A propósito do Sindicato dos Médicos denuncia precariedade e limitações humanas e materiais no HAN
Lemos, com alguma atenção e cuidado, o comunicado do Conselho Nacional do SINMEDCV, de 31 de outubro de 2019, assinado pelo seu presidente, Dr. Nilton Pinto, em resposta a uma suposta denúncia de alguns médicos ligados ao Serviço de Urgências de Pediatria do HAN.
As razões da denúncia, segundo o Dr. Nilton Pinto, é aumento da demanda registada, recentemente, ao Banco de Urgência de Pediatria do HAN.
É natural, em todas as latitudes, haver períodos sazonais de maior demanda aos serviços de urgência, no inverno, por causa das infeções respiratórias, no período de chuva, em Cabo Verde, por infeções gastro/intestinais e respiratórias. Nada de novo e que esteja fora do controlo e das previsões dos responsáveis do SNS, e medidas de mitigação já foram tomadas, no Hospital, aumento de quatro berços e treze camas para internamento na Urgência do HAN e na Delegacia de Saúde da Praia, abertura de urgência e prolongamento do horário de funcionamento de alguns Centros de Saúde da Praia Urbana, nomeadamente o da Fazenda.
Disse o articulista que “tem a noção dos avanços, investimentos e das infraestruturas realizados pelo Ministério da Saúde e da Segurança Social nos últimos anos para melhorar as condições da atuação médica, no entanto, no que concerne aos serviços de urgências da Pediatria e dos adultos do Hospital Dr. Agostinho Neto não se tem verificado idêntica evolução. Tal situação é muito preocupante pois tratam-se de serviços críticos do Sistema Nacional da Saúde”.
Congratulamo-nos com o reconhecimento de que estamos num bom caminho e que não é possível resolver todos os constrangimentos de uma só vez, step by step chegaremos lá.
Infelizmente, por não ser verdade, manifestamos a nossa discordância, quando o Dr. Nilton Pinto diz que “Tem pautado para o diálogo com as entidades sanitárias responsáveis, mas as respostas muitas vezes tardam em solucionar os problemas que se vem arrastando desde há anos, não vislumbrando soluções a curto prazo a não ser a de sobrecarregar os médicos e congestionar o atendimento público, dado ao elevado número de serviços de urgências prestados”.
O Dr. Nilton Pinto nunca dialogou com a esta Direção do Hospital e, se a memória não nos falha, também não houve qualquer pedido de encontro do SINMEDCV com a atual Direção do HAN. Se tivesse havido esse propalado encontro é muito provável que o conteúdo do comunicado seria certamente diferente, pelas seguintes razões:
1. Foi feito considerável investimento em recursos humanos no BUA, passando de dois para quatro médicos, dois no Internamento do BUA, um Intensivista e um Internista, e dois no Balcão. Frequentemente o Balcão é reforçado com mais um médico, das 8 ás 15 horas. Antes da nossa gestão o Serviço de Urgência de Adultos era assegurado por dois médicos;
2. O Banco de Urgência de Pediatria sofreu obras de melhoria recentemente e as intervenções irão continuar no corrente mês, mas reconhecemos a necessidade de reforço do pessoal médico e de enfermagem, dada a pressão sempre crescente sobre este Serviço ;
3. Foi requalificado, em 2019, o Serviço de Admissão e Gestão de Utentes, que está á vista de todos, com melhores condições de atendimento;
4. Foi elaborado o projecto de requalificação do BUA e aguarda-se pela conclusão do processo administrativo e dos procedimentos legais para se iniciarem as obras que serão continuadas no quadro OGE para 2020;
5. A Maternidade, a Ortotraumatologia, a Cirurgia Geral e a Medicina Interna tiveram obras de manutenção recentemente em vários milhares de contos;
6. Está em curso o processo de aquisição de RX (fixo e portátil), TAC, Mamógrafo, Ecógrafo, Sistema de Arquivo de Imagens e Sistemas de Dosímetros, infelizmente, por razões processuais, foi anulado o concurso realizado em 2018, mas espera-se terminar o novo concurso antes do fim do corrente ano;
7. Mais de 90% dos médicos e enfermeiros foram promovidos com a publicação dos novos estatutos das carreiras médica e de enfermagem e, todos os técnicos que fizeram licenciatura foram reclassificados, com enorme impacto orçamental de cerca de 300.000 contos;
8. O Hospital fez considerável esforço, orçamental e financeiro, aumentando o vencimento em 2,2% de todos os trabalhadores que recebem por verbas próprias do Hospital (cerca de 450 trabalhadores).
Reconhecemos que há um longo e difícil caminho a percorrer, mas estamos na trajetória certa.
Como PCA do Hospital Agostinho Neto sublinho que é também totalmente falsa a afirmação do Dr. Nilton Pinto, quando escreve, com algum grau de irresponsabilidade, que o HAN tem falta medicamentos e consumíveis (luvas, gesso, lençóis, etc.) e deficit de higiene. Só para esclarecimento, o HAN adquiriu, pela primeira vez, em 2018/2019, cerca de 3.000 lençóis, infelizmente, centenas já foram subtraídos, por desconhecidos. O Hospital tem cerca 250 ajudantes de serviços gerais para higiene física dos serviços e dos doentes, higiene essa reforçada por uma empresa privada no BUA. Não tem havido roturas de medicamentos, reagentes e dispositivos médicos para por em causa a qualidade e continuidade de cuidados médicos. Essas afirmações merecem reparos por não serem verdadeiras.
Infelizmente, em Cabo Verde, todos opinam no Sector da Saúde, embora a maioria desconheça, ou seja incapaz de argumentar com indicadores sanitários, parâmetros de comparação objectiva, utilizados pelas organizações credíveis e insuspeitas, como Banco Mundial, OMS, de entre outras e não baseada no “achismo” Cabo-verdiano.
Os indicadores de saúde em Cabo Verde demostram que temos um bom Serviço Nacional de Saúde, relativamente robusto, muito próximo da eficiência, e que na nossa Região Africana constitui modelo de análise e admiração.
Fruto de esforço colectivo, temos na nossa Sub-Região Africana a maior esperança de vida (superior a 72 anos), menor mortalidade geral (menor que 5/1000), infantil (13/1000) e em menores de cinco anos (17/1000), menor mortalidade maternal (0-44/100.0000), e, no quadro da CPLP, Cabo Verde, em alguns indicadores sanitários, está em segundo lugar, logo atrás de Portugal.
Países com muito mais recursos de que Cabo Verde não conseguem disponibilizar os cuidados médicos que Cabo Verde presta aos seus cidadãos.
Precisamos consolidar esses ganhos, criar um quadro de sustentabilidade, investir em cuidados mais diferenciados (novas infraestruturas, melhor organização, mais tecnologias médicas, recursos humanos mais especializados e motivados), mas num quadro de razoabilidade e de reais capacidades económicas de Cabo Verde.
Recentemente, esteve entre nós, o Senhor Embaixador da Santa Sé em Cabo Verde e representante do Papa Francisco, que disse, publicamente e na TCV, que o que viu no HAN deveria constituir motivo de orgulho e de incentivos para fazermos mais e melhor. Só quem não ouviu quem não quis!
Estamos disponíveis para receber e debater com os Dirigentes do SINMEDCV todos os aspectos referentes ao funcionamento do HAN em prol de mais e melhores cuidados de saúde à nossa população. A nossa única motivação é servir a população Cabo-verdiana.
*PCA do HAN
**Título da responsabilidade da redação
Os index que apresentas (mortalidades, esperança de vida etc.) nao sao frutos da sua gestao mas o resultado de um longo percurso que CV atravessou desde a independencia a esta data. Que os serviços de saude sao precarios e estao a degradar a passos largos tambem nao se pode negar... cuidados, recursos, higienes etc) sao questoes lamentaveis nos nossos hospitais. Falo de experiencias que familiares e amigos proximos tem vivido nessa instituicao que infelizmente nos acolhe a todos em momentos criticos. Por isso se se critica a qualidade de serviços, nao creio que seja para derrubar essa instituiçao, pois ela nos serve a todos em momentos mais criticos e dificeis da vida, mas sim para impulsionar as melhoras que a mesma clama. Se quiser saber de problemas de toda indole que afecta o nosso hospital e so pergunatr que muitos se prontificarao para enumera-las. Ninguem serio e consciente im[censurado]ria todos esses erros a sua gestao pois sao coisas que vem se alastrando de muitos anos de desleixo (sim desleixo) e falta de recursos, para ser mais explicito...POBREZA DE TERRA.... Ate posso sugeri-lo que entre numa das enfermarias e veja sangue seco impregnado nas estructuras metalicas das camas, assim como algumas dessas quebradas apoiadas sobre canecas de metal etc etc. Antes de negar serios problemas e tentar resolve-los tenha hombridade e pudor profissional de aceitar e reconhecer que sim temos problemas e graves pois so assim podera fazer face aos mesmos e resolver o que for possivel. Assim todos agradecemos. Nao se esconda detras de estatisticas que pouco tem a ver com Julio Andrade. Abraços
Também participei, como os meus contemporâneos, na melhoria do nosso Serviço Nacional de Saúde. Fiz a minha formação em Portugal há 33 anos, por conta própria, tendo regressado ao país numa altura que Cabo Verde tinha 43 médicos nacionais. Sinto-me feliz por isso e não me arrependo. Dei o meu contributo em Santiago (Praia e Santa Cruz), Fogo, Maio, Sal, Boavista e menos na Brava.
O que o Senhor escreveu corrobora tudo o que está na minha resposta ao artigo de SINMEDCV.
Agradeço o seu comentário e lhe convido, com acompanhamento da Comunicação Social, para fazermos uma ronda às enfermarias do HAN e constatar a boa qualidade do internamento dos nossos doentes: lençóis limpos e asseados, casa de banho condigna, água quente e fria para os doentes, ar condicionado e ventoinhas e boa alimentação. A existência de um outro utensílio velho não tem importância em termos de tratamento ou conforto dos doentes. Estive em Cuba por duas vezes, por conta própria, para conhecer o Sistema de Saúde Cubano. Cuba que tem um dos melhores Sistemas de Saúde, reconhecido por entidades insuspeitas, vi a convivência de equipamentos modernos com outros mais degradados. Na saúde, interessam mais os resultados do que os meios utilizados. É mais eficiente aquele que tem melhores resultados com menos meios. Há países ricos, com muita tecnologia, com os melhores médicos e hospitais no mundo, mas quando se comparam os resultados, baseados nos indicadores sanitários, têm desempenho muito inferior ao dos seus pares com muito menos recursos.
Reconheço que ainda não temos condições óptimas, e nunca iremos ter, mas como disse em cima, estamos na trajetória certa, na perspectiva de resolver alguns dos grandes constrangimentos do Hospital.
É falsa a afirmação de que os serviços estão degradando, pois foram feitos investimentos, obras de manutenção, na Maternidade, Central de Consultas, Medicina Interna, Atendimento, Ortopedia, Cirurgia Geral e Pediatria e Centro de Diálise. Venha ver, não são conversas para o boi dormir.
Está em processo de adjudicação as obras de requalificação do Serviço de Radiologia e concurso para aquisição de equipamentos no valor de 110.000 contos.
O Projeto de Banco de Urgência de Adultos está elaborado e aguarda-se aprovação pelos órgãos competentes.
As obras no Banco de Urgência de Adultos têm de ser feitas com cuidado necessário e redobrado porque é o único existente na Praia e recebe doentes de toda a Região de Sotavento, 75% os doentes evacuados das ilhas do Sal e Boavista e 50% dos doentes de São Nicolau. Não é como fazer obras numa enfermaria ou Central de Consultas, com hipótese espaços alternativos. Não é possível chegar e fechar o Banco de Urgência para obras.
Nao se pode negar melhorias siginificativas nos serviços de saude assim como tudo em CV pois nunca negaria todo o progresso que o pais conseguiu em toda a esfera nacional sem excepcao desde a independencia a esta data. Contudo, verdade incontestavel é que os serviços de saude em CV de forma geral, Praia nao seria excepcao, sao precarias tanto em termos de acesso e qualidade de servicos. Muyitos dos problemas advem do facto de que carecemos de muitos recursos tecnologicos, financeiros, e humanos preparados a altura para fazer face aos desafios diarios. Digo preparado a altura pois muitas perdas humanas poderiam ser evitadas caso esses pacientes estivessem noutras paragens. Nao Culpo ninguem em particular pois sem muito bem o quanto o ambiente em que nos encontramos inseridos determina as nossas abilidades. Mas tambem ha casos de erros graves e negligencias humana!!! Infelizmente em CV esses nunca sao processados o que ajudar a reduzir a confiança do publico no Sistema de saude em geral. Por favor nao me conteste que nao ha casos graves do tipo so que em CV esses sao abafados e nao saem do circulo medico/saude. Concordo consigo quando diz muita coisa melhorou tais como como a introducao de muitos servicos antes inexistentes mas acredito que as melhorias nao foram par e passo com os investimentos.
So para mencionar alguns problemas faceis de resolver… Um familiar meu foi visitar a mae no hospital e vendo a sujeira de sangue seco e impregnado na cabeceirra da cama, buscou uma ligadura para cobrir o mesmo pois nao pode sujeitar tanto desleixo. Isso para mostrar que todo o Sistema tem o seu problema. Nao se culpa o director ou o administrador pois embora sendo responsaveis por tudo que passa dentro do hospital, cada um devia fazer o seu papel e contribuir para a melhoria do Sistema de saude desde serventes aos directores e pessoal medico tanto clinica geral como os especialistas. Vi que mencionou sobre o desaperecimento de artigos (bens materiais) do hospital. So nao teve a coragem de dizer que ha roubos de inclusive utensilios medicos do hospital que sao desviados a clinicas privadas inclusive as de praticas clandestinas. Disso se falava desde os anos 80’s. Sera que o mesmo comportamentos se verificam que leva ao diminuicao dos stocks a ponto de prejudicar o proprio funcionamneto do hospital? Seria bom inteirar-se disso tambem. Pode ser que os medicos que labutam diariamente nas enfermarias estejam a enfrentar isso. Acho que ja mencionei bastante topicos que tenho trazido atravessado na garganta e aproveitei esta oportunidade para ventila-los mas acho que paro pois o trabalho reclama por mim. Tenha um bom dia e sucessos, mas antes de deixo um conselho… aproxime-se mais dos seus colaboradores que estao nas frentes e inteire-se dos problemas que enfrentam. Nao creio que nenhuma das partes estejam interessados em conflitos administrativos-profissionais.
JB