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Por: José Luiz Tavares

 O meu país é o que o mar não quer

Ruy Belo

JLT30 

 É por certo a dor de cada dia

que faz o peso do homem sobre a terra

fá-lo irmão do fogo e das moventes nuvens

sem a apreensão

que os maus fados preconizam

 

oh quem pudesse de olhar posto

sobre o passado e o futuro dizer

tenho o tamanho do que vivi

para continuar bastam-me

estas mãos estes pés e estes olhos

 

para a gente que se espraia

sobre o chão da vida

eu tenho apenas estas pobres palavras

é pouco muito pouco

mas é nelas que enredado vivo

 

com seus ferros e seus gumes

e se não erro certos perfumes

que deixa a gente viva do meu país

caminhando pela vida acima

naturalmente

como quem dá os bons dias

 

ou ao fim da rua

sobre o basalto escuro

faz um pobre desenho a giz

não me perguntem não sei o que diz

mas com altiva doçura

transponho-o de um salto

como quem cruza

as fronteiras de um outro país

 

mas é aqui o meu país

canteiro corrido com ar de petiz

barro vermelho basalto negro

polidos

com cuidados de aprendiz

da mansidão

que cai sobre estes umbrais

 

avesso das bravias bravatas

dos que astuciosa e insidiosamente

atiçam o norte contra o sul

e erguem a língua traiçoeira

como um corrimento fétido e alucinado

 

mas há o bafo limpo da gente sorridente

de mãos calosas e abraço quente

há as praias de sol silente

morrendo nos batentes do dia

mas a semente da vida plantando

na cerviz do habitante

erguido sobre a pedra da matriz

 

e há sobretudo a promessa

que reconhece

no fulgor dos campos

entrado outubro

 

mesmo quando alguém lhe diz

hoje morreu um homem

de seu nome chamado luiz

não morreu porque quis

mas porque a morte meretriz

o marcara com a sua bissetriz

 

então a tristeza essa velha atriz

baila sobre os campos do meu país

onde não cresce a flor de lis

mas aprende a gente a ser raiz

sob o vento vício veloz

sulcando o tempo buscando a foz

 

é isto sim é isto o meu país

pátria pequena

sem cláusulas minuciosas

para a servidão que lhe prometo

honradamente nas palavras

nem virtuoso nem iluminado

mas de face erguida e boné na mão

saudando a gente alevantada do meu país

Consulte aqui o vídeo do autor, declamando o poema. https://www.facebook.com/EmbaixadadeCaboVerdeemPortugal/videos/293083101838191/?vh=e

Comentários  

0 # Autor 07-07-2020 21:16
Então agora o Santiago Magazine censura comentários quando respondemos a idiotas e iletrados anónimos chamando-lhes «rotos» mentais, apodo pouco para a desfaçatez embuçada que o jornal permite aqui? Não acha o jornal que é precisamente quem escreve e dá a cara aqui que deve ser defendido de idiotas anónimos e ressabiados?
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0 # André Maíz 06-07-2020 18:31
Cambada de melgas a comentar coisas que não entendem. Haja saco para tanta baboseira.
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0 # Mário Gambino 06-07-2020 18:20
Maria Horta, não se esqueça de Arménio Vieira. Que eu saiba, ele se encontra Vivo. Por isso...
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0 # Mário Gambino 06-07-2020 14:11
Maria Horta, cuidado que Arménio Vieira ainda está vivo. Por respeitoso a ele, não deves falar assim.
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0 # Autor 05-07-2020 22:22
Ó fatiota, o prazer é nosso, sabermos que a menina sofre com cada texto publicado. Cuidado com o escuro, florzinha.
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0 # PATRIOTA 05-07-2020 08:59
A Patria necessita de Portas verdadeiros e autenticos daqueles que dizem coisas que sao coisas e que nos tocam a alma, o corpo e o pensamento visando uma novo amanhecer, nao precisamos destes pedreiros que sò sabem amontuar palavras sobre palavras, sem nenhum sentido util, sem um sentido de futuro
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0 # Maria Horta 06-07-2020 04:36
O maior poeta caboverdeano de sempre! Poesia é sublime. Ser pedreiro é uma arte! O poeta e o pedreiro fazem magias!
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0 # Ao patriota 05-07-2020 20:35
"Nos" , não. Fala por ti que ainda não aprendeste a interpretar. Fazes parte da estatistica da iliteracia deste país
Att...não estou a falar da alfabetização. Entra no link e aprecia a leitura que o poeta faz...si bu ka entende bu ta chinte.
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