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Por: Alexandrino Moreira Lopes**

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estudar em casa

Essa discussão marca uma diferença estabelecida no cerne da minha própria identidade, por ter nascido, crescido e vivido uma parte da minha vida num espaço ambíguo, na qual, o colonialismo português, feriu gravemente a existência de um povo, roubando-os seus recursos naturais (material e humano), reprimindo-os com trabalhos escravos e de capatazia, plantando discórdia no seio das suas comunidades, asfixiando as suas narrativas com as falsas histórias, assim, quebrando o elo harmônico desse povo com o jogo de classe, deixando o mesmo com a crise da identidade.

Não importa qual é o tipo de ação, no final de uma guerra a história legitimada, é aquela, que é contada pelos vitoriosos, e os oprimidos massacrados, serão desapropriados das suas histórias e culturas por uma hegemonia de força. Mesmo depois de dez anos de luta arma, para independência de Guiné Bissau e Cabo Verde, na qual, a ideia central de um dos maiores líderes dessa revolução, Amílcar Lopes Cabral, foi a libertação do jugo colonial, com objetivo de criar um homem novo, repleto da sua própria autonomia, com plena capacidade de se identificar e se representar, Cabo verde não conseguiu apropriar-se adequadamente da sua posição vitoriosa para contar autonomamente a sua própria história.

Desse modo, ficamos refém da nossa ação vitoriosa, o que nos levou a legitimar a história e a cultura dos opressores e agressores colonialista em nosso sistema Educativo. Essa postura adotada por Cabo Verde é classificado por diversos intelectuais contemporâneo que criticam a cultura hegemônica do ocidente, como violência epistémica, que é, o projeto remotamente orquestrado, vasto e heterogêneo de se construir o sujeito colonial como o outro. Essa violência epistêmica está invisibilizado e silenciado, estrategicamente na política, na linguagem, na religiosidade e na nossa educação. E quando, tentamos associar as nossas posturas nessa violência, o nosso sistema de educação serve como pano de fundo para as manobras ilusionista dos colonialistas.

Em análise, a minha crítica não se direciona especificamente há nenhum partido político e governo, mas sim, há uma conjuntura estabelecida desde a nossa independência. É plausível ação do nosso governo por implementação do “Programa Aprender e Estudar em Casa”, mas é necessário salientar, que essa ação não está isento da minha objeção. Levando em conta, que esse programa foi adotada primeiramente pelo governo Português, tendo em vista as suas necessidades, particularidade e especificidade, faz -se necessário uma profunda reflexão e estudo, para efetivação da implementação do programa em Cabo verde, sem ferir o direito de todos ter acesso a educação.

O ponto central da minha crítica, está centralizada na imagem publicado, que mostra distorções nos conteúdos disponibilizado pelo “Programa Aprender e Estudar em Casa”, partilha pela Televisão de Cabo Verde. A descrição do texto na imagem partilhada, apresenta Cabo verde como um País que não pertence a nenhum continente. Na verdade, sabemos que geograficamente Cabo verde Pertence ao continente Africana, e na descrição do texto da imagem partilhada, em momento algum essa relação foi evidenciada. Nessa mesma direção, o texto apresenta a localização geográfica de Cabo verde somente entre Brasil e Portugal, mostrando evidência claramente de tentativa de aproximação ao continente Europeu e Continente Americana, e assim, distanciando do continente Africano.

Libertamos das correntes que foram colocados em nossas mãos, mas agora, o nosso maior desafio é libertar da corrente que foi colocado em nossas mentes. Para o efeito, precisamos nos reinventar autonomamente em nossas próprias história e cultura, ciente das contribuições desencadeada pelas ações colonialista, numa versão da história que não romantiza o processo de formação de estado nação Cabo verdiana, assim como nos é apresentada.

Desse modo, para que possamos ser livres e sujeitos legítimos da própria história, devemos procurar estabelecer novas epistemologias e metodologias, comprometida com a re-significação de saberes e práticas emancipatória, capaz de restabelecer os problemas e os desafios sóciopolítico do nosso país. Para isso, devemos buscar uma ruptura com as teorias objetivista, racista, patriarcais, que no campo de produção de conhecimento, ignoraram o nosso movimento de pensamento e práxis, e optarmos por “desobediência epistémica”, que está vinculado a colonialidade, no sentido da configuração política sobre a identidade. A desobediência epistêmica pode ser ilustrado a partir da escrevivência, que é tomada como método de investigação, de produção de conhecimento e de posicionalidade implicada.

* Texto reflexivo referente a um conteúdo postado no "Programa Aprender em Casa" do governo de Cabo Verde, que carrega muitas contradições com a verdade sobre a nossa realidade. 

**Mestrado acadêmico em Sociobiodiversidade e Tecnologia Sustentável. Sou graduado em Ciências da Natureza e Matemática com Habilitação em Física. Sou ex presidente de associação comunitária de Cobom. 

 

 

Comentários  

+5 # José Anónimo 19-05-2020 17:20
Caro Dr. Moreira Lopes,
Sua análise é, sem dúvida, interessante, e não está desprovida de verdade. No entanto, eu gostaria de chamar a atenção para a quantidade de erros de português no texto. Eu não sei se o conteúdo apresentado nesta página é de sua responsabilidade, ou se se trata de erros cometidos por quem elaborou esta página de Internet. Infelizmente, erros de português dão mau aspeto, minam a credibilidade, mesmo se o conteúdo for interessante, correto ou bem elaborado.
Falando do conteúdo, independentemente das verdades que o senhor falou acerca de identidades, eu não tenho a certeza se a representação de Cabo Verde no mapa trata-se de um erro ou se se trata de uma magnificação, ou seja, a representação num tamanho maior e noutro sítio para chamar a atenção. Mesmo assim, se for esse segundo caso, há elementos que faltam para esse tipo de representação (mostrar Cabo Verde no sítio correto e com o tamanho correto, fazer linhas de chamada, etc.).
Talvez outra coisa para a qual o Sr. podia chamar a atenção era a escolha acertada (por parte dos professores) das imagens. Eu posso ver no mapa que o país Sudão do Sul não está lá. Em contrapartida, todo o território do Sahara Ocidental está representado como Marrocos. Isso preconiza uma um posicionamento político que não é o de Cabo Verde e, de certeza, não é essa a mensagem que os professores querem transmitir.
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+1 # Ângela Coutinho 18-05-2020 12:46
Texto interessante. Queria só deixar uma nota, como historiadora: durante o período colonial Cabo Verde nunca deixou de ser classificada pelas autoridades e considerada como uma colónia, depois província, AFRICANA de Portugal.
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+2 # Maria Pereira 19-05-2020 11:30
Cabo verde foi província ultramarina e Portugal continental também era dividindo províncias
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-1 # Maria 18-05-2020 09:44
A lacuna identitária existe naqueles que se recusam a compreender que somos a miscenização de vários povos, tanto africanos como europeus (e mesmo uns poucos mais) que, no que chama o melting pot, que realmente existiu em Cabo Verde como talvez em nenhum outro lugar do mundo, deu uma nova identidade, linda, em pudemos aproveitar característica dos dois lados. A lacuna identitária está naqueles que querem puxar para um ou outro lado, o que, claro, é impossível, pois esse lado não existe mais em pureza, pois será sempre misturado com algo do outro lado. Mas isso não é negativo, é muito positivo. Hoje sabe-se que mesmo geneticamente os indivíduos mais fortes e ricos geneticamente não são as "raças puras", mas aqueles que têm um "pool" genético diversificado. Se não tivesse havido colonialismo, não seríamos o que somos. Aceitemos o que somos, sem lamentos de africanismos nem de europeísmos. A independência apanhou-nos no ponto em que estávamos, e a roda da história e da cultura não pode ser voltada para trás! Construamos sobre a consciência que temos de ser povo (diferente dos outros na sua cultura, história e etnicidade), nação e agora país independente, e tracemos o nosso rumo livres dos complexos do colonialismo, do tribalismo, e outros ismos que nos impedem de sermos quem somos. Viva este povo lindo, que por vezes erra o caminho, mas que tem de continuar a traçá-lo na rocha dura das nossas montanhas ou nas areias suaves das nossas praias. Deixemos esses complexos, como os que este artigo revela, para nos emanciparmos mentalmente, de uma vez por todas dessas amarras a que muitos estão apegados. Somos cabo-verdianos e não há outro povo igual. Pode haver semelhantes. Mas cabo-verdianos, só nós! Nem superiores nem inferiores aos outros. Capazes como qualquer um, desde que saibamos escolher o que é melhor para nós!
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+1 # Isabel Pereira 19-05-2020 05:37
Muito bem dito
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+3 # Daniel Carvalho 17-05-2020 17:26
Na verdade, não compreendo o porquê da tentativa sistemática de negar a nossa pertença ao Continente Africano. Da minha parte, de há muito que deixei de participar nesse debate, ou talvez mera conversa estéril.Esta decisão foi tomada quando cheguei à minha conclusão de que do ponto de vista geográfico somos africanos; do ponto de vista cultural somos africanos, ciente de que não existe uma cultura africana, europeia americana ou outra, mas sim que CULTURA É DIVERSIDADE. Quem quiser participar neste debate,primeiro tem que estudar e compreender bem, o que significa RELATIVISMO CULTURAL.
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-9 # Isabel Pereira 19-05-2020 05:42
A africaniedade em cabo verde é percentual
Com mais incidencia em Santiago.
Costumes africanos , mais prevalência em santiado e musica sim.alimentacao o dia a dia nao revejo a africa.
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