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Por: Francisco Carvalho

 francisco carvalho

1. Anteontem, pasmo, assisti à passagem, vezes sem conta, de um rodapé no telejornal da Televisão de Cabo Verde (TCV), dizendo: “Governo garante que 56% do programa alimentar já está executado. Linha verde está fluída e recebe 1000 chamadas por dia”. Agora, é hora de ver onde está a mentira neste rodapé. Primeiro, atira-se para o ar uma percentagem, não se vai longe demais porque, se não, as pessoas começam a desconfiar. Por isso, fica-se nos 56%, dá sempre aquela ideia de que mais de metade já está atendida. Depois, refere-se de forma muito vaga e imprecisa a uma “linha verde” sem especificar qual. Assim, cria-se a ideia de que a “linha verde” – aquela que passar pela cabeça de cada um – está a funcionar de forma maravilhosa! Nada mais falso!

2. A linha indicada pelo Governo para o registo no Cadastro Social8005200 – está a ser conhecida como a linha que não funciona! Há demasiadas pessoas a queixarem-se de que ligam até desistirem porque ninguém atende. Esta é a razão porque o Governo não divulga as estatísticas de chamadas realizadas, nem de medidas que toma para adaptar o número de atendedores ao volume de demanda! Nem é por acaso que chuta o número “mil chamadas”, um truque psicológico para passar a ideia de muitas chamadas. Aqui a transparência do Governo resume-se a um rodapé de telejornal!

3. O Governo – consciente de que as câmaras municipais não têm capacidade de pôr em prática essa entrega casa-a-casa – continua a mentir quando insiste em garantir a distribuição de apoios ao domicílio, mesmo com as redes sociais a serem diariamente inundadas com fotografias dos bairros suburbanos da Praia, como Jamaica, Achada Eugénio Lima, Safende, Fundo Cobom, etc. com concentrações de pessoas para receberem as chamadas cestas básicas: um saco de plástico com uma média de dois kilos de arroz, um de feijão ou farinha, outro de açúcar e um litro de óleo. Essas concentrações de pessoas representam um triplo fracasso de câmaras municipais: (i) Comprovam que os municípios não conseguem fazer a distribuição respeitando o distanciamento social, colocando em risco todas as pessoas que nelas são obrigadas a participar; (ii) Demonstram que as autarquias não conseguem montar uma estrutura de distribuição que seja planificada e atempada – vamos no 14º dia do Estado de Emergência e reina o caos na distribuição dessas chamadas cestas básicas e apoios na alimentação; e (iii) Permitem constatar que, afinal, os serviços sociais das câmaras municipais estão vazios de capacidades de trabalho no terreno. É caso para perguntar aonde foram parar os Centros de Desenvolvimento Social transferidos para os municípios? (1)

4. Deve-se notar que além da falta de preparação das câmaras, todo este caos na distribuição casa-a-casa tem que ver com um outro facto: nas primeiras explicações sobre como faria a distribuição, o Governo esclareceu que iria recorrer às associações, a voluntários, etc., mas, confrontado publicamente com a evidência do MPD ter tido sempre um discurso de criminalização e perseguição de associações, dá-se uma mudança de estratagema. É esta a razão por que, nesta hora, queremos chamar a atenção de todos para o facto da palavraassociações” ter sido banida das comunicações, tanto do Primeiro-ministro, como da ministra da família e inclusão social, e do próprio presidente da Associação Nacional dos Municípios de Cabo Verde (ANMCV). Agora, falam de “forças vivas”, mas na verdade, em diversos bairros, essas chamadas cestas básicas são entregues a conhecidos simpatizantes e cabos de campanha eleitoral do MPD para fazerem a sua distribuição! Haverá grau maior de cinismo na gestão desta crise pandémica?!

5. A continuar por este caminho, chega-se ao fim do Estado de Emergência e as câmaras municipais não conseguiram arrancar com a plena distribuição de todos os apoios aprovados pelo Governo! Facto! Por isso, as câmaras municipais deveriam ter maior sentido de estado e humildade em abraçar as propostas que lhe são apresentadas a favor de Cabo Verde e dos caboverdeanos que estão a sofrer, fechados nas suas casas. Às propostas já apresentadas, vimos acrescentar mais três:

a. Transparência nas distribuições através da divulgação dos planos de deslocações por bairro e que iriam facilitar o apoio daqueles que conhecem de perto a realidade socioeconómica das famílias nos bairros, ajudando no acesso à informação por parte daqueles que mais precisam;

b. Divulgação das listas de beneficiários que estão a ser utilizadas para a realização das distribuições;

c. Publicação das listas de “forças vivas” selecionadas para colaborar na distribuição das cestas básicas e outros apoios, de modo a evitar especulações que têm estado na origem de conflitos com associações abordadas pelos moradores como tendo sido indicadas como os responsáveis pelas distribuições nos seus respetivos bairros, quando, na verdade, estas “não foram tidas nem achadas”!

1. Assinatura Protocolo da Municipalização dos Centro de Desenvolvimento social, 9 de Março de 2017, https://www.governo.cv/assinatura-protocolo-da-municipalizacao-dos-centro-de-desenvolvimento-social/

Comentários  

0 # Pantxasku 13-04-2020 11:55
Vejo nesta msg um caboverdeano que não esta mínimamente preocupado com situação crítica a que nos todos vivenos com a crise que vem matando milhões pelo mundo inteiro, más sim em tentar dividendos politicos, este governo esta reagir e bem perante Esta crise que nem as potencias mundiais estão a conseguir driblar com melhores comdições materiais e humanos, Núm paisbque não produzi praticamente nada evite da ajuda externas e a maioria da população é pobre e necesita de cesta básica, o senhor fosse um político sería debería estar a ajudar e aplaudir, em termos de ajudar quería propor ao senhor e ao sei Partido que ainda não ajudaram em nada (so prejudika) a apoiarem com 70% do orçamento da Vossa campanha política milionaria isso sim era mostrar ser um político serio honesto e que preoukupa com o bem estar dos seus eleitores, diferente de aquando da interupção volcánicas em que muito apoio forma dadas e o povo das Chã das caldeiras pouco oi nada receberam desses donativos que forma canalizada para a Vossa campanha política, esse governo esta a resolver problemas de um pais o que não consiguieran resolver numa ilha fogo bastião do paicv, tiro sim o meu chapeu a esse governo.
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+1 # SÓCRATES DE SANTIAGO 13-04-2020 11:44
Lido e aprovado.
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-1 # Teófilo Soares 13-04-2020 10:52
A distribuição de ajuda social sempre levantou polemica, sobretudo em paises pobres como cabo verde em que existe forte suspeição de utilização politica, nomeadamente, em periodos de campanha eleitoral; não é segredo para ninguém que tanto o PAICV como o MPD usam-na como arma de "catar" votos, razão por que procuram colocar à frente de cada acção ou seus militantes ou associações dirigidas por seus militantes ou mesmo associações com forte conotação ao partido. Para a avaliação estatistica dessa acçao social eu recomendava uma instituição independe e não a divulgação de lista das familias beneficiadas, pelo simples facto de que devemos preservar a sua identidade e não expor socialmente essas familiar. Aqui devemos seguir os ensinamentos de Jesus que foi o primeiro a preocupar-se com o pobre e humilde em não expor ao publico a sua condição quando nos ensina: "ao dar uma esmola com a mão direita, não saiba a esquerda o seu conteudo" .
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+2 # Carlos Rodrigues 12-04-2020 21:50
Caro Francisco,

É importante trazer a luz esta verdade. Falaste e disseste... Vergonha pa ons governo di MPD e vergonha pa Camera di Praia e desmotivaso enorm enormi ku un presidente fatèla sen kolhâo ou seja é ka ten KODJON!
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+2 # Sempre Atento 12-04-2020 21:35
Um artigo pedagogico!

É este o governo que temos. Muita pena porque este presidente é o maïs pior que o Cabo Verde teve! Mau presidente...
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+6 # Augusto Monteiro Bor 12-04-2020 12:58
Excelente
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+7 # Txadona 12-04-2020 12:08
Excelente análise crítico.As Câmaras Mucicipais deveriam constituir uma comissão de destrituição das cestas básicas formada com elementosde das associaçõoes dos bairros e lideres comunitários e todos os partidos politicos,uma COMISSÃO MISTA.
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+4 # Revilino Teixeira 12-04-2020 09:17
Un bon artigo! Kontunua ta skrebi sempri...
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+6 # Eugénio Lima 12-04-2020 08:07
DJAM PEGOU

Até porque, fugíamos de escaramuças de comadres. Aproveitando deste triste momento para “castigar” a outra por rivalidades fúteis.

O momento não tem, nem podia ter, espaço para comportamentos mesquinhos. Acertos de contas de comadres (DJAM PEGOU). O assunto é para lá de delicado.

Assisti na minha zona, Eugénio Lima - força juntos venceremos, um acontecimento triste e chocante de uma família bem numerosos e de parcos recursos, neste momento marido (pedreiro) e mulher (empregada domestica) ambos no desemprego a não serem contemplados com a tal cesta básica só porque, a pessoa que fez a lista ou a distribuição estavam de guerra. Não se falavam.

Triste e vergonhoso.
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+5 # Atlovir 12-04-2020 06:17
Sen duvida un artigo exsepisional! Un vison sempri di riprisenta pobres ou seja pessoas ki ka ten voz.
Artigos di kel li é pa skrebedu sempri. Nhas parabens e kontinua sempri pamodi es atual governu es ses vison é governa sen abusula ou seja sen kes quatus pontos kardial: een Norti, sen Sul, sen Este e sen Oeste.
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+3 # Colundjul51net@hotm 12-04-2020 01:50
Um governo que chuta números . sem nenhuma responsabimidade. Sao bons nisso.
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+3 # Atento 12-04-2020 00:02
Como sempre um artigo à altura! Ao mesmo tempo uma duzia de pauladas ao GOVERNO do MPD e à Camera Municipal da Praia.
Ulisses, Oscar,
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+5 # Goncalo Amarante 11-04-2020 22:56
Um artigo muito bem fundamentado que espelha uma realidade absoluta daquilo que de facto se passa pelos bairros da Cidade pela junção de pessoas para cada uma delas receber o que explanou o nosso amigo. É uma pouca vergonha e tremendq falta de sensibilidade social desse governo propagandista e de poucas virtudes.
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