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Por: Paulo VARELA

 Paulo Varela Colunista

O Azul marinho dá lugar à cor da lama quando as cheias fazem-se dona das ribeiras e das praia seus estuários para fertilizar o mar.

Aqui se assiste a mais um fenómeno natural que nossa condição de território de baixas e irregulares precipitações questiona e põe em causa, induzindo o Estado e seus Governantes a mobilizar milhões para desenvolver projectos estruturantes de retenção das águas, com o forte argumento de que a água de rega é uma prioridade e que a agricultura é a principal atividade económica rural, tendo até uma delegação administrativa e técnica em cada município do país. Entretanto, é sempre, tecnicamente, prudente, considerar o factor equilíbrio e a transversalidade da sustentabilidade ambiental, ecológica, económica e social ao tratarmos do processo de desenvolvimento de um sector, sem pôr em causa a fragilidade de outros de igual ou relativa importância.

"A terra é que fertiliza o mar."

Conhecer este principio, básico nos permite rever o ciclo natural da água e concluir que com a queda das precipitações, auxiliado pela gravidade e a topografia do relevo com fortes e ou moderadas pendentes, a água se direciona sempre para o mar, transportando consigo toda a matéria orgânica em decomposição e ou já incorporadas ao solo, contendo elementos essenciais necessários ao aproveitamento das plantas- Nitrogénio ou Azoto (N), Fósforo (P), Potássio (K), Sódio (Na), Cálcio (Ca) e Magnésio (Mg).

Sucede que o mar, tal como a terra, são ecossistemas dinâmicos e produtores de vida, por isso, suas funções de regeneração, respeitam o princípio da complementaridade ecossitémica, depositando desta forma, no mar o fertilizante através da torrente das cheias.

O ecossistema marinho e costeiro agradece, na medida em que os ovos depositados em seus fundos arenosos geram nossas vidas em ambiente fertilizado e estas por sua vez encontram o fitoplanton (vegetação marinha)- limo e outras plantas marinhas, da qual os alevinos se alimentam, crescem para formar espécies adultas, prontas para satisfazer a demanda do sector pesqueiro costeiro artesanal e consequentemente o rendimento das populações costeiras, a restauração, o setor turístico, enfim, aqui se forma uma cadeia que acaba por afetar o Produto Interno Bruto da Nação.

Agora sim, os tubérculos, leguminosas, cereais, hortaliças e frutas, encontram alternativa à carne e aos ovos, no balanceamento necessário à segurança alimentar, como determinam os objectivos gerais da base de manutenção de alguns Ministérios suportados pelo Estado e seus orçamentos em nome do Povo.

É preciso perseguir e encontrar o equilíbrio na gestão, onde as decisões e suas ações respeitem os princípios do equilíbrio ambiental e ecológico, da transversalidade integral dos ecossistemas e da segurança e autosuficiência alimentar, todos ao serviço do bem-estar coletivo, da justiça, felicidade individual e social.

 

Comentários  

0 # Alcindo Amado 13-09-2020 19:47
PAUL VARELA, estou completamente de acordo consigo, salvo determinados aspectos, que passo a citar. Considerando a dimensão oceânica, os mares tem inúmeras fontes fertilizadores. O papel de Cabo Verde neste cenário é insignificante devido à nossa pequena dimensão territorial. Por outro lado, não podemos despir um santo para vestir outro. Cabo Verde tem maior tradição agrícola do que pesqueira. Isto quer dizer que há mais gente vivendo da terra do que do mar. Também, temos mais controlo daquilo que temos na terra do que aquilo que temos no mar. Sabes muito bem que os nossos recursos marinhos, quando não são saqueados, são oferecidos "de borla" às potências Europeias em troca de migalhas, Pessoalmente, desconfio que algo tem vindo a ser pago debaixo da mesa. Nesta base, não podemos sacrificar os nossos agricultores para proteger os interesses dos nossos pescadores que pouco ou nada tiram do mar, devido a uma má política de formação virada para o mar. 99% do nosso território é mar, e mesmo assim o nosso povo não tem muita vocação para o mar. Relativamente ao ecossistema marinho circundante ao nosso arquipélago, acredito que o domínio alcançado pelos nossos pescadores artesanais é fertilizado. Temos sempre água correndo para o mar, levando toda a casta de detritos. Sou inteiramente a favor da retenção das águas pluviais em represas bem construídas, para que possamos salvaguardar o pão nosso de cada dia dos nossos heróicos agricultores. Eu sempre tirei o chapéu aos homens do campo.
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+1 # Ajuda sequenciada 14-09-2020 10:16
Senhor Alcindo, o acordo de pesca com a UE é feito dentro da agenda de ajuda da UE que é chamada de ajuda sequenciada. Ou seja, este acordo serve como represa para outras ajudas. se notares, e os nossos diplomatas ignoram isto, este acordo é sempre assinado sempre antes do PIC, GAO, etc.visto que faz que aquele condiciona estes. Este acordo de pesca só mostra que CV tem sido governado por amadores e por interesses pessoais contra o seu proprio povo e geraçao futura.triste sina
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0 # paulo Varela 13-09-2020 23:47
Boa noite Sr Alcindo, agradeço sua participação, desejoso de algum dia puder lhe encontrar em algum forum, para "esmiuçarmos" e organizar estas ideias todas.
Terei muito prazer.
Entretanto, até lá, a palavra de ordem é o equilíbrio.
Admita que este titulo é bem provocativo. Sem a intenção de deixar nenhum Santo ao relento (risos).

Abraço, grande Alcindo. Todo meu respeito e consideração!
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+1 # Alcindo Amado 14-09-2020 12:54
Obrigado Paulo Varela. Terei grande prazer em conversar consigo. As suas preocupações são pertinentes, e juntos poderemos mudar o "status quo". Todavia, encontrar-mo-nos nalgum forum pode ser difícil, na medida em que pessoas como nós são sempre afastados dos centros de decisão. Certamente já notou que Cabo Verde sempre teve a sina de ser governado por incompetentes, arrogantes e desinteressados pelo futuro do povo. Naturalmente, uma grande árvore não faz uma floresta. Temos que continuar a luta com persistência, frontalidade e fé de um dia resgatar Cabo Verde desta fatalidade. Abraço amigo.
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