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Por: Natalino Almeida*

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No sentido lato, entende-se que áreas verdes urbanas são espaços urbanos com predomínio de cobertura vegetal arbórea (nativa ou introduzida), arbustiva ou rasteira, que contribuem para a melhoria de qualidade de vida, o equilíbrio ambiental e a harmonização dos espaços nas cidades.

Nas ultimas décadas assistimos a uma maior conscientização da importância das áreas verdes urbanas pelo facto que cada vez mais há uma crescente preocupação dos urbanistas, paisagistas, arquitetos e decisores em considerar incluir estes espaços nos diversos instrumentos de gestão e planeamento territorial e reservar áreas com aptidões especificamente para esses fins.

As áreas verdes urbanas são importantes para as cidades porque além da melhoria de qualidade de vida das pessoas, equilíbrio ambiental, harmonização dos espaços, também contribuem para uma melhor climatização da cidade, melhorando o conforto térmico, e o aspeto paisagístico. No entanto, o papel das áreas verdes urbanas é muito mais abrangente, são espaços que propiciam desenvolvimento socioeconómico (muitas vezes confundido com crescimento económico), com inclusão das diversas classes sociais, diminuindo a segregação em termos urbanos e evitando que o acesso a áreas verdes seja apenas para cidadãos com melhores condições socioeconómicas e financeiras, e assim contribuindo para que as cidades sejam mais inclusivas, saudáveis e sustentável.

Em Cabo Verde, as áreas verdes urbanas das cidades são caracterizadas sobretudo por pequenos jardins e praças e pracetas, concebidos por vezes a partir da reconversão e reabilitação de espaços degradados. Porém, as cidades cabo-verdianas são espaços urbanos relativamente pequenos e desordenados, consequência de um planeamento urbano desestruturado e desorganizado, em que prevalece o loteamento desenfreado e negligenciando e, muitas das vezes, as áreas verdes com dimensão considerável capaz de imprimir boa dinâmica e equilíbrio entre os espaços físicos urbanos e a natureza.

Na Cidade da Praia, capital de Cabo Verde, o cenário em relação a áreas verdes urbanas é semelhante das outras cidades do país, basicamente resumem-se em pequenos jardins e praças, e é caraterizado pela ausência de uma mancha verde urbana expressiva. Todavia, há memórias da existência de pelo menos três principais áreas verdes de dimensão considerável, como é o caso da “floresta do Bairro”, a área verde de Taiti, e ainda a área verde de Praia Negra. Como uma das consequências de urbanização desordenada, esses espaços verdes têm sido drasticamente reduzidos ou, num cenário mais dramático, foram completamente extintos, caso da área verde da Praia Negra. Neste sentido, é de extrema importância a defesa, a reabilitação, a manutenção, a conservação, a preservação, e o alargamento dessas áreas verdes, porque constituem um património histórico-ambiental, paisagístico e afetivo das populações envolventes e de toda a cidade, pois, são espaços recreativos, de lazer e convívio.

Por conseguinte é preciso mudar de paradigma quanto a implementação das áreas verdes urbanas na Cidade da Praia. É necessário deixar de lado o discurso retórico e as boas intenções e passar a prática, sem negligenciar as boas práticas de um planeamento urbano sustentável, em que as áreas verdes assumem um papel de destaque.

As áreas verdes urbanas demandam uma grande quantidade e disponibilidade de água para a sua manutenção. A mobilização e a disponibilidade de água, são dos maiores desafios de Cabo Verde. Portanto, considerando que Cabo Verde em termos climáticos esta inserida numa região semiárida, caracterizada por clima seco e quente em que as precipitações são escassas e irregulares e as temperaturas elevadas, a disponibilidade de água é condicionado. Contudo, o território do país é 99% mar, o que quer dizer que se for implementada medidas de políticas de mobilização de água, sobretudo a dessalinização da água do mar em quantidade e qualidade, pode-se conseguir a tão almejada “independência hídrica”.

Os desafios que se colocam à existência e manutenção das áreas verdes urbanas em Cabo Verde são de várias ordens, desde fatores naturais, como o clima, a orografia e a morfologia aos fatores antrópicos, como mau ordenamento do território, urbanização desequilibrado, ocupação de áreas de riscos (encostas e ribeiras), desmatamento e desflorestação. Porém, se for adotado e implementadas boas estratégias, como a escolha de espécies de plantas que melhor se adapta ao nosso clima e solo, a serem introduzidas nas áreas verdes urbanas, contribui sobremaneira para que essas áreas sejam mais resilientes a adversidade climática e sustentáveis.

As mudanças climáticas vieram agravar ainda mais a situação hídrica no país, em que assistimos a três anos de seca consecutivos, e o governo em decorrência disso decretou emergência hídrica, apelando para racionalidade e gestão eficiente da água, adotando boas práticas no uso da água, etc. Todavia, os efeitos das mudanças climáticas são muito mais abrangentes, e constituem um grande impacto na esfera ambiental e na vida das pessoas, em que são cada vez mais frequentes e com grandes magnitudes fenómenos extremos como fogos florestais, chuvas torrenciais e consequente inundações, secas severas com consequência na produção de alimentos, erupções vulcânicas, etc.,

Em 2015 a Organização das Nações Unidas (ONU), iniciou uma agenda global sobre os objetivos de desenvolvimento Sustentável (ODS), para o horizonte 2030. A agenda da ONU sobre os ODS debruça-se sobre várias ações que os governos e as populações devem adotar e implementar para atingir as metas definidas nessa agenda. Neste sentido, uma das ações é direcionada para a necessidade de ter as cidades sustentáveis, e na questão ambiental recomenda para a necessidade de preservar e conservar o meio ambiente.

Outrossim, numa cidade sustentável a nível ambiental deve haver um equilíbrio entre o urbano e a natureza, ou seja, é imprescindível que seja planeada e implementada áreas verdes, de preferência que essas áreas sejam de dimensões razoavelmente grandes para que, de facto, seja criada um green belt dentro da Cidade, servindo não só de espaço de lazer, convívio e desporto, mas também como área ambiental capaz de interferir na qualidade de ar e de vida das pessoas.

*Geógrafo e Mestre em Sistema de Informação Geográfica e Modelação Territorial Aplicados ao Ordenamento.

Comentários  

0 # Nilton Spencer 06-10-2020 14:47
Excelente texto! Não poderia estar mais de acordo! Muitos parabéns Natalino Almeida!
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+1 # Manuel A. Torres 05-10-2020 13:36
O Articulista está de parabéns!!!
Depois de Ondina Ferreira, Arquiteto Gregório, José Maria Semedo entre outros, desta é a voz de um jovem quadro, pelos visto estendendo na matéria e preocupado com a questão ambiental. Haja mais e mais marteladas para que os decisores tomem a consciência e mudem de atitude. É necessário criar alternativas para repor as áreas verdes destruídas. As novas localidades urbanas a serem criadas no futuro devem levar em devida conta os espaços verdes, PRECISA-SE DE AR PURO NA CIDADE DA PRAIA. !!!!
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+4 # Sabifacil 04-10-2020 08:42
O articulista esqueceu do terreno de fundo cobon até Etar. O terreno de antoninho mijota que a CMP quis dar ao SiBAFIL em troca de favores. Tanto o terreno de Taiti do senhor Moxinhu ki faleceu recentemente, bem como herdeiros de antoninho mijota podem ser expropiados e transformabos em pulmóes verdes da cidade. Mas quem está interessados nisto se voces votam como carneiros e vendem votos por1 saco de cimento? Nunca esta cidade vai ter um ordenamento territorial porque o povo e os politicos são corruptos.
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0 # Vampirão 03-10-2020 23:27
Pro-Praia nunca disse nada. Questão de amizades políticas e partidárias!!! Só fantochada. Associações que são da sociedade civil só na mentira.
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0 # Vampirão 03-10-2020 17:23
É tudo o que há a dizer sobre a questão da falta de áreas verdes n Praia?!!!!
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+4 # Temóteo V. Tavares 03-10-2020 13:53
A cidade da Praia já teve de facto algumas áreas verdes. Quem viveu nesta cidade nas décadas de 60 e 70 do século XX, se recorda certamente, e com muita sudade, da Praia Negra, da zona de Taiti a Sucupira e da zona dos eucaliptos da Achadinha de Baixo. Hoje só existe uma pequena área verde de horticultura entre Taiti e Sucupira, sendo enorme a pressão de betão para o seu desaparecimento. Toda a cidade foi convertida em betão, num processo que decorreu de 1975 a esta parte. Muita tinta foi gasta por alguns especialistas em urbanização, que denunciaram a urbanização caótica da cidade da Praia. Quem não se lembra das intervenções de alguns arquitetos cabo-verdianos na década de 90 a propósito, por exemplo, da necessidade de desenvolvimento de uma área verde da cidade, como por exemplo, a área que vai de Taiti a Sucupira e, por conseguinte, a necessidade de proibir a construção de edifícios nessa zona? O que aconteceu, é o que se vê. Quem é que decidiu destruir a Praia Negra, tal como era conhecida no passado, para instalar uma fábrica de cerveja e outras actividades, cujas consequências são óbvias: um verdadeiro desastre ambiental. Isto, para apontar alguns exemplos de uma gestão urbana caótica e irresponsável, sem preocupações de ordem ambiental, priorizando sempre interesses individuais e de grupos, em prejuízo claro de interesses colectivos. Por isso a cidade da Praia é o que é hoje. Não se faz outra coisa senão correr atrás de prejuízos: das cheias e inundações, das construções clandestinas, das doenças, da delinquência urbana, da degradação da qualidade de vida, da poluição ambiental e sonora, etc.
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+2 # Colundjul51net@hotm 03-10-2020 08:02
As areas aqui mencionafas efectivamente existiram. Agora fica o escrito para os filhos e netos. Estao sendo devoradas pir interresses politicos......... o pouco que resta caminha a passos largos para o desaparecimento.
Pergunta ao Oscar e ao Arq Fernandes que se psssa ?
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+4 # Franklin Ramos 03-10-2020 15:14
Um exemplo gritante é a antiga Praça do Palmarejo que agora está transformado num monstro de betão e aço. É dita espaço de lazer. Lazer sim, para as compras e fast food, para pessoas com poder económico. Outras pessoas da comunidades se quiserem simples sentar e apanhar um ar fresco oxigenado das plantas, isto não vão ter. O que vão vai ser um cheiro noseabundo de gorduras e perfumes artificiais. Se continuarmos assim, caminhamos para um caldeirão.
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