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francisco carvalho

1. A situação exige que comecemos por uma das definições mais simples: Estado é uma entidade que tem poder de soberania [kenha ki ta manda] sobre um determinado território. O Estado tem Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário. Isto quer dizer que é só – e apenas só – o Estado que deve criar e executar leis e fazer justiça!

2. O problema é que o Estado de Cabo Verde tem vindo a dar sinais claros de incapacidade de exercer o seu poder. Primeiro foi o acordo SOFA em que abriu mão de julgar certos cidadãos estrangeiros que venham a cometer crimes no território nacional. Agora, depois de o Estado criar uma lei na área da aviação civil, é este mesmo Estado que volta atrás por imposição – imagine-se! – de uma empresa estrangeira;

3. Para uma melhor contextualização, importa resumir: dia 21 de setembro de 2018, a Agência de Aviação Civil (AAC) anuncia medidas que levam a uma redução nos preços para a maior parte dos voos domésticos; três dias depois a companhia aérea estrangeira Binter, à qual o Governo ofereceu o monopólio do mercado interno nacional, faz chantagem com o Estado de Cabo Verde, anunciando a suspensão da venda de bilhetes a partir de 28 de outubro; 24 horas depois de reuniões entre a AAC, o Governo de Cabo Verde e o patrão da Binter, eis que o Estado de Cabo Verde, numa triste figura, através da AAC, presta-se ao papel menor de ceder à chantagem da Binter, “despistando” que, afinal, vai repensar a sua legislação;

4. A AAC que viveu os seus já quase década e meia de existência, em quase absoluto anonimato – mas com ganhos nos bastidores extraordinários para a aviação do país – vê-se assim, de repente, sob as luzes da ribalta, para onde salta, mas devido a péssimas razões: passou de reguladora para regulada! Há um Conselho de Administração que perde toda a sua dignidade ao sucumbir-se, sem uma réstia de espinha dorsal – como alguém já tinha dito –, numa evidente situação de "refém material" do futuro! Perfeitamente encaixado nesse novo posicionamento da moda nacional: silêncio e subserviência, sem ética, nem moral alguma;

5. Contudo, é preciso ver bem que o esvaziamento da regulação é uma medida profundamente ideológica e de fundo! A direita elimina a regulação para que as suas empresas aumentem cada vez mais os seus lucros. É isto que aconteceu. A AAC baixou os preços das passagens e isso iria diminuir o lucro da Binter. Esta anunciou o fim dos voos e, imediatamente, o Governo veio garantir que o nível de lucro da Binter se mantivesse intacto. É o Estado "amigo das empresas" e "sem djobi pa lado" para os cidadãos. Estes que, por ironia do destino, sempre acharam que "sem djobi pa ladu" só se aplicava aos outros;

6. Esta é a razão porque o Governo está a proceder à extinção e fusão de agências reguladoras. É que assim, há menos regulação e maior à vontade para as empresas privadas operarem com menor controlo e maiores taxas de lucros. É nesta estratégia que se enquadra a extinção da Agência Marítima e Portuária (AMP), precisamente, porque foi esvaziada ao ser-lhe retirada a regulação económica; aqui também se inclui a extinção da Agência de Regulação Económica (ARE) e da Agência Nacional das Comunicações (ANAC), criando a Agência Reguladora Multissectorial da Economia (ARME), concentrando tanto a regulação como a margem de controlo do poder de decisão. É esta a posição ideológica da direita: Estado fraco para os privados poderem explorar o povo e aumentar a sua acumulação de riqueza. Com menos justiça social porque diminui o número de pessoas que poderiam ter acesso à possibilidade de viajar num país constituído apenas por ilhas!

7. Há a assinalar, ainda, um facto incontornável: AAC é Estado de Cabo Verde. Os membros de Governo têm bastante poder, mas ainda não têm o poder de mudar factos! Pior ainda neste caso em que é o Estado que determina a decisão da agência de regulação, com consentimento desta – é certo! – e o mesmo Estado é acionista da empresa, cujo enriquecimento promove, sem se saber com que contrapartidas, pois, o contrato nunca foi visto por nenhuma instituição da República!

Comentários  

+5 # SÓCRATES DE SANTIAGO 30-09-2018 14:40
Gostei do artigo, meu caro patrício Francisco Carvalho. Assino, plenamente, por baixo. Cumprimentos socráticos!|
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+5 # Emelena freitas Alfa 30-09-2018 07:11
Sempre que se vêem enrolados trazemo arresto do aviâo na Holanda mas o Caboverdeano sabe que ai teve treta mas uma vergonha bem recente milhares de passageiros deixados nos aerportos a toa voos cancelados funcionários atoa e ainda pior eu uma simples comerciante pago o excesso para a Binter trazer a minha bagagem do sal para a praia ela resolve ussurpar do meu dinheiro e manda a bagagem de barco pagando menos da metade do que me cobrou falta de respeito para um governo que tinha todas as soluções dois anos é demais até porque a TACV ja vinha desde os anos noventa comproblemas mas o governo do mpd de novo o assacinou nâo precisa vir com defensivas nós o não entendido no assunto temos ouvido e ollhos e graças a Deus sem papas na lingua
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+3 # Francisco A Carvalho 30-09-2018 03:34
Pela leitura do comentário acima, dá para perceber que o Pedro Alexandre faz confusão no entendimento do conceito de ideologia. O homem pensa que a única ideologia que existe é a do tempo da União Soviética. Leu o texto, mas não entendeu que o que se diz ali é que todo o imbróglio à volta da AAC é resultado do seguimento de uma ideologia que, por sua vez, defende a acumulação de capital "sem djobi pa ladu", quer dizer, sem levar em conta outras variáveis, por exemplo a justiça no acesso ao serviço e preço justo definido pela reguladora.
Pedro Alexandre, houve a ideologia do tempo da União Soviética e há esta, agora, também. Todas são ideologias.
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+3 # Mário 30-09-2018 00:01
Sr Pedro asno ta marca 0 kuatu kuatu. Ka ninguen lebal en conta
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-4 # Pedro Alexandre Roch 29-09-2018 14:36
Um MONÓLOGO, fruto de uma ideologia que PRENDE as mentes e ATROFIA a capacidade de desenvolver um pensamento autónomo e independente de ideologias. O autor desta escrita é vítima desse passado marcado de inputs ideológicos que LAVARAM muitos cérebros jovens e os PRENDERAM a um canudo único, assim como foi o partido único que os prendeu a uma ideologia manipulativa e propagandística. Nos tempos de hoje a política não se guia pelas ideologias am[censurado]doras e condicionantes da liberdade individual e do pensamento livre e independente. Hoje, o mundo guia-se pelo PRAGMATISMO político. Esses jovens, infelizmente, ainda não se libertaram dessas ideologias cativadoras que inibem a fertilidade de um pensamento novo e produtivo . Continuam vítimas dessa lavagem cerebral a que foram submetidos durante o partido único e descontextualizados com a realidade presente. Hoje, é anacrónico, pôr o foco em ideologias, sobretudo as vetustas, do velho Império Soviético, contrárias à liberdade do pensamento e à livre iniciativa. Por isso a defesa dessa ideologia só pode ser o resultado de uma incapacidade de se adaptar ao mundo novo, marcado não pela ideologia, mas sim pelo PRAGMATISMO na governação e na tomada de decisões sobre o presente e o futuro. Compreendo a dificuldade do autor em compreender ou aceitar que em 2016 houve mudança de orientação política. A alternância de governação é uma virtude da democracia. O novo governo saído de eleições tem legitimidade para realizar a sua política e pôr em execução as suas opções. Estas não podem ser o prolongamento das opções do governo que saiu. A TACV era uma empresa completamente falida pq a opção do anterior governo fracassou em toda a direção. O novo governo impôs, com a legitimidade que recebeu do povo, as suas opções para a TACV, encontrada sem aviões, sem dinheiro e com uma dívida de mais de 12 milhões de contos. Falando da força do Estado, pergunta -se ao autor quando é que ele (Estado) foi forte? Se fosse forte porque não terá resgatado o avião arrestado na Holanda, em 2016, trazendo-o de volta para Cabo Verde? Se houve momento em que a fraqueza do Estado foi mais sentida foi, exatamente, com a prisão de um avião da TACV num país onde temos uma forte comunidade. Não só foi, nessa altura, o Estado mais FRACO que há memória, como também foi maior a nossa VERGONHA e a nossa HUMILHAÇÃO perante o mundo. Se hoje o Estado encontra fragilidades enormes e preocupantes nos transportes aéreos, tudo isso é fruto ainda do que acontecera em 2016, na TACV. O tempo decorrido de apenas dois anos e poucos é, manifestamente, insuficiente para superar uma empresa que foi encontrada em estado de cadáver. Tem que haver tempo suficiente para haver mudanças que se impõem. E os ativistas que agora aparecem como campeões para a solução da TACV foram, no passado recente, os protagonistas da derrocada dessa empresa ou ainda, alguns deles assistiram o seu descalabro de bico fechado, numa atitude contemplativa e cúmplice para garantir a sobrevivência dos seus postos e mordomias.
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+5 # Adelcides Barros 30-09-2018 09:23
O que o Pedro Alexandre comenta está recheada da ideologia da direita e ele nem da conta do conteúdo do seu comentário! É pena.
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+6 # Atlovir 29-09-2018 15:05
Pedro Alexandre Rocha,
Diaborea! Falaste e näo disseste absolutamente nada. Penso que és ou näo passes de um raquitico intelectual.

Uma pergunta só: este teu comentario é baseado tanbem numa ideologia ou näo? Um degrau maïs adiante é as normas e valores que de uma forma ou outra é e sempre será o berço da nossa ideologia, sem ser acrescentado a tertiaire fase!

Ta se bem!

Atlovir
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0 # Antonino Sampaio 29-09-2018 20:31
eh pá, este homem é horrível mesmo...!!!
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