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Por: Baltasar Garzón

 baltazar Garzón

Desde junho de 2020, está em curso um processo de extradição em Cabo Verde contra Alex Saab, Enviado Especial da Venezuela, que se encontrava a caminho do Irão para a compra de matérias-primas para amenizar os efeitos da pandemia da Covid-19. Extradição que carece de consistência factual e que se deve à já longa perseguição política que os Estados Unidos desenvolvem contra a República Bolivariana e seus dirigentes. Para isso, foram utilizados todos os artifícios, meios e formas possíveis para alcançar o objetivo final, de subjugar a vontade das autoridades de Caracas.

Hoje, quatro meses depois, somos confrontados com uma decisão do Supremo Tribunal que põe em causa tudo o que foi feito contra Alex Saab. Ele é reconhecido como Enviado Especial e, por conseguinte, protegido pelo direito internacional como uma pessoa inviolável, da qual se deduz a nulidade dessa detenção e, consequentemente, tudo o que deriva desse ato ilegal.

Também se alega que o Tribunal da Relação do Barlavento não agiu de acordo com a lei, ao não permitir que a defesa tomasse conhecimento das alegações da acusação e, portanto, apresentar argumentos em contrário. Nada disso foi considerado, pelo que todo o processo e a sua detenção ilegal também são nulos e sem efeito.

E o que é valorizado? Um crime de conspiração para cometer um crime. Sim, ao que tudo indica, é este o nome dado pelo país requerente, mas na verdade é uma desculpa para voltar a questões que já foram julgadas e aproveitar para acusar o Presidente Nicolás Maduro, cujo derrube é o que se realmente pretende, através de um empresário e da implementação de sanções económicas injustificadas.

Alex Saab, segundo o seu próprio relato, teve a coragem de criar um mecanismo alternativo de abastecimento para o povo venezuelano. Numa situação de acentuada escassez, resultado exclusivo da política americana, o empresário concebeu canais de abastecimento de matérias-primas e produtos básicos para a economia do país. Estabeleceu alianças com países terceiros não sujeitos aos ditames de Washington e abriu rotas de abastecimento para a Venezuela. Obviamente, os Estados Unidos nunca perdoaram Saab por ter invadido o sistema de sanções mais do que duvidoso dos EUA, contrário às normas mais fundamentais do direito internacional. E, evidentemente, a resposta não demorou muito a chegar.

Quando Alex Saab encontravam-se em viagem para o Irão, precisamente para negociar novos artigos estratégicos para amenizar os danos ao povo venezuelano, criados pelos Estados Unidos da América, foi arbitrariamente detido, sem respeito pela sua inviolabilidade e imunidade como Enviado Especial.

Os documentos que justificaram o seu estatuto de agente especial desapareceram de forma dissimulada e só meses depois é que a defesa conseguiu levá-los perante a justiça cabo-verdiana, abrindo o respetivo inquérito.

 

A detenção de Saab a mando dos Estados Unidos abre um precedente muito perigoso para a segurança das relações diplomáticas. E, em particular, para os representantes e agentes de países sem o poder das grandes potências, que veem desconsiderados estes mecanismos e garantias.

Desde o momento da sua detenção, a provação de Alex Saab tem sido muito difícil. Além de sofrer este processo injusto, está preso desde 12 de junho numa cela minúscula, cheia de insetos, sem acesso à luz, mal alimentado e sem poder ter acesso adequado a tratamento médico, nem de ter um médico de sua escolha e confiança, com significativa perda de peso, e tratamento humilhante e degradante pelo simples fato de ser um Enviado Especial da Venezuela. Além das pressões que já foram repetidamente denunciadas por ele, como a impossibilidade da sua defesa internacional visitá-lo e defendê-lo de forma a que respeite os seus direitos.

Neste caso, é claramente evidente o interesse dos Estados Unidos em trazer Alex Saab para a sua jurisdição a todo custo, para usá-lo como um aríete político estratégico contra o presidente Nicolás Maduro. De momento, o que se verifica é que 7 das 8 acusações contra Saab foram retiradas, mas isso depois de ter dado a “solidez” correspondente para que as autoridades cabo-verdianas pudessem decretar a detenção preventiva, que ainda hoje se encontra em vigor. Uma prisão que é claramente desumana, tendo em conta a imprecisão e inconsistência das acusações que, de outra forma, teriam determinado a libertação de Saab.

Nos últimos dias, como já disse, o Supremo Tribunal de Cabo Verde remeteu o caso à instância inferior, indicando que deve se pronunciar sobre alguns aspetos, além de levantar sérias dúvidas sobre a extradição americana. Especialmente se considerarmos que quando o Tribunal de Justiça se pronunciou sobre o habeas corpus em Cabo Verde, a 1 de julho, Saab foi reconhecido como Enviado Especial e, por conseguinte, como diplomata, deve operar com imunidade e inviolabilidade.

Quem responderá por esta situação arbitrária que sofre o cidadão venezuelano e agente diplomático Alex Saab?

*Advogado da equipa de defesa

Comentários  

-2 # M de Souza 25-10-2020 18:06
Quem escreveu "isto" deve pensar que os leitores são idiotas e que não têm poder de análise. Deixam os tribunais trabalharem. Cabo Verde não tem de ser neutro com medo dos outros. Países neutros são países criminosos como a Suíça por exemplo. Se CV está do lado do bem, só tem de combater o mal. Esse venezuelano/colombiano/iraquiano que seja condenado, extraditado e preso. Quero lá saber
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0 # Alécio Romão 29-10-2020 20:08
Hmm. Essa sua visão tem contudo um ponto muuuuito fraco! Quem o julgou, quem o condenou? então basta que alguém lhe chame de ladrão, pra que a justiça lhe mande trancafiar, é isso que o o Sr. está aqui a defender? Quem prendeu G. W. Bush quando ele invadiu o iraque sem provas, enforcou o Presidente e deixou o país todo arrebentado, até ainda hoje, com graves problemas estruturais, sem apresentar até hoje as provas que dizia existirem? Que fez o mesmo com a lìbia? Se o Sr acha que a suiça é um país criminoso, porque nada se faz quanto a isso? Será porque ela é independente e não permite ingerênca de ninguém em sua política monetária e financeira? Ou porque é conveniente para a grande maioria que impõe leis, regras e políticas aos outros para continuar a dominá-los e a escravizá-los? Numa coisa tem razão, Cabo Verde não tem que ser neutro com medo dos outros! Por esse mesma razão não tem que ser a favor de ninguém, por este mesmo medo! Que poder temos nós para julgar alguém que estava aqui de passagem e contra quem não se apresentou provas nenhumas? E sim, relativamente a este assunto e com leitores como o sr, devo concordar que estamos realmente ricos de leitores idiotas!
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-7 # Clara Medina 24-10-2020 13:13
"Os cortes registados ontem nos cabos submarinos na ilha do Sal, que deixaram também Boa Vista e São Nicolau seis horas sem telefones fixos, móveis e sem a internet, poderão ter mão criminosa. A PJ já está a investigar o caso.
Fonte: Jornal online A Nacao de 23-10-20"


Não sou uma apologista da teoria de complot mas tenho muitas dúvidas se o recente incêndio nas instalações da Telecom na Praia foi um simples acidente.
Essas minhas dúvidas foram intensificadas agora com os cortes registados nos cabos submarinos na Ilha do Sal. Dois casos inéditos e ambos relacionados um com o outro ou seja redes de comunicação.
Mas atendendo os intensos ataques verbais nos media, atendendo as afirmações falsas e difamatórias contra o Estado de Cabo Verde bem assim como a Justiça cabo-verdiana, não só em Cabo Verde mas também internacionalmente feitas pela equipa de defesa de Alex Saab, tudo isto leva a crer que na sua óptica todos os meios justificarão o fim.
Sob comando do ex-juiz Baltasar Garzon uma muleta de Maduro, figura mediática controversa, um verdadeiro travestita que na altura como Juiz, acérrimo defensor dos Direitos Humanos decidiu sair do armário e após uma metamorfose cosmética, passou a ser advogado de defesa do Estado da Venezuela, o maior violador dos Direitos Humanos. Com este golpe malabaristico as minhas dúvidas aumentaram.
Estes dois graves ataques aos meios de comunicação a meu vêr não estão isolados, não devem ser bagatelizados e nem tão pouco devem ser considerados como uma simples coincidência ou mera casualidade.
Maduro não vai poupar esforços para libertar o seu testa de ferro Alex Saab das garras da Justiça e uma eventual operação de resgate do mesmo poderá ser sem dúvida uma das suas opções caso a cruzada mediática de Baltasar Garzon e a sua equipa, contra o Estado de Cabo Verde c.s. a Justiça cabo-verdiana não tiver o sucesso desejado.
Neste caso a maior arma de ataque e uma das mais eficazes é o corte total das redes de comunicação, como aconteceu recentemente nas instalações da Telecom na Praia e agora nos cabos submarinos na ilha do Sal.
Também não é de menosprezar a força destruidora da Quinta Coluna que sem dúvida já está montada, bem infiltrada e activa em Cabo Verde.
Espero que o Governo de Cabo Verde consciente da nossa fragilidade em defender as nossas fronteiras e assegurar a integridade territorial já deve ter solicitado assistência aos seus aliados em caso duma possível e iminente intervenção militar por parte do regime de Maduro em Cabo Verde.
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0 # Alécio Romão 26-10-2020 10:00
Complot? Corte de comunicação? Crê realmente que a venezuela resolveria o problema de Alex Saab boicotando a "comunicação" de Cabo Verde por 5 dias? Com tanta incompetência e desaire, nós boicotamo-nos sozinhos! Pergunto, a fzer fé em suas conjeturas. Pra qué? Se essa for a mais imaginativa "praecipue forensem" que a sua mente for capaz de engendrar, deveria também referir o fim a alcançar, ou o seu benefício para o processo em causa! Deixemo-nos é de divagar! E como o todo o bom e velho tolo caboverdeano, não encontrando argumentos sólidos para rebater os erros de Salvador Garzón enquanto advogado de Saab, a Sra parte para o argumento "Ad Hominem" atacando, disvirtuando e minimizando as virtudes de Salvador Garzon e até trazendo á baila pormenores da sua vida pessoal, como o alegado facto de "ter saído do armário" e termos como "travestita" e outros. Se lhe fosse sugerir algo acerca disso, dir-lhe-ia para ver ao seu redor, quiçá em seu próprio partido, "Travestitas" que por aí andam, nos mais diversos cargos, e que não saindo do armário, andam contudo com este às costas, deixando claras as suas tendências! Dona Clara, Calculo que a Sra tenha estudado filosofia em seu percurso, por conseguinte, faça jus ao seu nome e "esclareça-se" acerca de como se deve argumentar, ao invés de conjeturar e tirar conclusões infundadas (até prova em contrário).
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+2 # Luiz Nunes 25-10-2020 22:43
BRAVO!
Obrigado pela coragem de dizer a verdade, doa a quem doer.
Avante, sem temor.
DEUS lhe abençoe sempre...
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0 # José Anónimo 25-10-2020 13:56
Sra. Clara Medina, a senhora não anda a ver filmes a mais, por acaso? Não anda a exagerar? Eu concordo consigo que os dois incidentes envolvendo as telecomunicações são muito suspeitos. Agora, pôr a hipótese que esses dois atos foram perpetrados por venezuelanos (ou por interesses venezuelanos) parece um bocado rebuscado.
Se a senhora quer entrar em «complots» e teorias da conspiração, porque não pôr a hipótese de esses atos terem sido feitos por americanos? Já é mais que sabido que são os americanos (a CIA) os peritos em provocar distúrbios para depois justificar uma intervenção militar. E, pelo último parágrafo que a senhora escreveu, parece que a senhora já caiu nessa armadilha. Se a senhora gosta de teorias da conspiração a segunda hipótese tem mais credibilidade, uma vez que já há aviões militares dos Estados Unidos estacionados no Sal e, em contrapartida, não existem provas da presença de unidades militares ou paramilitares venezuelanas em Cabo Verde.
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