Pub
Por: Paulo Varela

 Paulo Varela Colunista

O mesmo pontal que emprestou seu betão dorsal ao marinheiro braçal de Falucho e Maria-Soni, assiste hoje frágil e quebradiço, o arrastar das lanchas vazias e dos alguidares por encher na mesma baía, onde a companhia ultramarina embarcara peixe enlatado para a metrópole, enquanto Colonato deixava escuar por entre os dedos do serviçal, queijo, leite e manteiga.

O Badio de Santiago, ainda com marcas frescas da escravidão legal, carregava sacos de tubérculos, leguminosas, cereais, frutas e potes de carnes, para alimentar a barrigas inchadas de fome nas terras de Capitão Ambrósio, onde os primeiros letrados de Santiago norte e Tarrafal em particular seguiam seus destinos junto das letras e do conhecimento que fazia as primeiras consciências instruidas ... E assim lançamos nossa semente para o iluminismo. Viva Tarrafal, Viva nosso pontal que hoje passa noites sem fim contentando-se com a lua!

Esta memória brava em pedra argamassada, viu seu brilho ancorar e com ela levou para seu fundo azul sua função de auxiliar à pesca e ao comércio, que também, por cá faliu e renasce agora das cinzas a esperança do resgate.

Hoje nosso pontal ou cais, como carinhosamente o batizamos, só conserva a memória de uma geração inocente e pura, torturada para se calar e entre seus sonhos viver fechada, sem mesmo poder pintar de branco com o cal de suas ribeiras a velhice que hoje cobre sua cidade, pronta para o renascimento.

“...Tarrafal, Tú é norte e como todo norte, é forte...” – Kaká Barbosa

Comentários  

+1 # SÓCRATES DE SANTIAGO 17-12-2020 10:56
Meu caro Paulo, esta crónica tocou- me profundamente. Fez- me viajar no tempo e recordar o movimento portuário ali na Baía de Mangue, os barcos entrando e saindo, os botes fartos dos pescadores barulhentos que regressam da faina marítima, os miúdos, como eu, nadando, de uma ponta a outra, do Cais até à Pontona, o linguajar estranho dos estrangeiros, hoje, turistas, que deambulavam pelo Coqueiro e Fonton e depois iam tomar um bom grogue singuelo em Ponta Lagoa, Monteria, Chão Bom ou Colhe Bicho...
Sim, Paulo, velhos tempos, bons tempos que já se foram, mas que ficam registados, para sempre, na nossa memória.
Sim, Paulo, é possivel, sim, salvar Tarrafal. É possível que este concelho nortenho de Santiago renasça das cinzas dos tempos e cumpra, finalmente, o seu destino.
Um abraço tarrafalense, mais forte do que o nosso belo Monte Graciosa!
Responder
+1 # Paulo Varela 17-12-2020 18:24
Um comentário que vai à raiz trazer o encorajamento. Obrigado amigo, Sócrates por esta demonstração genuína de amizade.
Estamos perante um comentário que conhece E bem nosso Tarrafal.
Quando vier, faça-nos saber.
Responder