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Abraão Vicente, ministro da Cultura parece estar numa saia justa com este festival Literário Morabeza, previsto para Outubro/Novembro próximos. Os escritores Arménio Vieira, Germano Almeida e José Luiz Tavares, não vão participar no evento. Descaso nos convites, entrega da organização do festival à empresa portuguesa, Booktailors, bem como o próprio nome do festival - Morabeza - estão na origem da decisão destes três grandes nomes das letras cabo-verdianas.

Em declarações à Inforpress, o poeta José Luíz Tavares não escondeu o seu desagrado pelo facto de, segundo explicou, a Booktailors só convidou os escritores cabo-verdianos, pelo menos aqueles de que tomou conhecimento, depois de convidar e de já ter a “mesa composta” com os escritores estrangeiros.

“Aliás, é o próprio ministro da Cultura que cauciona este desrespeito ao anunciar em pleno parlamento, a 26 ou 27 de Junho, o nome do Afonso Cruz, Agualusa, Mia Couto e Valter Hugo Mãe, dizendo que perspectivava convidar os escritores cabo-verdianos mais importantes”, ajuntou José Luiz Tavares.

O poeta esclareceu que não tem nada contra esses escritores, de que é amigo de uns, admirador de outros, mas “contra esse modo de proceder, apresentando os referidos escritores como grandes astros do evento, “e nós como simples escreventes que vão para os lugares sobrantes”.

“Imagina que nem conseguiram convidar o Arménio Vieira, o nosso único prémio Camões. Se vierem com o pretexto de que não conseguiram contactá-lo, é porque há um erro de base que é ser uma empresa comercial estrangeira (que está a ganhar o seu legitimamente) a contactar os escritores cabo-verdianos”, reforçou.

“Protocolarmente deveria ser o Ministério da Cultura, através da Biblioteca Nacional”, disse José Luiz Tavares, recordando que o Arménio Vieira esteve num evento em que participaram o ministro da Cultura e a curadora da Biblioteca Nacional, e “nem tiveram a delicadeza de o convidar, mesmo que informalmente, deixando os trâmites logísticos para a tal empresa”.

Adiantou, enfatizando que o "Arménio Vieira esteve depois no seu lugar de sempre, Café Sofia, na Cidade da Praia, durante quase um mês, e ninguém falou com ele".

“Quanto a mim, a Booktailors tem os meus contactos desde Março, e apenas me contactou no primeiro dia de Agosto, umas horas depois de ter enviado um email à senhora curadora da Biblioteca Nacional, com conhecimento do senhor ministro, ao qual nem um nem outro responderam”, acrescentou o poeta mais premiado de Cabo Verde, interrogando "se é assim que se quer valorizar a literatura e os escritores cabo-verdianos, permitindo que eles sejam subalternizados na sua própria terra”.

“Não deveria ser o Arménio Vieira, o nosso único prémio Camões, o cabeça de cartaz desse evento? Aliás, quantos poetas foram convidados para esse evento”, interrogou, afirmando que o Arménio, informado do que se está a passar, também não irá ao festival, mesmo que o conseguissem convidar.

José Luiz Tavares mostrou-se também crítico de outros escritores cabo-verdianos que, mesmo “conhecedores dessas peripécias, insistem em participar na mesma”.

“Se acho que ninguém está obrigado a tomar a mesma posição que eu, o Arménio e o Germano tomámos, mas se não nos damos ao respeito na nossa própria casa, onde é que vamos ser respeitados”, questionou, lembrando que participou em dezenas de eventos em todo o mundo e nunca o trataram como “figurante ou criador de segunda”.

“Permiti-lo no meu país era renegar o património de exigência que estabeleci nesses 15 anos como autor publicado em que, sem vaidade nem modéstia, posso dizer que reconfigurei aquilo que é hoje o imaginário poético cabo-verdiano”, vincou.

“Outro aspecto que me inquieta é a natureza deste festival. Eu estava convencido que era um festival literário, destinado a promover a leitura e o contacto com os criadores, mas não, há poucos dias soube que é um festival para promover marcas, para trazer turistas”, denunciou, afirmando ser “um poeta intransitivo” e que o poeta José Luiz Tavares não «existe para promover marcas, morabeza, ou quejandos”.

“A literatura hoje não pode muito, mas ainda assim ambiciona alargar os limites do humano através da linguagem que lhe é própria, sugerir modos alternativos de existência, mesmo se o povo do futuro se apresenta apenas como quimera a perseguir”, disse, estranhando também o nome Morabeza escolhido para o festival literário.

“Morabeza? O que tem a morabeza que ver com a literatura? Este conceito só pode vir de cabeças estrangeiras que desconhecem a realidade do Cabo Verde actual”, acusou o escritor, lembrando que, se o fito do festival é atrair turistas, “porque não ir pelo lado mais exótico, apresentando-lhe um produto único que é o kasu-bodi”, questionou.

“Eu próprio sugeri, há pouco tempo, o nome de Hespérides, que é uma designação que remete imediatamente para a literatura e para uma conceptualização mítica de Cabo Verde”, concretizou.

O poeta diz que nos emails que trocou com a Booktailors, quando confrontada com essa forma de proceder, não tendo como desmenti-la, a empresa “remeteu-se simplesmente ao silêncio”.

Para José Luiz Tavares, “este gesto é um acto de dignidade”, tanto mais que, afirmou, “onde pontificam valores irrenunciáveis não pode haver barganha nem transigência”.

Contando pela Inforpress, o ficcionista Germano Almeida confirmou que ele sequer está convidado para o festival.

“Quer dizer, a princípio achei que estava, tinha recebido um e-mail da Booktailors que não li com atenção porque o tomei como um convite para o festival. Só depois é que me ocorreu repetir a leitura e vi que apenas estou convidado a participar numa mesa, sobre a tradição oral e a necessidade primária que existe de contar histórias”, citando o texto que diz ter recebido.

Essa actividade, esclareceu Germano Almeida, “deveria ser no dia 04 de Novembro, pelas 16 horas, contra um per diem de 250 Euros”.

“Quando ainda pensava que o convite era para todo o festival, respondi que estando em Cabo Verde e bem - tenho problemas de saúde que me podem obrigar a deslocar-me - teria todo o gosto em estar presente. Depois de concluir que o convite é apenas para uma actividade, que aliás está mudada de 4 para 5, não estou interessado em participar, até por solidariedade para com os nossos poetas”, declarou o escritor natural da ilha da Boa Vista.

Para Germano Almeida, “não faz sentido que para um festival de literatura cabo-verdiana os poetas estejam relegados para rabo teco, sendo certo que são eles os mais representativos da nossa literatura”.

Criado pelo Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, o Festival Literário Morabeza, evento que passa a ser realizado anualmente no arquipélago, pretende ser “um grande momento cultural no país e internacionalizar a literatura cabo-verdiana, nomeadamente através do incentivo à tradução".

A acontecer de 30 de Outubro a 05 de Novembro, os escritores que se recusam a ir a este festival são nada mais do que o único prémio Camões de Cabo Verde (Arménio Vieira), o ficcionista mais popular (Germano Almeida) e o escritor mais premiado de sempre (José Luiz Tavares).

Contactada, fonte do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas apenas se limitou a confirmar a data de realização do evento, adiantando que a lista definitiva dos escritores convidados será tornada pública no final do mês, sem avançar mais pormenores.

Com Inforpress

 

Comentários  

0 # Djondjon 29-09-2017 20:01
Esse rapaz é um complexado compulsivo. Pensa que entende alguma coisa de cultura. Pa frente k caminho.
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0 # ARMINDO TAVARES 29-09-2017 12:19
Senhor Abrão Vicente

Quero apenas dizer-lhe o seguinte:

Sou caboverdiano, escritor de formação, com um mestrado e especialização em Escritas para Teatro e Cinema, autor de 9 livros publicados, quse 200 dramaturgias produzidas, incluindo uma Telenovela que ja vai em cento e tal capítulos, 5 argumentos para o cinema, entretando, estou agora a saber desse (SEU) evento.
Desde o dia 25 de Outubro do ano passado, dias depois de cá ter chegado para lecionar na Universidade de Cabo Verde, até agora, ja lhe solicitei 4 audiências e nunca se dignou em dar-me uma resposta, muito menos conceder-me a tão almejada audiência.
Podia saber o porquê?
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-2 # Joaquim Semedo 30-09-2017 15:11
Meu amigo sem djobi pá lado
Já pediste quatro audiências sem resposta. Está tudo dito o homem não quer receber te não vale a pena insistir. Os nacionais estão no segundo plano
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0 # ARMINDO TAVARES 30-09-2017 16:14
Dão cabo da nossa terra e gabam-se democraticos.
Ele é mesmo uma negaçao do Abrão dito em crioulo.
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-2 # CHIQUINHO 03-10-2017 10:20
OLA ARMINDO, ESTÁ PEDIR AUDIENCIA PARA QUÊ? RECEBER FALSAS PROMESSAS? O FRANCISCO MANSO JÁ RECEBEU 200.000€ E NÃO HÁ MAIS NEM ONDE TIRAR DINHEIRO PARA OS CRIADORES CABOVERDIANOS. NAS MAÕS DO ABRAÃO JÁ NOS TORNAMOS ESCRAVOS DOS TÉCNICOS PORTUGUESES. NÃO DESISTA NUNCA. FORÇA.
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-2 # CHIQUINHO 29-09-2017 09:06
Excelente artigo e bem esclarecedor. Esclarece sobretudo da forma como agiu o Ministro e sobre o seu carácter. O Ministro Abraão Vicente é um multi-recidivista. Ele tem o gosto de desrespeitar e humilhar toda gente. Humilhou o Presidente da República e o seu próprio colega dos Negócios estrangeiros quando fez a declaração sobre a Guiné Equatorial. Humilhou os cineastas caboverdianos quando deu 22.000.000 a um português para fazer um filme sobre a nossa cultura e o seu amigo cineasta, intriguista, Leão Lopes ficou caladinho (Será mesmo que Portugal, mais rico, dará a um caboverdiano o imposto dos portugueses para fazer um ficção em Portugal?). Humilhou o próprio PM quando afirmou que ele é o Ministro mais votado do Governo, ié é o único a bem trabalhar. Com o que aconteceu recentemente com a anterior Presidente do IPC, demitido via whatapps, facebook, viber, “what ever” e o Presidente da INFORPRESS, toda gente pensou que ficaria caladinho. Com este Festival de Morabeza e agora com a digna revolta dos escritores é o cúmulo. Como gostamos de sofrer caladinha, é só estendermos as mãos e esperar as próximas palmadas.
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-1 # ATENTO 29-09-2017 08:37
(CA)Abraão Jumento la ca tem raciocínio... Pa bu pega midjor de CV, pa bu fulia pa trás pa bu trazes lixos de fora pa bu bem basofia ku es na cara de nôs poetas de reconhecimento Mundial... Só um alguém jumento k ta pensa assim... Nta perguntau quenha k é cabeça de Cartaz?
Nhôs gosta rebaixa perante branco e é por isso k nu ca ta avança nês terra.
Tambi nu sta na era de SEM DJOBI PA LADU....
Até quando CV ta midjora... Nta solidariza ku nôs poeta e nta flás pa es ka liga ês ato de baixeza, ma ês é de renome internacional e ma kel ministrinho la ma nem na bico de sês sapato e ka ta txiga ku si arrogância e falta de carácter k é tem... Força rapazes... caminho e pa frente e resposta sempre ta bem na tempo exato.
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-2 # Zeca 28-09-2017 20:26
Esse ministro criativo brinca com coisa séria. Um festival de cultura organizado por uma empresa estrangeira em desprezo aos nossos ilustres das Ilhas? Será pagamento de campanha do MPD? Porquê Sr criativo?
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-2 # SÓCRATES DE SANTIAGO 28-09-2017 18:15
Muito bem! Assim é que se fala. Um HOMEM é um HOMEM, um BICHO é um BICHO. Tratar os NOSSOS GRANDES da Literatura como se fossem bichos não pode ser. Fica aqui expressa a minha solidariedade a Arménio Vieira, a José Luíz Tavares e a Germano Almeida. Fica aqui também expresso o meu repúdio, a minha indignação e revolta por esta tamanha falta de respeito aos nossos HOMENS DE LETRAS por parte do Senhor Ministro da Cultura( ou será da sepultura?) Abrãao Vicente. Já agora pergunto: não há empresas ou outras instituições em Cabo Verde capazes de organizarem um evento do género? Onde estão a SOCA, a ACL e AEC? Por que razão, por qual demo é que o nosso Ministrinho da Cultura chama sempre os portugueses para mamarem o pouco leite existente no seu ministério, deixando os manos de boca seca. Não bastavam os 22 mil contos que o desgraçado ministro deu ao realizador português Francisco Manso para realizar um filme em Santa Catarina, terra do ministrinho? Caramba! A paciência tem limites. Quando é que o senhor (C)Abrãao Vicente toma juízo?
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+1 # No Limbo 28-09-2017 17:18
É nisto que dá colocar janotinhas e tratantes à frente das coisas da cultura. Estou solidário com a tomada de posição desses desses nossos briosos escritores. Agora tudo é comércio, turismo, taberna, culturismo e coisas fúteis. O que importa é vender e lucrar, para encher os bolsos de catitas- espertalhões rapidamente. É a morabeza de crocodilos com lágrima no canto dos olhos. Em vez de pão e água, circo, encenação e palhaçada. Já não bastavam os infindáveis festivais de charangada e de inutilidade. É por isso que vos peço: deixem-me viver na minha pasárgada distante, longe, sem terra e sem gado. Longe, sem essas palhaçadas e trafulhices todas.
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-2 # José Mendes 28-09-2017 15:22
Pois, a mediocridade revela-se sempre, mais cedo ou mais tarde. É uma questão de tempo. Pensam que cultura é rabidância...
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