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Por: Eveline Almeida*

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Devemos olhar para a natureza como um ser vivo, em que todas as partes estão intimamente conectadas, isto é, a atmosfera, o mar e a terra, constituindo assim os nomes científicos conhecidos por Meteorologia, Oceanografia e Geofísica.

Como todos os seres vivos a natureza dá respostas em formas de reações a todas as ações que são provocadas por componentes externos, incluindo principalmente os comportamentos humanos. Cumprindo assim a terceira lei de Newton, que menciona que “a toda a ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade”, com um único pormenor, a intensidade da reação é proporcional ao sistema, sendo o sistema a natureza e a força com que dá as respostas podem ser devastadoras aos olhos humanos.

A natureza é incrível, ela tem a capacidade de regenerar-se e voltar ao seu estado natural, repondo a ordem, ela reage, ainda que na maioria das vezes de forma lenta a todos os componentes externos. Por exemplo, deslocações de enormes quantidades de massas de um lugar para o outro, causa processos de “subducção”, que pode ser compreendido como uma forma de adaptação ou reajuste a nova morfologia. Este processo de readaptação muitas vezes é caracterizado como desastres naturais. Os agentes externos provocam eventos intensos e irregulares, como algumas chuvas torrenciais, secas prolongadas, erosão, perdas do solo e subsolo, etc.

Isto tudo para dizer que o crescimento demográfico da cidade da Praia (caso em análise), tem contribuído para o aumento da procura de terrenos para construções nas zonas urbanas e suburbanas. E uma vez que existe este aumento por procura de terrenos, isto contribui para que haja uma enorme especulação dos preços dos terrenos e dos recursos naturais, essencialmente as areias das praias e das ribeiras. Por conseguinte existe uma pressão e emergência de construções de habitações para as famílias em condições desfavorecidas. Esta situação contribui para o desfavorecimento das classes medias baixas e empurra estas populações para as encostas, ribeiras e aterros, de forma geral zonas não aconselháveis a construções de habitações pelas condições geológicas apresentáveis.

Não se pode ignorar que, as areias comportam-se como barreiras protetoras contra a erosão, entre as demais funções como impedir o avanço do nível médio do mar. A sua ausência, contribui para o agravamento da situação durante o período de precipitação.

Não são aconselháveis construções em linhas de drenagens de águas pluviais, pelo simples facto de que, embora as chuvas sejam de caracteres pouco frequentes, elas sempre aparecem e na maioria das vezes com características tropicais. A existência de obstáculo implica que o curso de água ou das cheias sejam desviadas, tomando assim outros contornos e causando maiores desastres. Toda dinâmica começa quando se infringe as regras da natureza, construindo habitações em zonas completamente de riscos geológicos. Uma boa parte das construções na cidade da Praia estão em terrenos de riscos, ou zonas vulneráveis a inundações. Uma das características dos terrenos para construção é encontrar a zona do “basement”, isto é, um solo duro e resistente a possíveis adversidades.

Na maioria das construções tradicionais, que são feitas de uma forma inadequada e sem fiscalização não há preocupação da conservação do solo. Sendo possível observar uma destruição do solo arável e de culturas existentes nas áreas, bem como as árvores que apoiam na conservação do subsolo. Estas atividades alteram significativamente a morfologia dos solos, modificando a correlação das forças físicas que governam os processos. E com a chegada das chuvas, torna-se visível toda a vulnerabilidade do solo e das construções.

Ainda, associada ás calamidades provocadas pela atual precipitação, que não se pode considerar ser um ciclone (tufão, furacão), ou seja, uma grande tempestade com grandes rajadas de ventos, está a má urbanização e gestão das redes de drenagens das águas pluviais. Os cursos dos fluxos das águas chuvosas são na maioria das vezes interrompidas, pela presença de enormes quantidades de aterros nas redes de escoamento. Torna-se visível que os danos causados estão associados a comportamentos sociais e não propriamente a uma alteração climática, ou fenómenos naturais.

Algumas das recomendações que deixo para que estas situações verificadas durante as épocas chuvosas se minimizem, ou no melhor dos casos, que não se repitam são:

- Fazer estudos de impactos ambientais e investir em prospeção geofísica (estudar as características do solo, de forma a encontrar os melhores terrenos para construções);

- Abrandar com as explorações por conta própria dos inertes, principalmente areia e brita;

- Trabalhar muito na sensibilização e fiscalização das construções e principalmente no cumprimento das normas de construções e urbanização;

- As cheias são características de épocas chuvosas, é preciso deixar-lhes espaços para as suas drenagens ao mar;

- Não usar as valas de drenagens como locais para depósitos de resíduos;

- Alargar a urbanização para zonas do interior da ilha, bem como trabalhar no desenvolvimento das outras ilhas;

- Investir na sustentabilidade ambiental;

As soluções passam por adaptarmos as características ambientais, e não esperar que ocorrerá um processo inverso, a onde a natureza adaptar-se-á a nós.

*Mestre em Ciências Geofísicas

 

Comentários  

+4 # Sergio Corra 15-09-2020 18:50
As únicas alteração sociais danosas, são os nossos políticos, corruptos.
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0 # Manuel Deaguiar 15-09-2020 13:07
As tempestades,as chuvas torrenciais,os tremores de terra não são sociais mas fenómenos naturais,a natureza é surprendente,os especialistas podem prever,mas fazer parar neste planeta terra,com toda a tecnologia das construções,não evitou o tsunami na Indonésia,no Japão,nos Estados Unidos,nas Filipinas,conseguem parar uma larva de um vulcão,mesmo que fizessem um muro de betão com barras de ferro de largura de 100 metros que a larva não destrói,agora pessoas que constroem em zonas que não seja em planaltos,construção nos leitos das ribeiras e nas encostas,é desafiar a lei da natureza.
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+1 # Isac Borges 14-09-2020 14:42
Prezada

Agradecemos a sua intervenção e conselhos técnicos. Assim se constrói um país, com ideias, planos e colocações oportunas de quem conhece os meandros da sua área de atuação. Força e boa caminhada!
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0 # camara 14-09-2020 13:53
td k caba di escrebi dja sabedu por isso problema é poi na pratica pa podi midjora situason
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+2 # Talis di Santiagu 14-09-2020 10:25
Brabu!
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+4 # Joceline Almeida 14-09-2020 09:59
Minha cara, permita-me antes de mais parabenizar-lhe pelo excelente artigo. Uma crítica construtiva que aponta soluções para melhoria. Concordamos com a possa posição e esperamos que se leve em consideração a
vossa opinião, a opinião de uma Mestre na área, na reconstrução da nossa amado País.
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+5 # Daniel Carvalho 14-09-2020 09:22
Uma excelente aula, mas como os principais destinatários são aqueles que têm a responsabilidade de gerir o nosso espaço urbano, e estes são todos doutorados, duvido da sua receptividade das lições de uma Mestre.
Naturalmente que a responsabilidade individual dos munícipes não é uma questão menor, mas como bem reconhece a Mestre Eveline Almeida, tanto o preço especulatório dos terrenos como a sua não disponibilização, impelem os necessitados a se aventurarem em construções em locais inapropriados e as consequências desses comportamentos individuais ou de famílias, vão ter que ser assumidas pela colectividade. Mas valeu o ponto de vista.
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+3 # Felizberto Mendonça 13-09-2020 22:45
Um excelente artigo científico.

Acrescento que, segundo estudos publicados em revistas especializadas, a posição do Sol Centaurus em relação à inclinação do Sol e à posição do planeta KS230G67IK também determina os fenómenos naturais.
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