Uma das maiores localidades do município de Santa Catarina, Engenhos, que outrora já emprestou o nome à vila de Assomada (Matos Engenhos), berço das primeiras revoltas sociais em Cabo verde (1822), terra de gente resiliente e batalhadora. Podia passar o tempo todo aqui a falar da minha ribeira porque não faltam motivos para tal. De uma potencialidade enorme e de jovens sonhadores, a ribeira que me viu nascer já foi celeiro do município e de toda a região norte da ilha.
Longe vai esse tempo e, hoje, temos uma localidade esquecida ao abandono do poder local e central. Poder local que, de vez enquanto com manobras eleitoralistas, tenta jogar areia aos olhos das suas gentes, numa tentativa clara e desesperada de tentar confundir a opinião dos menos atentos, mas tudo isso não passa de uma clara confissão de abandono.
Engenhos foi agraciado durante o interregno de 2000 a 2015 por obras de grandes envergaduras e de grande relevância e com impactos significativos na vida da sua população, em que se destaca a construção da bacia hidrográfica dos engenhos, inaugurada em 2010; a estrada asfaltada Fonte Lima Librão e João Bernardo, inaugurada em 2012 e posto sanitário de Telhal, inaugurado em 2011, obras estes que beneficiaram de tal maneira a vida da população dos Engenhos. Tal benefício poderia hoje ter reflexo maior se houvesse política que visava tirar aproveitamento de tais obras por parte da edilidade local, mas para a nossa infelicidade tal não aconteceu.
Não só não aconteceu o aproveitamento do trabalho feito como também não tiveram visão, nem ambição, nem a coragem política de pôr a ribeira na rota de desenvolvimento local, reservaram para a ribeira nada mais do que promessas e promessas que caíram no esquecimento e deixaram a população da ribeira à sua sorte. Quem não se lembra da promessa de construção do jardim infantil de Pinha, arrelvamento do campo de futebol de Bombardeiro, requalificação do residencial de Telhal, apoio para a agricultura, entre outras várias promessas que caíram no esquecimento? É de salientar que os projetos supramencionados constam, desde o ano 2008, nos planos e orçamentos da Câmara Municipal, também é de salientar a falta de qualidade das obras levadas a cabo pela edilidade, mostrando uma total falta de respeito à população da ribeira, o que é muito revelador do real estado de abandono da ribeira por parte da Câmara Municipal.
É certo que não se deve esperar outra atitude de uma edilidade com visão centralista, citadina e com amores por maquetes e projetos coloridos.
Uma localidade com séculos de história e com uma grande potencialidade agrícola, pecuária e turística (turismo rural e de montanha), potencialidades essas desaproveitadas por quem deveria e deve criar condições para que essas valias posam ser transformados em rendimentos para milhares de pessoas da ribeira que poderiam dali tirar algum provento.
O desemprego que assola a juventude também é uma outra prova clara e irrefutável do abandono pelo qual tem passado a Ribeira dos Engenhos. Jovens estes que, derivado a situação de abandono e falta de oportunidade, têm abandonado as suas localidades à procura de vida melhor nos grandes centros urbanos e muitos na emigração, causando assim mais problema à ribeira que nada poderá fazer para combater o êxodo da sua população, principalmente a sua força, os seus jovens.
A falta de sensibilidade para com os problemas que assolam a ribeira é ainda mais gritante no que se refere à agricultura. Sendo uma ribeira de vocação agrícola e derivado à seca é sabido a dificuldade pela qual passa a população da ribeira, dificuldade essa que não mereceu qualquer atenção da câmara municipal, porque não se vislumbra qualquer iniciativa da parte da edilidade local para fazer frente à seca que assola a ribeira. Mais grave ainda é o facto de, hoje, até a água para o consumo e uso doméstico tem faltado em muitas zonas da ribeira. Mas como pedir sensibilidade a quem em plena seca e falta de água deixa um furo cheio de água fechado em vez de disponibilizar água à população para fazer frente à penúria de água? A população de Pinha, certamente, nunca esquecerá dessa tamanha afronta e falta de respeito, e ainda hoje clamam por uma solução que passa pela disponibilização da água do furo para uso diário e na agriculta para fazerem frente a falta de água que tem assolado a localidade como toda a ribeira. Assim como milhares de jovens da ribeira anseiam por uma oportunidade de um emprego digno.
É hoje imperativo que a ribeira dos Engenhos esteja no centro das prioridades das autoridades locais, é imperativo devolver-lha a esperança de dias melhores e dar motivos à sua gente de continuar a trilhar e cumprir com a ribeira. Fazer isso não é e nunca será um favor à gente da nossa ribeira. Reclamar isso para a nossa ribeira é mais que um ato de cidadania, é um ato de amor, e nós devemos isso à nossa ribeira. Hoje temos a oportunidade de, com um ato de amor, devolver alguma esperança à nossa ribeira, para tal devemos abraçar e engajar a quem tem uma visão política clara para o mundo rural e para as suas populações. É a nossa responsabilidade e deve ser também o nosso compromisso devolver à ribeira tal esperança e criar melhores condições de vida para a nossa gente e garantir um futuro com oportunidades para as próximas gerações.
Para tal, devemos reclamar para a nossa ribeira alguns serviços estruturantes como uma delegação municipal de serviços desconcentrados, mais infraestruturas sociais e desportivas, onde podemos mencionar, a título de exemplo, um polidesportivo, uma biblioteca comunitária, centro de juventude devidamente equipado, entre outras várias infraestruturas que revelam de extrema importância para o desenvolvimento da nossa ribeira. Sem a edificação das infraestruturas supracitadas, os nossos jovens e a nossa população em geral estarão sempre em desvantagem aos demais jovens e pessoas das outras localidades do município, tratamento desigual que não devemos mais aceitar.
“Engenhu Ka debi Santa Katarina, mas Santa Katarina debi Engenhu”.
Bom análise ,já estamos esgotados!
Precisamos de eletrificação, aguá canalizada, emprego e formação para os jovens, reabilitação do Telhal uma zona histórica q se encontra ao abandono...
Excelente