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francisco carvalho

1. Chegamos a um ponto em que, talvez, seja uma boa medida de autoproteção, o cidadão começar a andar com um dicionário debaixo do braço! Tão frequentes se tornaram as tentativas de confundir, ludibriar, criar perceções e “impor sentido”, em simultâneo com a proliferação de pessoas, instituições e governos que querem mudar a realidade e apostam em mudar os nomes das coisas mais simples que conhecemos desde sempre. É o caso desta última jogada de tentar enganar o cidadão de que “estágio” é a mesma coisa que “emprego”. Não é!

2. Importa distinguir! Em Cabo Verde, o emprego é constituído por um contrato e com um salário que na função pública, por exemplo, para um licenciado começa nos 65 mil escudos. Sem considerar os chamados quadros privativos como institutos, agências reguladoras, etc., em que o vencimento base ronda os 100 mil, um pouco menos ou muito cima. Enquanto este programa de estágios, agora apresentado como uma “solução” para o problema do desemprego em Cabo Verde, paga aos jovens a quantia de cerca de 32 mil escudos. Desde logo, trata-se do mesmo trabalho pela metade do preço mais baixo que é o público;

3. É claro que o jovem, ansioso por entrar no mercado de trabalho, nem sequer olha para o montante da retribuição. Na verdade, é o que menos conta para ele. O pior e imoral é o Governo de um país contar, precisamente, com o desespero desse jovem para, por um lado, ludibriar que está a criar emprego, e, por outro, alimentar a ilusão desse mesmo jovem, ao vender-lhe a ideia de que no final do estágio está um posto de trabalho com um contrato definitivo à espera dele. É que estes programas de estágio são apresentados como se de emprego definitivo se tratassem! Lá vão os pais, tios, amigos, padrinhos, madrinhas e vizinhos, a incitar o coitado do estagiário com um “nha fidju, odja si bu ta anda dreto, pa ora ki txiga fim de stagio, pes faze-u kontrato”. Assim, o ciclo da ilusão fica completo, com a transferência da responsabilidade de contratação para o triste estagiário, quando desde o início não estava previsto contratação nenhuma para ninguém. Basta ir comprovar se no orçamento do serviço ou da empresa que acolhe o estágio, tem lá uma rúbrica destinada à contratação de estagiários;

4. É neste contexto que não me restam quaisquer dúvidas: só governos fracos e incapazes de criar emprego é que se vangloriam com a criação de programas de estágios. Pior ainda, com o único objetivo de ludibriar os menos atentos e tirar proveito – sem qualquer pudor – da pobreza e consciência de dificuldades reinante entre os jovens que se vão formando, sabedores da ausência de uma única perspetiva de saída futura nas suas vidas. Torpedeados por dívidas com propinas e barrados pelo Centro Comum de Vistos, nem se apercebem do tamanho do logro que são esses estágios sem saída orçamental garantida;

5. Sem esquecer os malabarismos estatísticos a que essas contratações de estagiários se poderão vir a prestar. É fácil imaginar um questionário sobre o emprego numa data cirúrgica, na exata altura em que há o “boom” de estagiários. Somados a outros anúncios de inovações e criação de negócios, mesmo que falidos à partida, uns 1000 estagiários e novos proprietários representarão um acréscimo de 4,5% em relação aos estimados 22 mil funcionários públicos. Serão sempre mais números para continuar o processo de ilusão nacional!

6. Depois de quatro orçamentos de Estado e jogos básicos de secretaria à volta do PIB, num cenário cada vez mais longínquo dos irresponsáveis 45 mil postos de trabalho prometidos durante a campanha eleitoral, entramos, gradualmente, num ambiente de artimanhas diversas de modo a lançar dados estatísticos destinados apenas a servirem de munições para debates de mera porfia, enquanto a larga maioria de jovens continua o seu caminho de ilusão criado pelo anúncio de milhões para financiarem estágios e nenhum centavo para a contratação de estagiários depois da conclusão do estágio. É a precariedade como triste visão para a juventude deste país!

Comentários  

+2 # Cristiano Tavares 17-02-2019 18:14
O Pedro Alexandre é esse que fora Presidente da C zM de Santa Cruz, até ser derrotado por Orlando Sanches? Se sim, acho que não é a pessoa indicada para vir a público, numa discussão politico-academica, se escudar em termos como "honestidade" e outros sinônimos, porque não é digno deles. Pedro Alexandre armava-se de pistola, no dia das eleições,no se município, e só mandava distribuir a pensão social a quem estivesse recenseado e que garantisse o voto eleitorsl,...
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+5 # Francisco A.Carvalho 13-02-2019 15:09
Caro Sr. Carlos,

1. Reafirmo o que tinha dito antes: o Sr. Carlos (cujas palavras sem fotografia, eu comento) não entendeu a essência do artigo;

2. O "argumeto do fanatismo político" é básico e narcisista. Este argumento é utilizado de forma recorrente por quem se julga superior a tudo que vem de alguém que, preconceituosamente, julga estar ligado à política!

3. Só tem complexo da Barclays aqueles que se "deslumbram com o capitalismo"...
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-4 # Carlos 11-02-2019 16:22
Caro Francisco,

Percebi muito bem a sua ideia. A sua ideia esta vazia de conteudo, o seja vale 0. Porque o Sr. limitou a dizer coisas so por dizer…sem evidencias. Percebi tambem o seu complexo aquando da comparacao com os outros paises. Nao e de ser "pomposo"...Fiz uma analise comparada simples. Infelizmente sentiu complexo por eu ter utilizado exemplo da Barclays. O Sr. Francisco nao teve alcance de perceber o meu comentario. O fanatismo politico e muito mau…Convido o Sr. Francisco a ler, ler, ler.

Abraco.
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+10 # Zona 07-02-2019 18:46
Bom, se realmente sairmos à rua para ju to dos jovens perguntarmos os os jovens desempregados vamos concluir que o artigo basea na realidade nua e crua. Imaginem quantos jovens já fizeram estagio universitario, estagio..... estagio...... sao estagios e mais estágios. Se 5% encontrou trabalho e muito, pq desses 5%, 2 % sao djobs for de boys.... o resto é para consumo jornalístico.... . Ate mesmo alguns que fizeram campanha com base no emprego nao encontraram ainda nada nadica di nada...... os dribles são para encherem o bolso de meis dúzia..... ..... os numero de todos os dados e estudos de trabalho sao multipmicados por 25.....
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-8 # Pedro Alexandre Roch 07-02-2019 16:15
Dizer que mais de metade dos jovens que vão ingressar o estágio profissional vão ser absorvidos pelo mercado de trabalho é ser honesto, sincero e leal para com a juventude. É não enganar os jovens que o estágio é o emprego.
O único indivíduo que se ludibria e tenta passar para os outros o seu ludibrio é o autor deste post.
Todos os jovens estão conscientes que o estágio não é o emprego, mas que é uma porta aberta para o emprego.
O autor deste post sabe-o muito bem, mas a estratégia do Paicv é de DESINFORMAR e MANIPULAR, lançando os seus vassalos escribas na tarefa inglória de confundir a opinião pública jovem, face ao impacto que este programa do atual governo terá na criação do emprego, sobretudo emprego jovem .
Em nenhum momento o governo falou aos jovens de que esse estágio é sinónima de emprego, mas sim que é uma via aberta para o mercado de trabalho.
Nos países desenvolvidos todo o jovem que termina a sua formação passa por um período de estágio obrigatório, programado e financiado pelos governos, antes de entrarem no mercado de trabalho. Cabo Verde está a trilhar este bom caminho para o desespero do Paicv e dos seus vassalos escribas.
O alcance, a amplitude e a qualidade desses estágios profissionais jamais tiveram paralelo em Cabo Verde, no passado em que o Paicv era governo. Eis a razão da sua inquietação e do seu incómodo. Pois, para o Paicv tudo que é bom para Cabo Verde é uma angústia infindável e desesperante.
Torna-se ridículo negar o óbvio com argumentos financeiros esfarrapados. Este é o compromisso do governo e está estampado no OGE de 2019 que foi publicado no sítio do Ministério das Finanças: um milhão de contos para estágio profissional e o Vice-Primeiro Ministro garantiu hoje na entrevista à RCV que a verba está garantida e, se for necessário o seu reforço, o governo fá-lo-á, sem dificuldades.
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0 # pinton 25-02-2019 11:00
Muito bem respondidio.

Aqui na Europa é a mesmissima coisa, se voce não faz estagios, não consegue entrar no mercado de trabalho. Porque ficas num circulo vicioso, o perguntam logo antes de teres um emprego""é qual é a tua experiencia?
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0 # Galo 25-02-2019 13:06
"pinton" diz "aqui na Europa é a mesmissima coisa". Sabe qual é a taxa de desemprego na Europa? Sabe qual é a de Cabo Verde? Sabe se estágio Cabo Verde tem mesma garantia de trabalho do que na Europa? Sabe quantos postos de trabalho são criados na Europa? Sabe quantos são criados em Cabo Verde? Como disse o Francisco e muito bem, para quê criar estágio só para enganar os jovens porque estágio não é emprego e não es
a a sr criado postos de trabalho para o estágio.
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-9 # Carlos 07-02-2019 15:41
Caro Francisco,

Estava a espera de algo mais no seu artigo de opiniao. Nao apresentou nenhuma evidencia que suporta o seu argumento.

Vejamos:
Qual e o objectivo do estagio?
- ganhar "work experience" para enfrentar o mundo laboral.

O senhor Francisco sabe que hoje nao existe emprego para toda a vida.

Valor do estagio = 32.000 (exelente inicio mesmo se for por um mes). Fiz estagio professional na Barclays nunca recebi um centimo. Ou seja, recebi mais importante skills e competencias para enfrentar a realidade... Neste momento KPMG, Deloitte entre outras empresas contratam quadros pos-graduados para 2 anos de estagio com salario minimo. Estou a falar de paises como Reino Unido e Australia.

O programa do estagio professional ja existia. Infelizmente funcionou para grupos de amigos.

O problema do emprego/desemprego em Cabo Verde esta muito ligado as mentiras dos politicos, ou seja, as promessas. Infelizmente os nossos politicos nao estao preparados para governar cabo verde (Nem do MPD e nem do PAICV). Nao e Porque nao querem...mas sim pela limitacao da competencia...os nossos dirigentes sao muito limitados tecnicamente e culturalmente.

Abraco.
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+5 # Francisco A Carvalho 08-02-2019 00:29
Caro Carlos,
1. Parece-me que não entendeu a ideia central do artigo. Não é discutir as modalidades de estágio existentes pelo mundo fora, nem fazer a listagem de estágios pomposos na Barclays, União Europeia, Abu Dabi, etc. Até porque muitos são estágios que são apenas um investimento para o currículum, uma espécie de amuleto para a entrada no mundo laboral;

2. Por outro lado, o artigo não discute cada um dos elementos de forma isolada;

3. A ideia central é o uso de propaganda para confundir os jovens de que "estágio" é sinónimo de "emprego". Tem de ser denunciado!
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+5 # Francisco A.Carvalho 07-02-2019 15:28
1. Esta frase do comentário em baixo confirma tudo: “mais de metade deles vão ser absorvidos no mercado de trabalho no final do estágio”. Esta frase é uma prova de que a ideia é mesmo essa de criar a ilusão de que o “estágio” significa “emprego”;

2. A única garantia de que isso corresponderia à verdade é se nos orçamentos dos serviços estivesse lá um montante especificado para a contratação dos estagiários assim que terminassem os seus estágios. Não está lá nada!

3. É uma pena que se esteja a enganar os jovens e brincar com as suas incertezas e inseguranças sobre o futuro das suas vidas;

4. É uma pena que a principal medida para combater o desemprego jovem seja enganar e ludibriar.
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-8 # Pedro Alexandre Roch 07-02-2019 10:57
Este é mais um exercício bacoco e infértil de tentar, desesperadamente, subestimar e diminuir o impacto do programa "Estágio Profissional" dirigido aos jovens que concluem a licenciatura. O impacto é deveras significativo e os vassalos escribas do Paicv lançam-se ao trabalho de desvalorizar o seu efeito. São cerca de 10.000 jovens que vão beneficiar.
Este programa não é uma invenção deste governo. O governo do Paicv também já o implementava. A diferença é que o governo do Paicv nunca atingiu esta amplitude, qualidade e alcance. Daí a razão de mandar os seus escribas de serviço tentar atenuar o seu impacto junto da juventude.
Outra diferença é que o novo governo não faz a discriminação entre os jovens. O estágio é dirigido a todos os jovens que apresentam as condições exigidas e não se vê pela sua cor política ou pelas suas opções político-partidárias , ao contrário dos estágios promovidos pelo governo do Paicv que discriminava os jovens, excluindo aqueles que eram conotados com outras forças políticas, nomeadamente com o Mpd.
O governo é claro e transparente na condução de estágios. Ninguém é ludibriado com emprego. Esta é uma invenção do Paicv para MANIPULAR e CONFUNDIR.
Estes jovens estão, devidamente, informados de que se trata de um estágio e não de um emprego, mas estão felizes porque aliviam as suas necessidades e colocam-nos à porta do emprego, pois mais de metade deles vão ser absorvidos no mercado de trabalho no final do estágio.
Eis a razão que desespera o Paicv.
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+5 # Aderito 08-02-2019 09:20
É incrível a forma como os MPDistas estribam conscientemente em falsos pilares. Acredito que seremos melhores se falarmos verdade à juventude recém formada e aceitarmos os números exatamente como são. Disse!
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+4 # Francisco A.Carvalho 08-02-2019 12:18
Nem mais, Aderito! É preciso falar a verdade aos jovens e à Nação!
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