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Por: Avelino Bonifácio

Avelino Bonifacio

O hub aéreo, com base no Sal, é um negócio estratégico para CV, que parece não causar dúvida a nenhum cidadão lúcido e intelectualmente honesto, nem celeuma na nossa sociedade.

Não sendo condição imprescindível, poder-se contar com a TACV/CVA como companhia charneira para a operacionalização do hub é, igualmente, uma boa visão. Aliás, sendo um ramo de negócio tão estratégico para CV e sua economia, o desejável seria que o Estado preservasse maior poder de influenciação na gestão dessa companhia.

Situação bem diferente é a parceria (estratégica!?) (de terceira, aceite e não identificada com base na nossa visão (nacional!) do negócio) e, sobretudo, a forma desastrosa como ela foi montada, lembrando que a TACV/CVA é uma peça importante para a operacionalização ou, pelo menos, para a alavancagem, do hub.

Pior que a forma desastrosa como a parceria para a TACV/CVA foi montada, só mesmo a forma calamitosa como a companhia vem sendo gerida, até prova em contrário:

1. Com os aparelhos alugados pelo parceiro (estratégico!?) a custo quase três vezes superior ao praticado no mercado, vem-se assistindo a uma alta intensidade de abertura de novas linhas e de chegada (aluguer!) de mais aviões, sempre ao parceiro (estratégico!?);

2. Despede, sem estudo aturado, e com indemnizações milionárias, empregados mais experientes, principalmente os da manutenção e das operações, para meses depois voltar ao mercado;

3. Muda a sua base para o Sal, desmantela a manutenção (que tem sido dos suportes mais estruturais da companhia), negoceia a pré-reforma com mais uns tantos colaboradores dos mais experientes e suporta encargos com a reinstalação de, provavelmente, mais de uma centena;

4. Sem se conhecer eventuais estudos de viabilidade das linhas, assiste-se a campanhas de promoção tão convidativas, que só não têm sido mais atrativas, porque contrapostas com péssimos serviços;

5. A taxa de ocupação dos voos nas novas linhas, bem como a rentabilidade das mesmas, continuam uma incógnita;

6. O artigo “…identifica receitas…de 37,2 milhões de dólares…” quando “… o plano de negócios da companhia … previa faturar mais de … 81,9 milhões de euros …” e teve "…despesas de 1,1 milhão de dólares(?), em 2019;

7. Como pode uma companhia com centenas de colaborados, que não são mal pagos, com 5(?) aviões alugados a custo que pode ascender a um milhão de euro por mês, ter despesa de 1,1 milhão de dólares num ano!?;

8. O parceiro (estratégico!?) vem dizer que a companhia poderá dar lucros a partir de 2021, mas precisa de empréstimos de longo prazo. Ficou a faltar ao artigo esclarecer a quem cabe assegurar, à companhia, esse empréstimo de longo prazo, ou seja, se ao parceiro (estratégico!?) ou se ao Estado;

9. Quando, a partir de 2021, (que Deus não permita!) a CVA não der lucros, provavelmente porque a companhia não terá conseguido os tais “empréstimos de longo prazo” (não por culpa do parceiro (estratégico!?), é óbvio!), quanto esse mesmo parceiro (estratégico!?) já terá desembolsado em aluguer dos seus aviões amortizados e que, fora dessa parceria, estaria em dificuldades para rentabilizar?

Quanto aos serviços prestados pela CVA, apenas um exemplo por mim próprio vivenciado, para juntar aos muitos que são, quase quotidianamente postos a circular, apesar do esforço de “contenção” que se tem feito:

1. Com passagem Praia/Sal/Fortaleza/Brasília/Rio de Janeiro, cheguei ao Sal no passado dia 23/1;

2. Feito check-in e já na sala de embarque, o voo foi sendo, sucessivamente, atrasado durante horas para, finalmente, ser cancelado;

3. Quase uma centena de passageiros são transportados, de madrugada, num hiace e em vários táxis e são hospedados num dos hotéis de Santa Maria;

4. No início da tarde do dia seguinte, recebemos, no hotel, nossas bagagens despachadas no dia anterior e somos informados que seremos recolhidos às 19h30 para o aeroporto. O autocarro chega com pouco mais de uma hora de atraso;

5. O cancelamento do voo fez-me (e a alguns dos demais passageiros) perder os voos de ligação;

6. Ciente dos meus direitos exigi a responsabilização para os itinerários perdidos. Alguns outros também o fizeram. Porém os prejuízos de chegada com 24 horas de atraso não são recuperados;

7. Quatro dias antes de regressar, leio na comunicação social que o único ATR da companhia, que assegura os voos internos, não está a operar;

8. Contacto a minha agência de viagens para providenciar o meu regresso Sal/Praia, que devia ser feito no referido ATR cerca de uma hora após a minha chegada ao Sal;

9. Minha agência comunica-me que não poder providenciar alternativa de regresso à Praia, uma vez que o voo no qual eu estava confirmado constava, inalterado, no sistema;

10. No dia do regresso, chego para check-in no Aeroporto no Rio, sou informado que o meu nome e o da minha acompanhante não constam no sistema. Depois de alguma discussão, eis que chegamos à conclusão que, não tendo viajado, na ida nessa companhia, no dia previsto (devido ao cancelamento do voo dos TACV) e, não tendo a CVA comunicado a alteração, o sistema eliminou-nos, automaticamente para o voo de regresso;

11. Com alguma sorte e dose de compreensão dessa companhia, não nos obrigaram a comprar nova passagem de regresso;
Chego em Fortaleza e, ainda antes da abertura do check-in, dirijo-me à representação da CVA para saber da alternativa de voo Sal/Praia. Sou informado que não há qualquer alteração no sistema, mas que posso colocar a questão no balcão do Check-in;

12. Coloco, mais tarde, a questão no check-in, e sou informado que não há alteração e que sou despachado, com cartão de embarque, até Praia;

13. Chego no Sal pouco antes das 6 da manhã e, ao pretender fazer o trânsito para Praia, sou informado que esse voo não existe e que devo contactar a companhia;

14. A companhia dá a alguns a possibilidade de viajar para Praia às 14h15, via S. Vicente, mas ignora a necessidades de nos instalar. Face à nossa exigência, as empregadas admitem essa possibilidade, mas “inventam” procedimentos, ... pedem levantamento das bagagens que haviam sido despachadas até Praia mas que, entretanto, deixam na pista e nos obrigam a esperar por mais de uma hora, … ganham tempo e, quando já eram quase dez horas, alegam já não justificar instalar-nos no hotel;

15. Os mais briguentes conseguem senha para café. Para nós, os mais flipados, nem um copo de água;

16. Outros passageiros, incluindo um casal brasileiro que veio na nossa companhia, ficaram para irem tentar sua sorte no dia seguinte.

Com esses serviços, não há estratégia nem gestão que aguenta!

* Texto publicado pelo autor no Facebook.

Comentários  

+2 # Gastão Elias 12-02-2020 23:05
Lembram se deste senhor como ministro da economia? Afinal ele é especialista em gestão de companhias aéreas. Afinal, em 2005, ele foi substituído por João Pereira Silva. Mas, o governo de então devia era uma nomeação para os TACV. Na altura ficou calado e a empresa estava em falência. Agora vem o agouro.
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+3 # Emelena Alfama 12-02-2020 16:02
Imagina Avelino Bonifácio nós que nosso trabalho depende muito de um avião principalmente nesse vôo para Fortaleza e mais conexóes uma tremenda tortura e não venham dizer para nenhuma comerciante do sucipira que no tempo do outro governo tinham dívidas (se tinha era o govermo )e nós estava-mos bem servidas
Tinha vôo da praia para Fortaleza e vice verça agora é tudo via Sal ,vôos são cancelados sem dar satisfação ao passageiro excesso de bagagem a preço de ouro e sem saber se vem com o passageiro pu não às vezes demora 4ou mais dias para virem do sal autêntico falta de respeito estamos quase a chegar ao nosso limite e chamar Sr.ministro dos transportes a ter mais em conta o povo dessas ilhas
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0 # SÓCRATES DE SANTIAGO 12-02-2020 15:18
Pelos vistos o COISO TACV/CVA não vai nada bem. E é o próprio Conselho da Administração da empresa a dizer, Segundo o mesmo, o COISO TACV/CVA não tem estado a ter resultados positivos, e, para isso acontecer, terá que fazer investimentos avultados a longo prazo. São não disse com que aval. Do Estado? Dos outros parceiros? Em 2021, se as coisas não correrem de feição para o COISO TACV/CVA, podem crer, caros manos verdianos, os NOVOS DONOS da empresa vão- se embora, deixando- nos COM UM CEMITÉRIO DE SUCATAS E BOKA- RUSSU. Infelizmente, já sem nada, o FINADO TACV/CVA regressa à BASE INICIAL, O AEROPORTO INTERNACIONAL NELSON MANDELA, DA PRAIA, donde nunca o COISO deveria ser saído. Quanto às reclamações pelos maus serviços prestados, meu caro João Renato Soares, não é apenas o CIDADÃO AVELINO BONIFÁCIO LOPES a o fazer, também muitos outros nacionais têm vindo a o fazer assim como muitos estrangeiros. É triste, muito triste dizer isto- Em termos de serviços prestados pelo COISO TACV/CVA, regressamos aos tempos do DJO- KANELA- tempos dos aviãozinhos velhos que circulavam pelos céus do arquipélago.
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+3 # João Renato Soares 12-02-2020 12:53
Não sei o jornal irá publicar ou não a minha opinião, que não normalmente não converge com a linha nem dos editores, nem dos seus colaboradores, como é o caso deste Senhor. Mas vamos lá por partes: "TACV da nossa desgraça". Genial. Fui às revistas especializadas do sector aeronáutico do mundo inteiro para ver como os cidadãos dos diferentes países tratam as suas empresas áreas, sejam elas públicas ou privadas. Em inglês, português, francês e espanhol, vi e li críticas muito contundentes. Nenhuma delas chega ao ponto de chamar a companhia nacional de desgraça do seu povo, mesmo para aqueles que enfrentam desafios maiores que a nossa CVA. Mas é tempo de deixarmos dessa lengalenga de que, quando somos detentores de poder político (Governo), nos omitirmos das nossas responsabilidades (este senhor foi Ministro da Economia), e tão logo sairmos do Governo, decisões antes difíceis (nós), se tornam agora são fáceis de tomar e, só não são tomadas por incúria do agora detentores do Poder, muitas vezes adversários internos ou externos. Essa sim, essa é a nossa tragédia, essa é nossa desgraça! Falta-nos homens que encarram de frente as suas limitações técnicas e profissionais e por vezes políticas (nem sempre as conjunturas permitem determinadas decisões) e com coragem para permitir que outros exerçam o mandato do voto popular. Sobre a Cabo Verde Airlines, várias teses poderiam ser escritas, mas não foram. Até agora conjeturas, escárnio, maldizer e outras. As únicas teses escritas e conhecidas são a dos fundadores da empresa, no momento em que Cabo Verde precisava afirmar e a outra, dos que entenderam o momento certo para reformar a empresa. Em ambos os casos, dou os meus parabéns aos distintos corajosos. O Sr Avelino teve a oportunidade de fazer do segundo grupo. Porém omitiu-se! A única tese que consegue escrever é a da desgraça, ao contrário dos que querem reconhecem problemas e querem ver a empresa a prosperar e vencer os seus enormes desafios. Onde está a colaboração do agora génio da aviação civil? Onde está a colaboração para uma engenharia financeira diferente da que é posta é prática? Não existe! Existe sim, uma enorme vontade (gana) de ver as coisas tortas e no final, o nosso caboverdianíssimo "Djan Fla Nhós". Pára com isso Avelino. Diga o que faria de melhor e informa porque razão não o fez quando tinha como faze-lo. Não quero, de jeito algum, interferir ou questionar o direito legítimo de expressão do cidadão Sr. Avelino, mesmo que esse direito desemboca numa grande "non-sense", porque não explica as alternativas possíveis para o mesmo problema. Não quero também negar que a CVA ainda voa num céu de problemas. De resto, os fundadores da TACV também enfrentaram problemas muito graves até colocar de pé uma companhia aérea nas condições em que o País nasceu em 1975. Apenas exerço o meu direito de discordar dele e de muitas outras opiniões concordantes ou não com o modelo que foi encontrado para reformar a CVA.
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-5 # Duo Lex 12-02-2020 14:36
Joao Renato Soares, o teu silêncio brilhava muito mais que a trapalhada deste teu pobre comentário. Calado brilharias que nem um poeta!
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