunadas Ilhas uma classe social a ostentar riqueza, vivendo à custa da miséria dos seus irmãos, e esbanjando os nossos fracos recursos, enquanto temos crianças mal nutridas nas escolas, centenas de outras mendigando pelas ruas dos maiores centro urbanos, pessoas a viver das lixeiras (cidades do Mindelo e da Praia), adolescente a viver na rua ao deus dará, trabalhadores de hotéis de cinco estrelas a viver em barracas (Ilhas do Sal e Boavista), centenas de família que levam a panela ao lume de três em três dias, nomeadamente nas zonas periféricas das cidades do Mindelo, Praia e vários povoados do interior de Santo Antão, Santiago e São Nicolau, várias famílias no Fogo e Brava a depender dos poucos dólares enviados por familiares nos Estados Unidos, milhares de jovens desempregados optando pela criminalidade de subsistência. Como é possível a juventude viver sem emprego e fora dos parâmetros da delinquência juvenil? Completamente impossível!
Num país economicamente débil, vivendo de empréstimos e ajudas externas, com uma dívida pública fora dos parâmetros convencionais, um índice de desemprego a atingir proporções alarmantes, devia-se primar pela contenção das despesas públicas, combater rigidamente a corrupção institucional que já se liberalizou no país.
O desencanto é total e o cenário deve ser revertido o mais rapidamente possível. Precisamos de governantes capazes, e com coragem de enfrentar os problemas que afligem a nossa sociedade, se realmente pretendemos construir um legado que sirva de orgulho às gerações vindouras.
Digo isto porque estou completamente desiludido com o desempenho do actual Governo que ainda não conseguiu acertar a marcha. Os 15 anos de oposição ao anterior governo não contribuíram para melhorar o desempenho político do Partido que hoje governa Cabo Verde.
Lamentavelmente, não houve mudança de governo mas sim mudança de governantes. Não foi para isto que o povo votou em Março de 2016.
O habitual abraço de fraternidade a todos, de Santo Antão à Brava.
Mindelo, 3 de Novembro de 2020.
* Artigo original publicado pelo autor no facebook
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O Sr. tem razão e eu também já pensei assim, mas hoje não tenho essa opinião, depois de participar em várias campanhas. Infelizmente, os "políticos" deram e estão a dar cabo deste povo. Hoje, na minha opinião são poucos os que votam com olhos postos num futuro melhor para o país e, consequentemente, para o povo. Veja um exemplo, em Santa Catarina, o MpD "ganhou as eleições", mas foi uma vitória ARRANCADA À FORÇA DO DINHEIRO. É dinheiro que nunca mais acabava! E desta vez, para além do dinheiro, do cimento e do ferro, entrou na onda também a distribuição de LEITÕES! Está a ver?
Portanto, o povo hoje vota muito em função do que lhe é dado na hora. Não tenhamos ilusões! Estamos completamente corrompidos nesta terra. Se é possível fazer surgir um novo CABRAL para libertar o povo, que surja porque estamos mal.
E também a propósito do pedido de perdão das dívidas propositadamente contraídas quando os sucessivos governos sabem e sabiam que não estavam nem estariam em estado de as liquidar. Se a situação continuar não há outra solução para os Países credores do que colocarem Cabo Verde sob curatela.
«Depois de tantos anos a gastar dinheiro em programas sociais não sabemos quão efetivos foram porque há muito poucos dados», disse Rob Swinkles.
Mister Rob Swinkles a sua pergunta retórica como deve ter observado bem assim como outros observadores responsáveis das organizações internacionais devem ter constatado não é tão difícil de responder.
Como é que se explica e se justifica a riqueza exibida pornograficamente pelos políticos e pelas elites gravitando à volta do poder?
Perguntarei donde é que vieram todas essas mansões, todos esses carrões, todo esse luxo que muitos orgulhosamente e sem o mínimo de escrúpulo ostentam? A maioria não herdou pois os pais tinham muito pouco para deixar e a maioria não trabalhou tão arduamente para justificar tal acumulação de riqueza num tão curto espaço de tempo.
Mister Swinkles não é por acaso que não há dados sobre o encaminhamento dessas ajudas sociais.
E também não é por acaso que não vão haver dados no futuro pois a ganância e o egoísmo incontrolável apoderou-se de nós. O fosso entre os que "têm muito e os que nada tem vai sem dúvida aumentar cada vez mais". E o pior ainda é que o número de cleptocratas, aumenta cada dia mais na razão inversa dessas ajudas internacionais.
Na verdade o crime em Cabo Verde compensa e em especial para os de colarinho branco que estão confiantes na sua impunidade.