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Por: Jorge Barbosa

 João

Para responder esta questão, vou transcrever uma história sobre um Rei que teve um sonho e queria que alguém lhe ajudasse a interpreta-lo.

Havia um Rei que teve um sonho e ficou muito inquieto. Por isso, mandou chamar um sábio para interpretar o sonho. Ao chegar o sábio, o Rei contou o sonho e o sábio lhe disse: senhor, este sonho significa que todos os seus parentes morrerão e apenas o senhor viverá.

O Rei ficou indignado com a interpretação do sábio e ordenou que lhe dessem 100 chicotadas e o colocassem na prisão. Imediatamente, o Rei pediu que chamassem outro sábio para ajuda-lo na interpretação. O segundo sábio falou ao Rei: senhor, através desse sonho temos a revelação de que o senhor viverá mais do que todos os seus parentes.

O Rei muito feliz, e pediu que ele fosse presenteado com 200 moedas de ouro. Inquieto, um dos seus servos ficou a pensar porque é que a recompensa foi diferente se ambos falaram a mesma coisa!

Moral da história! O problema não está "no que se fala", mas sim, "na maneira como se fala".

O candidato do MpD à presidência da Assembleia Municipal de Santa Catarina, afirmou num discurso proferido em Ribeira da Barca, que os "emigrantes não têm espaço em Santa Catarina" para o exercício de representação política.   https://www.facebook.com/evandro.correia.33/videos/3559179207480455

Esta afirmação, que de resto caiu como uma bomba e está a gerar uma onda de contestação e indignação junto dos nossos emigrantes espalhados pelos 04 cantos do mundo, levanta, desde logo, uma questão: trata-se de saber se o problema está no que ele falou ou na maneira como ele falou.

Certamente, alguns apoiantes do candidato dirão que o discurso foi mal interpretado; que não era aquilo que ele queria dizer; que ele não pensa assim em relação aos emigrantes etc.

A esses apoiantes, eu digo que em política não basta saber "o que falar"; é preciso saber "como falar".

Na minha opinião, o problema está tanto no que ele falou, como na maneira de falar".   Partindo do princípio que um candidato deve preparar (sempre) o que vai falar, e que fala (sempre) daquilo em que acredita, sou obrigado a concluir que o candidato do MpD acredita que "os emigrantes não têm espaço em Santa Catarina". Ora, pensar que os emigrantes não têm espaço em Santa Catarina, é de facto, um problema!

O problema está também na maneira como ele falou! Podia ter preparado o seu discurso em relação aos emigrantes de uma forma diferente, e evitar esta onda de contestação e indignação. Não preparou!

Vimos no início deste texto, a história de um Rei que ficou indignado com a interpretação do sábio (devido à maneira como ele falou) e ordenou que lhe dessem 100 chicotadas e o colocassem na prisão.

Creio que é o mesmo que está a acontecer com o autor do discurso, devido à maneira como ele falou.

Tem sido recorrente, pelo menos desde 2016, a construção de uma narrativa baseada na ideia de que só quem vive o tempo todo em Assomada, conhece e está preparado para governar Santa Catarina.

Basta ouvirmos o debate "Autárquicas 2016" entre os candidatos à presidência da Câmara Municipal, Beto Alves (MpD) e Alcídio Tavares (PAICV).   http://www.rtc.cv/autarquicas2016/index.php?paginas=9&id_cod=3322Frases Durante o debate, são proferidas considerações tais como: "fiz tudo em Santa Catarina; trabalhei em Santa Catarina; fiz todos os meus investimentos em Santa Catarina; o senhor veio de Santo Antão não sabemos porquê; o senhor não esteve em Santa Catarina, passou em 2008 e agora está a passar de novo; o senhor esteve durante muito tempo fora de Santa Catarina, tem alguma dificuldade em conhecer o Concelho".  

Estas considerações (desprovidas de sentido) são estratégias, por um lado, para condicionar a ação dos adversários e reforçar a ideia de que só quem vive no Concelho, conhece e reúne todas as condições para governar Santa Catarina. Por outro, servem para desviar a atenção, e levar o foco da discussão para outro campo, nomeadamente, para o campo pessoal. Efetivamente, não houve nenhum autarca (inclusive o candidato do MpD ) que viveu o tempo todo em Santa Catrina.

No debate "Autárquicas 2020 em Santa Catarina"

http://www.rtc.cv/autarquicas2020/index.php?paginas=9&id_cod=14801 o candidato do MpD recorreu (novamente) a estratégias para condicionar a ação dos adversários; reforçar a ideia de que só quem vive no concelho conhece e reúne as condições para governar Santa Catarina; desviar a atenção, e levar o foco da discussão para o campo pessoal, através de afirmações como: "passei todo o tempo em Assomada; não desloquei de Assomada para nenhum lado; estive durante todo esse tempo, não desloquei para nenhum sitio; sempre em Santa Catarina; sempre na cidade de Assomada a dar a minha contribuição para o desenvolvimento de Santa Catarina; os senhores estão aqui de passagem; uns da Praia; outros do Sal; não estão conectados à realidade do concelho, não conhecem o concelho".

Para recentrar o debate, foi preciso lembrar o candidato do MpD que "Santa Catarina é de todos os santa-catarinenses independentemente do local onde estão a residir e que todos são convidados a dar o seu contributo para o desenvolvimento do concelho" e acusá-lo de ter ideias "xenófobas".

De facto, quem ouviu os referidos debates e o discurso proferido em Ribeira da Barca, apercebe-se que os candidatos do MpD querem passar a ideia de que só quem vive o tempo todo em Assomada, tem legitimidade para governar Santa Catarina.

É neste contexto que deve ser entendido e interpretado o discurso do candidato do MpD à presidência da Assembleia Municipal.

Dizer que os emigrantes "não têm espaço em Santa Catarina" para o exercício de representação política (no contexto e da forma como foi dito) é de facto um problema gravíssimo, na medida em que só vem reforçar a ideia de só quem vive (ninguém vive) o tempo todo em Assomada, tem legitimidade para governar Santa Catarina.

Para terminar, recorro a esta citação para dizer que de facto, "Santa Catarina é de todos os santa-catarinenses independentemente do local onde estão a residir e que todos são convidados a dar o seu contributo para o desenvolvimento do concelho".

Os emigrantes não têm espaço em Santa Catarina?  

No dia 25 de Outubro, os santa-catarinenses (sobretudo os familiares, amigos e conhecidos dos emigrantes) terão a oportunidade para responder esta questão.

Jorge Barbosa

Politólogo

Comentários  

+1 # Terra terra 19-10-2020 13:05
Nao basta conhecer os problemas de Santa Catarina: e necessario ter compeyencias, iniciativas e criatividade para resolve-los. Por exemplo, achar que o problema de Ribeira da Barca (ja passei la varias ferias com alguns amigos) se resolvem com uma rua pedonal e o cumulo do absurdo! Nao me lembro de ter visto algum lugar que possa la servir de rua pedonal. Vou pedir aos meus amigos que me avisem, no dia que essa rua pedonal estiver pronta, para ir la ver. Sera simplismente limitar o transito de poucos carros fe la e que por la passam? Simplesmente colocar "paves"? Ha muita gentr, incluindo esse tal de Beto Alves, que nao entendem o conceito de rua pefonal! Nao sabe porque e para que se fazem ruas pedonais. Nao sabe qual o significado de rua pedonal. Logo depois de rua pedonal de Ribeira da Barca, fara isso tambem em Gil Bispo, Junko, Fonte Lima etc. Que criatividade!
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0 # Terra terra 19-10-2020 11:11
Pois, eu diria mesmo que Santa Catarina e dos caboverdianos e nao somente dos santacatarinenses. Ate porque esse candidato a presidente da assembleia nem sequer e de Santa Catarina. Chegou com "kabesa so terra" la de Montanha dos Orgaos e viveu sempte muito a custa dos emigrantes, mas zomba dos mesmos.
O que se precisa em Santa Catarina e de pessoas competentes, o que nem o presidente da camara nem o da assembleia cessantes sao. Envergonham-nos!
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0 # JpB 19-10-2020 22:36
Até passeou em automovéis de luxo dos emigrantes!
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+3 # Armindo Tavares 19-10-2020 10:13
É interessante esta parábola do Rei e dos Interpretadores de sonho aqui evocado pelo articulista, o Dr. Jorge Barbosa. Faz-nos refletir as malandragens dos nossos políticos e governantes sem escrúpulos, desprovidos de caráter e sem pitada de pudor.
Em tempo, quiseram, de forma legal e transparente, pela primeira vez por unanimidade no nosso Parlamento, aumentar escandalosamente os seus ordenados e os dos seus, mas o MAC 14 “escoou-se” da cabeça e saiu a rua. A coisa não pegou. Entretanto, o salário não foi aumentado, mas aos políticos, mesmo tendo casa própria para morar, com uma parte alugada a outrem, foram atribuídos juntamente com o salário, 70 contos para pagar renda. Têm viatura top de gama, combustível à borla (por exemplo, a Srª Reitora da Unicv consumiu num dia só, no percurso São domingos Praia, 700 litros de combustível), verba de representação, luz, água, telefone e internet ilimitados, empregada, condutor e ajuda de custo para inúmeras deslocações que fazem ao estrangeiro.
De acordo com essa parábola, o vencimento de um político, por exemplo, de um Presidente de Câmara é uma Pichincha de 135 contos. Mas todos os meses, entra na sua conta/ordenado, no Banco, perto de 400 contos, saindo do cofre do Estado que nós o enchemos com os nossos impostos. Ganham muito mal, mas recebem muito bem. Não é roubo?
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+1 # Alice Furtado 19-10-2020 09:55
Muito bem visto, politologo Jorge Barbosa.Os nossos emigrantes saberão responder ao candidato do MPD, Santa Catarina, no dia 25 de outubro de 2020.
Agora onde está a responsabidade e a posição dos grandes em relação a esse pronunciamento?Comungam da mesma opinião dos seus candidatos?Estão mudo e calado.Ou estão a espera de 2021 para falarem aos emigrantes que não foi bem assim...
Apelo a voto consciente povo de Santa Catarina.
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0 # Jose Furtados correi 19-10-2020 10:27
Meu caro amigo os santa catarinenses tem conciencia no dia de voto.por isso não são conversas deturpadas que venham derrubar o nosso fortes candidato.
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