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Por: Paulo Varela

Paulo Varela Colunista 

Este cantinho nosso, apesar dos desmandos e da desordem, continua sendo o melhor lugar para a reposição das energias. Só Deus sabe o quanto minha letra treme e minha caneta sofre a cada vez que me vejo obrigado a devolver ao universo o peso da maldade que até poucos dias pairou sobre minha cidade!

Contudo, pior ainda seria deixar meu silêncio se calar e perder entre o medo que vive trancado à saida do peito das massas que nem cálice de vinho bom quando trilha o corpo do vigário que reza a missa de boas vindas do novo ano promissor que esperamos receber, como presente do perdão de “nossas culpas e tão grandes culpas”.

Minha vivência com o poder enfermo de Tarrafal, gera a pior das impressões que se pode criar à volta do desempenho de uma missão que perante a “nobreza da classe”, se veste de cordeiro sobre a pele do próprio diabo, quase sempre, enganando a Santo Amaro, para de ano em ano engolir esperanças e sugar o tempo que passa distraído e nossos olhos cegar diante da poeira que embasa parabrisas, da lama que encharca o pedestal, do escombro que enfesta o litoral e de minha rua que avista Graciosa pelada, sem eu poder fazer nada, pois, mesmo o oxigénio já é viciado e não encontra pulmão recetor.

Como posso ficar inerte perante o governate que mexe comigo, deixa meu espírito irrequieto, atira meu corpo ao chão e nele pisa, literalmente, sem piedade, dá de comer veneno à caninada, cria um viveiro de insectos picadores - sugadores, inunda minha cuna de betão, protege o compadre, leva daqui minha universidade, atira a liteira do pobre à rua, vai às compras montado no meu ombro, se contenta com a carne da beira da estrada e na partida - embala uma prenda de despedida - tendo eu a consciência do despejar de espinhas em meu próprio leito?

Como seria prazeroso bradar aos ventos o bom que é nascer no paraiso, sem andar descalço sobre espinhos atirados entre ossos puntiagos das mesas fartas dos barrigudos que escondem brazas debaixo das cinzas, sob a máscara da arrogância e a arma do silenciamento, como armadilha para sensurar o pisar dos mansos, afastar a ternura dos bons e manter as muralhas e moradas do povo, todas elas ocupadas com alianças de desamores!

Quantos de nós já nâo fomos afastados, prematuramente e levados de pés juntos para "Achada Baixo" ao som do pranto e do ritmo das cordas que acompanha o cortejo da eternidade, quantos de nós, Tarrafal! Isto quando não ficamos paraplégico ou com sequelas insanáveis! Tarrafal e seu poder viciado, Viveu o auge de sua conquista satânica! O ritual da missa e reuniões cristãs, são desfarces de fachada, apressando seus pés à casa da malfeitoria que domina o coração dos pseudo-paroquianos à barba de Amaro – O Santo que de tanto ver, já nem se encomoda, pois há muito que entregou o assunto a Deus.

Esta minha última lágrima, enxugada com esperança , acaba de ser derramada e navega no universo até ao centro de luz, procurando entre a plumagem do anjo mais nobre, qual a mais macia e vigorosa membrana que eu possa emprestar e vir encaixar aos braços valentes do povo de Tarrafal, para trabalho não faltar e assim, esta ultima lágrima, a pena valer em seu abençoar.

Comentários  

+1 # SÓCRATES DE SANTIAGO 31-12-2020 21:12
Boa crónica e boa pena, muito embora com uma ligeira influência estilística do nosso POETA- MOR, José Luíz Tavares, Balixa, menino também das ribeiras do Tarrafal.
Cumprimentos socráticos e tarrafalenses, meu caro Paulo!
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+1 # Paulo Varela 02-01-2021 01:01
O essencial na comunicação é ser entendido e deixar a necessaria ou possível contribuição....
Aquilo que considera influência em sua análise, diria eu que pode ser i resultado de uma evolução natural que consegue viajar entre vários estilos e ficar com a vantagem da alternativa.
Fico agradecido e encitajado pela boa critica.
Continua de pé o convite para o cafezinho quando vier a Tarrafal.

Saudações amigas
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+1 # Moreira 31-12-2020 11:16
Excelente! Boas entradas.
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+1 # Paulo Varela 31-12-2020 23:30
Obrigado , amigo. O exercício da escrita precisa de retorno, como o bebé precisa do peito para se encubar.
Por isso, esta relação é vital.
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+1 # Adalberto Varela 31-12-2020 08:13
Bela Crônica. Parabéns meu caro amigo e que as tuas lágrimas transformem em alegria em 2021.
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+1 # Paulo Varela 02-01-2021 00:54
Conjugados com a necessária alegria, para que nossa Catarina volte a ser a Santa que acolhe nossas letras.
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+1 # Adalberto Varela 31-12-2020 08:13
Bela Crônica. Parabéns meu caro amigo e que as tuas lágrimas transformem em alegria em 2021.
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