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Por: Paulo Varela

 Paulo Varela Ponto de Vista

Quando o leão ruge a selva sacode e a bicharada se recolhe, o mesmo acontece quando o tubarão ronda.

Este é um principio natural de demonstração de força e respeito pelo predador. No entanto, a mesma natureza de tanto sacrificar o mais fraco, acabou por permitir que um outro princípio viesse à evidencia: "A união faz a força, junto somos mais fortes... etc..." O principio da unidade!

Foi assim é que surgiu necessidade de os animais formarem grupos e passamos a conhecer o cardume, a matilha, o enxame, a manada, etc... e com o andar do tempo e o aparecimento da raça humana - homo erectus -, este acabou por sentir a mesma necessidade de se proteger, acabando por se organizar em clãs, que evolui até à constituição do Estado como forma de organização social mais evoluída e que até hoje rege nossas vidas.

No entanto, o Estado enquanto elemento social, admitindo a necessidade de se ajustar à dinâmica e ao contexto humano, experimenta ao longo da história, diferentes sistemas e formas de gestão social, que convencionamos chamar de "governação". Desde o sistema feudal, até a monarquia, as republicas e dentro destes sistemas, nós, nações e povos com menos experiencia de "Estado", passamos por duros momentos de submissão, como a escravidão e a colonização. Mas, finalmente chegou o advento do iluminismo e nossos filhos ilustres acabaram por frequentar as universidades e se nutrirem do conhecimento que conduziu a Africa, particularmente, a momentos de resistências planificadas, resultando nas independências e na sequência a evolução a sistemas de democracia contemporânea, o que nos faz hoje viver em Estados de direito democráticos.

Este enquadramento, não é, nem pretende ser, novidade, pois estes são conhecimentos elementares de qualquer individuo minimamente informado, mas o que, sim, pretendemos é repassar, com o intuito de refrescar nossa memoria de que somos todos resultados de um processo que vem de muito longe.

Vários sistemas deram excelentes contributos para a humanidade, vários impérios venceram gloriosamente e cumprindo majestosas missões, viram suas torres mergulharem em areia movediça, enquanto seus valentes guerreiros protegidos e lideres intocáveis, hoje são simplesmente lendas de histórias sangrenta e muitas delas injustas à luz dos novos tempos.

Esta reflexão fica como convite e recomendação a todo homem detentor de poderes extra-individual: Avaliar profunda e humanamente cada decisão a tomar, pois a lei, ela, é traiçoeira e nem tudo que é legal é justo: A escravatura era legal e a pena capital, ainda o é em alguns pontos da terra de várias formas - desde o apedrejamento publico à eletrocussão-.

Preocupa a arrogância e a prepotência, duas doenças do nosso tempo. E o que mais doí é que a vida e o sofrimento, são imensuráveis, portanto, bens intangíveis. Consola minimamente saber que certas atitudes, julgamentos e contenças foram mal ajuizadas, mas, nenhuma medida compensa a dor da injustiça.

Neste nosso país pequeno e carente, não se pode conceber que um único Cabo-verdiano, que assume querer servir à Nação, tenha à sua disposição um meio para o transportar que custe ao Estado o recurso que uma família inteira não consegue arrecadar durante toda sua vida e esta mesma família mora em condições que este veiculo adquirido a custo racional, daria para lhe garantir o direito à habitação condigna.

O que impede o Estado cabo-verdiano de criar um pacto com a sociedade de não adquirir viaturas acima dos três milhões de escudos. Hoje com este valor, encontra-se carros confortáveis e com garantia de longevidade. Assim, estaríamos a poupar entre três a sete milhões de escudos Cabo-verdianos por cada carro topo de gama disponível no nosso parque automóvel publico. Assim, estaríamos a passar à sociedade um exemplo de gestão ajustado às condições do país. A principal fonte da violência é a frustrante desigualdade social!

"... O país tem poucos recursos, no entanto há que fazer esforços e sacrifícios...", pois isto é consensual ...

Mas, então vamos todos nos sacrificar e esforçar, senhores, diretores, deputados, ministros e gestores públicos. Vós estais a consumir a fatia que daria para saciar a fome ao povo que vive na miséria oficialmente. Consomem-no nos vossos salários, em combustível, na comunicação, nas mordomias e abusos inconscientes, motivados pela falta de sensibilidade. É que se habituaram a viver bem e se esqueceram do pobre - imaginem que o filho do povo pobre, vezes sem conta, não leva lanche ao jardim e nem está matriculado, no entanto, vosso filho é levado à sua custa-. A justiça é o produto de várias atitudes justas!

Então, chegamos ao final deste raciocino e com que conclusão? Os animais aprenderam a viver em grupos para se protegerem e continuam a criar cada vez melhores sistemas de resistência contra seus predadores, verdade?

Enquanto que o homem passou por vários estágios de organização até chegar a Estado, para nesta fase superior e sublime de sua história, passar a desprezar e entregar aos predadores sua facção mais importante e frágil, o Povo pobre!

Resgatar o princípio da Unidade do Estado e da Nação é fundamental para a nivelação do bem-estar e da paz social.

Comentários  

+2 # Leão Varela 28-02-2020 10:49
É triste saber que membros do mesmo partido, outrora camaradas de luta, hoje, por causa da ambição desmedida ou ganância desenfreada são inimigos ferozes.
Não se consegue perceber a natureza humana! O ser humano chegou ao estágio tal que não se importa minimamente em transformar uma comunidade numa nação politica e socialmente miserável e desconsiderada na arena internacional.
Quando o homem se tornar insensível e intolerante para com o seu próximo é o princípio do fim. Guiné-Bissau tem tudo que a mamãe terra pode oferecer para se viver e ser feliz, entretanto, um dos animais feito à imagem e semelhança de Deus se transformou numa ameaça à sobrevivência da sua própria espécie. Outros animas ditos irracionais se cuidam mutuamente, se protegem entre si e só lutam por alimento, pela sobrevivência ou pela conquista dum espaço na natureza, enquanto nós – os racionais, entramos em conflito por nada: por ódio racial, por vingança, por birra, pela luxúria, por vaidade, pela cobiça e até por futilidade.
O homem do ponto do vista físico não foi provido de nenhum instrumento para brigas como acontece com grande parte dos irracionais que nascem já com garras, venenos e outros instrumentos de ataque e defesa. Porém, sendo racional, para não ficarmos para trás e porque somos os mais ferozes dos animais, investimos o pouco que temos em conflitos enquanto deixamos nossos irmãos morrerem à míngua um pouco por todo o lado. A pretexto da política, arrasamos a riqueza da nação, arrastamos milhões à miséria, ceifando vidas e lançamos tristeza entre os homens. Porquê meu irmão?
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+1 # Felisberto Nunes Pin 28-02-2020 10:44
Boa! Pena leve e raciocinio suculento.
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0 # Paulo Varela 28-02-2020 14:29
Pena leve e raciocinio suculento.

Agradecimentos, tomei como critica. Pois, me reforça a responsabilidade de não defraudar.

O que poderei dizer, a mais de que tudo farei para continuar a dar mais suco ao raciocino e fazer da pena, um instrumento cada vez mais ligeiro e transcendente à consciência.

Abraço Grande e amigo
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0 # Paulo Varela 28-02-2020 14:25
"O homem do ponto do vista físico não foi provido de nenhum instrumento para brigas como acontece com grande parte dos irracionais que nascem já com garras, venenos e outros instrumentos de ataque e defesa..."

Apreciei seu comentário e registei este particular que tiro como um dos grandes ensinamentos deste exercício. Obrigado e seja feliz, cada vez mais humano e cultive seriamente a justiça. Abraço Grande, Paulo Varela
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