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Por: Jorge Barbosa*

Jorbe Barbosa 1  

A presença e o crescimento das candidaturas independentes a competir com os partidos políticos, (num contexto em que cada vez mais os cidadãos vão dando sinais de estarem fartos do MpD e do PAICV) não só estimula a alternância nos órgãos autárquicos e renovação de elites, como se traduz num acréscimo de competitividade eleitoral e reforço da qualidade da nossa democracia. É que, se por um lado não há democracia sem partidos, por outro, não pode haver democracia só com partidos. É por isso que sou a favor das candidaturas independentes, pois, acredito que a renovação das elites políticas, pode contribuir para aumentar a participação e confiança dos cidadãos na política. A falta de confiança dos cidadãos nos partidos, esta a provocar, cada vez mais, o crescimento dos sentimentos anti partido e dos elevados deficits de participação política, daí, as elevadas taxas de abstenções em todas as eleições. Nas autárquicas do dia 25 outubro, digo que é possível sim, provocar a alternância (com alternativa) nos órgãos autárquicos; é possível sim, renovar as elites políticas; é possível sim, reforçar a qualidade da nossa democracia. Tudo isso é possível, sobretudo, nos casos em que os protagonistas “independentes” são portadores de um (bom) capital social e político e de uma imagem conhecida e reconhecida na comunidade local.

Pode a candidatura independente de Félix Cardoso ganhar as eleições autárquicas em Santa Catarina?

A reflexão e respostas sobre esta questão passa pela análise dos seguintes pontos:

i) Ordem e grau de importância das eleições autárquicas

As eleições distinguem-se pela sua ordem e grau de importância. No caso de Cabo Verde, as eleições legislativas, são consideradas de primeira ordem e de maior grau de importância, na medida em que elas servem para determinar quem governa a nível nacional, enquanto que as autárquicas são consideradas de segunda ordem, (logo de menor grau de importância) na medida em que, elas servem para determinar quem governa a nível local. Consoante a ordem e o grau de importância dessas eleições, (independentemente de outros fatores determinantes do voto) o comportamento dos eleitores tende a variar-se. Este comportamento variável dos eleitores tem, segundo André Freire, as seguintes implicações:

1) Pequenos partidos tendem a ser recompensados em eleições de segunda ordem, em comparação com eleições de primeira ordem;

2) Grandes partidos tendem a ser punidos em eleições de segunda ordem;

3) Partidos no governo tendem a ser mais punidos, especialmente, se as eleições de segunda ordem se dão a meio e/ou no fim do ciclo das eleições de primeira ordem;  

4) Em Portugal, por exemplo, segundo o mesmo autor, os partidos no governo, têm pior desempenho nas eleições autárquicas, mas apenas quando elas têm lugar a meio do ciclo, sendo as perdas tanto maiores quanto piores são as condições económicas.  

A análise dos pontos (1) (2) (3) e (4) remete-nos para os seguintes:  

1º) Se pequenos partidos tendem a ser recompensados em eleições de segunda ordem, espera-se que o movimento independente de Félix Cardoso (embora não sendo um pequeno partido) venha a ser recompensado nestas eleições;

2º) Se grandes partidos tendem a ser punidos em eleições de segunda ordem (o MpD e o PAICV são grandes partidos) espera-se que venham a perder votos nestas eleições, sobretudo o MpD;

3º) Se partidos no governo tendem a ser mais punidos, especialmente, se as eleições de segunda ordem se dão a meio e/ou no fim do ciclo das eleições de primeira ordem, espera-se que o MpD venha a perder algumas Câmaras e, uma delas pode ser a de Santa Catarina;

4º) Se os partidos no governo têm pior desempenho nas eleições autárquicas, mas apenas quando elas têm lugar a meio do ciclo, sendo as perdas tanto maiores quanto piores são as condições económicas, espera-se que o MpD sendo partido no governo (com as condições económicas a piorar) não venha a ter um bom desempenho nessas autárquicas.

Em fim, se olharmos para as eleições de segunda ordem em Cabo Verde de 1991-2016, podemos concluir que, (corroborando o que foi dito até aqui) houve melhores resultados para os partidos pequenos e candidaturas independentes, e mais punição para o partido no governo.

ii) Divisão interna e vitória dos independentes

A divisão interna nos partidos, (MpD e PAICV) fez com que só em 2016, entraram na corrida (como independentes) à liderança das Câmaras Municipais (05) candidatos, a saber: Luís Pires, em São Filipe Fogo; José Luís Santos, em Boa Vista, ambos saídos do PAICV e MpD, respetivamente. Em São Filipe Fogo (fruto da divisão interna) o PAICV perde a Câmara para o MpD e em Boa Vista (fruto desta divisão) o MpD perde a Câmara para o candidato independente. Pedro Centeio (nos Mosteiros) e Pedro Morais, em (Ribeira Brava São Nicolau), também avançaram como independentes. Em Ribeira Brava, o PAICV perdeu a Câmara para o candidato (independente) saído do MpD. Na ilha do Maio, avançou uma candidatura independente com o apoio do PAICV.

É de notar que nos (03) casos em que houve divisão e falta de coesão internas (MpD Boa Vista; PAICV São Filipe Fogo e MpD Ribeira Brava São Nicolau) 02 Câmaras foram parar às mãos dos independentes, ou seja, ficou provado que, (em alguns casos) “partido dividido significa eleição perdido”. Dito de outra forma: ficou provado que se "Juntos somos mais fortes, divididos somos mais fracos”.

Nas autárquicas de 2012, o MpD em Santa Catarina foi a votos divido e, naturalmente, mais fraco. A divisão (fraqueza) deu origem a uma candidatura independente (Roteiro Rumo a Santa Catarina) que obteve (3%) dos votos, ou seja, 446 e 484 votos para a Câmara e Assembleia Municipais respetivamente. Tanto o PAICV como o MpD, obtiveram votos a rondar os 7000 e poucos. É de notar que a candidatura independente não ganhou, porém, teve votos (484) suficientes para obrigar a repetição das eleições em algumas localidades do concelho e ditar a derrota do MpD na Assembleia Municipal, (ganhou o PAICV) caso único em Cabo Verde. Pode alguém argumentar que, face aos resultados do Roteiro em 2012, fica claro que os independentes não ganham em Santa Catarina. Digo pois que, em 2012, o contexto era outro: o MpD em Santa Catarina, (embora divido) estava mais unido; o candidato independente era mais fraco; havia apenas (03) candidaturas (MpD, PAICV e Roteiro) em presença, logo, seriam precisos maior percentagem de votos para uma candidatura vencer. Desta vez, o MpD está (mais) dividido; são (04) as candidaturas (MpD , PAICV, UCID e o candidato independente) logo, são precisos menor percentagem de votos para vencer e, obviamente, o candidato independente é mais forte.

Para o embate autárquico que se avizinha, o MpD em Santa Catarina apresenta-se (novamente) dividido e corre sérios riscos de sair derrotado, pois, o atual edil/candidato (Beto Alves) não goza do apoio do seu partido a nível local, que decidiu apoiar Félix Cardoso, (o candidato independente) que resolveu deixar a sua carreira na magistratura do Ministério Público para, segundo ele, " resgatar o município das mazelas e letargias sociais e colocá-lo nos caminhos de desenvolvimento e progressos".

Voltando à questão: pode a candidatura independente de Félix Cardoso ganhar as eleições autárquicas em Santa Catarina? Sim, pode: pode porque em função da ordem e grau de importância destas eleições, espera-se melhores resultados para os independentes, e mais punição do candidato suportado pelo partido no governo; pode porque o MpD em Santa Catarina está dividido e, como foi demonstrado em cima, "partido dividido significa eleição perdido". Se Félix Cardoso conseguir mobilizar e conquistar a adesão dos abstencionistas, provavelmente vai ganhar as eleições. Porquê os abstencionistas? Nenhum partido ganha umas eleições só com o voto dos seus militantes! O voto dos militantes é a condição necessária, porém, não suficiente! Para ganhar umas eleições, é preciso ir buscar os votos aos (sem partido), digamos, aos abstencionistas! Quantos são os abstencionistas? Nas autárquicas de 2012, (em Santa Catarina) dos 21546 inscritos, votaram (apenas) 15864, ou seja, 5682 eleitores não votaram, o que dá uma taxa de abstenção a rondar os 26%. Em 2016, dos 24398 inscritos, votaram (apenas) 15452, ou seja, 8946 eleitores não votaram, o que dá uma taxa de abstenção na ordem dos 37%. Quem são os abstencionistas? Os abstencionistas "são essencialmente sujeitos para quem a atividade política e os partidos políticos não são relevantes". Existe um consenso alargado em vários estudos científicos no tocante ao reconhecimento de que a idade é um fator relevante na participação eleitoral, ou seja, os sujeitos mais velhos têm maior tendência para votar do que os jovens, logo, os abstencionistas são, maioritariamente, os jovens, desencantados e desiludidos com os partidos políticos. Para concluir, digo que são os votos desses abstencionistas, (maioritariamente jovens, desencantados e desiludidos com os partidos políticos) que fazem ganhar umas eleições. Se Félix Cardoso conseguir conquistar a sua adesão, ganha a eleição.  

OBS: É claro que existem outros cenários em termos de quem ganha e quem perde estas eleições em Santa Catarina. Sobre eles, brevemente, darei a minha opinião.

*Politólogo

Comentários  

+1 # DE PRAIA MARIA 28-08-2020 11:31
Quem está vivo, de quando em vez aparece. Esse Jorge, em tempos apareceu em Santa Catarina, depois apareceu nos Picos, de repente sumiu-se.
O tipo está a preparar o regresso? para onde? Santa Catarina ou Picos?.
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0 # tibernau 28-08-2020 06:34
Caro Jorge Barbosa

Um artigo de reflexão, mas que mostra tendências.

Ora como sabe em santa Catarina o MPD a não escolher o candidato Felix pecou redondamente. Isto não significa que a escolha vai beneficiar ao candidato independente.

O candidato Felix não vai conseguir acabar com os abstencionistas e vai continuar a ser alto.

O que vai acontecer é que ele vai tirar muitos e bons votos ao MPD.

Não esqueça que as eleições locais "Autárticas" em Santa Catarina tem sido muito renhida entre o MPD e o PAICV.

A rotura no seio do MPD só vai beneficiar o PAICV, não significa que o PAICV vai ter que brincar.

A Pre potência e a arrogância de Beto Alves vai vai contribuir pela possível derrota do MPD em Santa Catarina, aliás é por causa desta arrogância é que contribuiu pela rotura.

A escolha do MPD Central sem o apoio do MPD local como afirmou aqui é um grande erro.

É contra senso do MPD Central.

A compração deste caso com a de Boa vista é errada. Senão vejamos. A carisma de José Luís é muito superior a de Felix, e sempre batalhou pela Boa Vista e publicamente o que não acontece no caso de Felix Cardoso.

No caso da Boa Vista as análises devem ser diferentes. Não esqueça que José Luís é uma pessoa muito mais carismático na política, do que Felix Cardoso.

É uma pessoa muito mais visível na política e que lutou sempre pela Boa Vista e não só por Cabo verde.

São situações e casos diferentes daí a não comparação.

Por isso mesmo este artigo peca em deixar mostrar que está do lado de Felix Cardoso.

É como se estivesse a dar uma ajudinha ao Felix, não sou contra mas devia ser em um outro tipo de artigo.

De qual quer forma esperemos para ver.
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0 # Jorge barbosa 28-08-2020 21:48
Muito boa noite Tibernau. Muito obrigado pelos seus (pertinentes) comentários. São tão pertinentes que até gostaria de debate-las consigo diretamente. Tens alguma sugestão.
Cumprimentos
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-1 # Emilio Borges 27-08-2020 20:11
Excelente reflexão Jorge
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0 # Jorge barbosa 28-08-2020 21:49
Muito obrigado meu caro Emílio.
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0 # Terra-terra 27-08-2020 15:22
Coitado de djuco, um analfabeto funcional, a querer meter o bico onde nao e chamado. O meu amigo Barbosa ja sabe que e verdade o que lhe sugiro. Quanto a si, conversa nao chegou nas estribeiras. Primeiro resolva o seu problema com o seu vizinho. Seu caloteiro!
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0 # De Assomada 27-08-2020 15:16
Muito bem dito, o candudato independente é o melhor entre os 3. É alternativa para salvar o conselho das mãos de um grupinho que tornou a câmara municipal os seus quintal.
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0 # Jorge barbosa 28-08-2020 22:21
Muito obrigado de Somada pela tua opinião. Vários cenários pode acontecer em Santa Catarina. No meu próximo artigo falarei delas.
Cumprimentos
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+2 # Adalberto Varela 27-08-2020 13:06
Meu caro, obrigado por este execelente artigo mas pecaste por deixar claro a tua tendência: ou seja quém é que gostarias que ganhasse as eleições. Mas neste contexto o partido que está em vantagem é claro que é o PAICV.

Não te esqueças que em 2016 (mesmo com divisão interna) o paicv perdeu por 200 e tal votos. E hoje estamos muito unidos.

Pensa nisso.
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0 # Jorge barbosa 28-08-2020 22:04
Meu caro Adalberto,
Se reparar, eu disse logo no inicio do artigo, que "sou a favor das candidaturas independentes". De todas elas, porque acredito que contribuem para reforçar a qualidade da nossa democracia. É claro que vários cenários estão abertos em Santa Catarina, e sobre elas digo o que penso brevemente.
Cumprimentos
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+1 # Poirot 27-08-2020 08:21
A probabilidade do Dr Félix Cardoso ganhar as eleições é baixa. A divisão de votos dentro de um grande partido só favorece o outro grande partido. Quem deve estar a dar palmas às escondidas é o PAICV
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0 # Jorge barbosa 28-08-2020 22:08
Boa noite meu caro. Muito obrigado pelo seu comentário. Vários cenários estão em jogo em Santa Catarina. Brevemente darei a minha opinião sobre elas.
Cumprimentos
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+4 # Terra-terra 26-08-2020 23:20
De facto Beto tem-se mostrado um presidente demasiado fraco, com demasiadas limitacoes em todos oo aspetos, cada um pior do que outro. Pior do que isso e nao ter nenhum ponto forte.
Quanto a Felix, com tantos desmandos por todo onde passou, eu nao votaria nele nem com corda no pescoco. Se mesmo como msgistrado, fazendo tudo que fez, conseguiu indemnizacao do Estado, imaginem o que fara numa camara para ser preso e ir acompanhar aqueles que dispuzeram tanto dinheiro!
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0 # Jorge barbosa 28-08-2020 22:13
Boa noite. Antes de mais, gostaria de lhe cumprimentar. De facto, vários cenários estão em jogo nessas eleições. Falarei de todas elas brevemente.
Cumprimentos
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+2 # Terra-terra 26-08-2020 23:06
Caro amigo, deve aprimorar a utilizacao de virgulas! Esta muito fraco nesse quesito!
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0 # Jorge barbosa 28-08-2020 22:14
Registo o seu comentário.
Cumprimentos
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-1 # djuco 27-08-2020 11:00
Um artigo que em qualquer parte do mundo suscita reflexão pela competência da sua elaboração vem um palhaço de nome Terra-Terra chamar atenção para a colocação de virgulas. Este palhaço sequer sabe que o autor podia ter decidido em não colocar nenhuma virgula e nem por isso o texto ficava prejudicado. Francamente!!!!
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0 # Jorge barbosa 28-08-2020 22:17
Meu carro Djuco. Eu vejo que foste atacado por me defenderes. Não leve em conta esses ataques.
Cumprimentos
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