Pub
Por: J. F. Monteiro

João Francisco 

Uma breve reflexão sobre os gastos realizados na campanha eleitoral que acabamos de assistir, leva-me a retroceder a uma conversa à imprensa, por ocasião da conferência “Master Class”, realizada na tarde do dia 17 de julho de 2019, quando o ministro das finanças disse que “Cabo Verde já tem dinheiro que não acaba”. Desta meditação saiu-me uma inquietação de forma natural e espontânea:

De onde proveio tanto dinheiro para financiar as campanhas eleitorais dos dois maiores partidos da cena política nacional “o MpD e o PAICV”?

O país, recorda-se, viveu 3 anos de seca severa com zero produção de milho e de feijões nas principais ilhas agrícolas, onde a maioria da sua população depende diretamente dessas produções para o sustento das respetivas famílias. Muitos gados pereceram e ainda vários agricultores detêm em seus poderes senhas para aquisição de rações que não foram utilizadas dada à falta de meios para a comparticipação, por estarem desempregados e, consequente, sem recursos para tal. Entretanto, não apareceu dinheiro para os acudir em tempo de aflição.

Para agravar ainda mais a situação, no início deste ano, a pandemia de covid 19 afetou o Arquipélago, à semelhança do que aconteceu no mundo inteiro e assistimos a uma perda catastrófica do emprego e de rendimento das famílias. O governo tentou minimizar a situação, mas a gestão da crise em pouco ou nada remediou a situação. Daí, faltou dinheiro para acudir o povo em situação real de aflição. Neste quesito, a distribuição de subsídios anunciado pelos governantes a empresas e comerciantes informais, segundo os pseudo beneficiários, foi manifestamente insuficiente e ficou marcada pela preferência de alguns e exclusão de outros, mediante critérios intransparentes e inexplicados até ao momento.

Agora, nessa campanha eleitoral para eleger órgãos do poder local, aparecem esses dois partidos políticos a exibirem riquezas descomunais “jamais vu” em campanha eleitoral em Cabo Verde. Em face à situação porque vive o País, existe a percepção clara que existe corrupção, doações irregulares ou fundos ilegais como tem sido denunciado em várias campanhas eleitorais. Essas práticas criminosas, como todos devem saber, vêm exercendo uma preponderância imerecida na política, desgraçando não apenas a integridade das eleições, assim como a nossa jovem democracia.

Por aquilo que se assistiu, parece ter ficado evidente que os partidos da esfera do poder em Cabo Verde, não estão minimamente preocupados com os problemas do povo, mas sim com a ascensão ao poder a qualquer custo.

O que se assistiu no Tarrafal de Santiago, um dos municípios mais pobres de Cabo Verde e em outras paragens deste pobre País, foi deplorável e vergonhoso. Espero que Cabo Verde não siga a moda de alguns países em que o dinheiro do crime organizado tem impregnado na política para ganhar controlo sobre os eleitos e as próprias instituições públicas. Os cabo-verdianos são pessoas inteligentes e muitos estão perdendo a esperança e a confiança nos políticos, nos processos democráticos e, por isso, abstêm-se simplesmente de irem às urnas. Testemunham, sem pudor, que nem imaginam por onde anda todo o dinheiro que é investido nas campanhas eleitorais, quando passam anos a fio sem trabalho, sem acesso à saúde e segurança.

De qualquer das formas, a incógnita que fica por desvendar é a seguinte: de onde proveio tanto dinheiro para financiar as campanhas eleitorais do MpD e do PAICV no concelho do Tarrafal de Santiago, em Santa Catarina, em São Miguel etc. etc.?

O sistema eleitoral cabo-verdiano precisa de uma reforma urgente! Um pais que não produz 10% das suas necessidades básicas, que vive de ajuda de povos de outras paragens, não pode dar-se ao luxo de gastar tantos recursos em campanhas eleitorais. É preciso, urgentemente, regular o financiamento político desgovernado, desconhecido e intransparente, sob pena de se matar esta jovem democracia e roubar-lhe os ganhos até aqui conseguidos.

Os cabo-verdianos, assim como cidadãos de todo mundo democrático, desejam partidos e governos que os representem de forma condigna e que sejam sensíveis às suas necessidades. O povo também tem a percepção de como as riquezas e preponderâncias dos poderosos compra a influência política e proíbe o simples cidadão da igualdade de participação e representação.

Tarrafal, 28/10/2020

Comentários  

0 # pedro amado 30-10-2020 20:22
Sr.Monteiro devia ser mais claro quanro ao gasto de muito dinheiro nesta campanha.Acho que o sr.nesta parte devia ser claro quém comprovou votos,e quem recebeu centenas de contos para os fazer.Tenha coragem e não mistura as coisas.agora que é estranho em tudo procuram manchar o paicv.Argumentos fraquissimos e nada mais.
Responder
+2 # Jesus 30-10-2020 15:28
Só acho que os dois maiores partidos, os partidos que têm governado este país, não deviam estar no Parlamento, como de resto hoje aconteceu, a fazerem acusações de compra de votos, de compra de consciência dos eleitores, porque todos sabemos que, nesta matéria, o MPD e o PAICV são como diz o povo, no interior de Santiago cito:"NHAPU KU NHAPOTO". Ou seja, quando um está no poder é acusado pelo outro, na oposição, de estar a usar bens do Estado no período eleitoral para assediar e comprar as consciências e vice-versa. Os partidos pequenos, que estão longo do arco da governação, estes, sim, podem acusar, dizer até que têm moral para criticar os do arco da governação. Tudo, simplesmente, e vão me desculpar, porque querem seduzir o povo que eles, se chegarem ao poder, não irão praticar tais atos. Eu não acredito. E não está aqui em causa se eu concordo ou não com essas práticas nas campanhas eleitorais. De todo o modo, o povo, se recebe dinheiro, materiais de construção ou outras coisas, sabemos que vota em quem quer. A história das nossas eleições está cheia de exemplos de situações em que, quando o povo está descontente/revoltado com determinado poder, local ou central, toma dinheiro mas vota contra o mesmo poder. Eleições livres justas e transparentes? onde? Há muitas formas de corromper a consciência do eleitor.
Responder
+2 # Clara Medina 30-10-2020 07:47
[Na terra há o suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas não para satisfazer a ganância de alguns.]
― Mahatma Gandhi

Cabo Verde não é excepção e num curto espaço de tempo passou a ser um exemplo flagrante deste pensamento filosófico.
Como se justifica a riqueza acumulada nas mãos de pequenos grupos, em especial políticos, que não herdaram dos seus pais pois eles eram quase todos pessoas remediadas e portanto não em posse de nenhuma riqueza material? E o pior de toda esta cena trágica é que esta duvidosa riqueza é exibida pornograficamente e sem nenhum escrúpulo perante uma massa cada vez mais crescente da população privada do mínimo necessário para viver com uma certa dignidade.
Responder
-1 # To 29-10-2020 21:00
Bom texto mas o dinheiro penso ser apenas de um partido. Procura saber quanto dinheiro fora levantado nos bancos no tarrafal de santiago lupi levanta 500 contos e logo de seguida um outro lupi 700 contos na vespéra ou seja na sexta feira. Será que um lupi ki nunca levantou 100 contos pode levantar tod essa quqntia sem justificação? Pronto dinheiro fluiu sim Sr. PERGUNTE AOS LUPIS?
Responder