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Corrine Almeida, Doutorada em Ecologia dos Recursos Marinhos Vivos, professora da Universidade de Cabo Verde (UniCV), Pólo do Mindelo e candidata ao cargo de Reitora nas eleições de Janeiro Próximo, traça neste exclusivo ao Santiago Magazine as linhas gerais do seu projecto de candidatura, ciente de que é necessário rebeldia para “instigar uma nova cultura. Uma cultura de participação de todos, no presente e na construção da Universidade de Cabo Verde”.

Santiago Magazine - Por que decidiu concorrer ao cargo de Reitora da Uni-CV, que acontece no dia 19 de Janeiro?

Corrine Almeida - Desde há algum tempo, eu e alguns colegas temos vindo a trocar ideias de propostas para a Causa Uni-CV. Inicialmente pensamos em estruturá-las em um programa de ação a ser apresentado aos potenciais candidatos a Reitor. Alguns meses atrás, decidiram que a melhor forma de defender tais propostas seria através de uma candidatura nossa e, a seguir, apontaram-me várias razões para que eu fosse a candidata. Entre as quais, o que designaram de Rebeldia de modus operandi que traduziram em: com base em um vasto conhecimento da instituição, defender as propostas mais adequadas, mas que não se conformam com as actuais práticas.

Tenho experiência de vida académica e de dedicação ativa, crítica e construtiva no ensino, na investigação e extensão, bem como em vários órgãos de gestão e em parcerias nacionais e estrangeiras. Esta vasta experiência forjou um conhecimento geral necessário para o exercício do papel de Reitora que ora me proponho. Tenho um conjunto de valores como amor ao trabalho, rigor, transparência, honestidade, justiça e, principalmente, amor ao próximo que imprimo em tudo o que eu faço. Por último, e mais importante em qualquer liderança, tenho capacidade de escutar, primeiro, e de decidir, depois.

O seu lema “Rebeldia pela causa UniCV", significa o quê? O que quer em concreto? 

Significa negar o conformismo. O momento pede-nos esta Rebeldia que se traduz em ter coragem e vontade para instituir e institucionalizar as mudanças necessárias para construirmos a Excelência na Universidade de Cabo Verde.

Esta Rebeldia ajusta-se à ideia de instigar uma nova cultura. Uma cultura de participação de todos, no presente e na construção da Universidade de Cabo Verde; de transparência e responsabilização em todos os atos de gestão administrativa e académica; de multiplicação de lideranças autónomas por meio de eleição, concursos públicos e o respeito pela diversidade; de gestão eficiente dos recursos materiais, humanos e financeiros; de avaliação justa de todos os colaboradores com consequentes efeitos no desenvolvimento profissional e de trabalho afincado para implicarmo-nos no financiamento desta instituição, particularmente pela prestação de serviço e pela internacionalização.

"Projetamos reforçar a internacionalização da Universidade, valorizando e incentivando a participação dos nossos colaboradores em projetos de investigação associados a redes internacionais e com acesso a fontes de financiamento"

Fala de humanização, produção e transferência de conhecimento, organização e gestão. O que é que quer dizer com isto? Como avalia a situação da Uni-CV neste momento?

Começando pela humanização, a Universidade tem de cuidar não só da formação do profissional mas também do homem. Como? Através da formação e principalmente do relacionamento no seio da comunidade, devemos fomentar a cidadania ativa e o cuidado para com o próximo e o nosso entorno.

 A produção e transferência de conhecimento é, inegavelmente, incipiente e nem sempre atende aos desafios do desenvolvimento do país. Os principais constrangimentos ao desenvolvimento da investigação científica e sua transferência devem-se à sobrecarga de atividades docente, inexistência de fontes nacionais de financiamento de investigação e pouca experiência no acesso a fontes externas de financiamento. Projetamos reforçar a internacionalização da Universidade, valorizando e incentivando a participação dos nossos colaboradores em projetos de investigação associados a redes internacionais e com acesso a fontes de financiamento. Acrescentamos também a necessidade de reforçar o Gabinete de Projetos com apoio técnico-especializado em projetos internacionais e de mobilizar para Uni-CV investigadores seniores com reconhecimento internacional.

No que respeita à organização e gestão, a nossa visão é de implementar um sistema de governança na Universidade de Cabo Verde, que se concretize em rigor, transparência, ética, eficiência e participação de todos.

No geral, quais são os pilares do seu programa eleitoral?

O nosso Programa de Ação está delineado em cinco pilares ou eixos: i) Organização e Gestão; ii) Sustentabilidade; iii) Produção e Transferência de Conhecimento; iv) Capacitação e v) Humanização.

Conta com quem para vencer as eleições?

Com o eleitorado da Uni-CV, que votará num Programa, numa Causa e, principalmente, na sua participação efectiva na construção da Excelência na Universidade de Cabo Verde.

A qualidade do Ensino Superior em Cabo Verde é muitas vezes posta em causa, tanto pelo nível dos alunos que saem formados, quanto pela docência, que é acusada de estar mais preocupada com a quantidade do que com a qualidade. Concorda? Como pensa trabalhar este aspecto?

Na Universidade Pública de Cabo Verde contamos com vários colaboradores que fazem o seu trabalho com dedicação e qualidade. Entretanto, há a urgente necessidade de se implementar um sistema de avaliação para não só conferir e valorizar a qualidade existente mas também ajustar onde ainda temos deficiência.

"...um dos nossos primeiros desafios é mobilizar todas as condições para que, no mais curto prazo, possamos criar a Fundação da Universidade de Cabo Verde. Esta Fundação será alimentada através de donativos e dos overheads da prestação de serviços e projetos"

No nosso programa, elencamos várias ações para qualificar a oferta formativa na Universidade de Cabo Verde. Para exemplificar citamos: desenvolver planos de aquisição de bibliografia, equipamentos e consumíveis; estruturar e implementar um plano de capacitação contínua dos colaboradores da Universidade e instituir programas de premiação dos docentes, investigadores, funcionários e discentes. O nosso projeto visa assegurar a construção da excelência com um quadro de ofertas formativas que atenda as demandas do mercado.

Já agora, quais as primeiras medidas que tomará, caso for eleita no dia 19 de Janeiro?

Um dos grandes problemas do ensino superior em Cabo Verde é o alto endividamento dos estudantes e a Universidade Pública ter como base de financiamento a arrecadação de propinas. Assim sendo, um dos nossos primeiros desafios é mobilizar todas as condições para que, no mais curto prazo, possamos criar a Fundação da Universidade de Cabo Verde. Esta Fundação será alimentada através de donativos e dos overheads da prestação de serviços e projetos. Esses fundos servirão, em parte, para financiar os estudantes que necessitem. Outra medida será fomentar a transparência e a participação de todos. Isso será feito através de eleições para os Conselhos Directivos das Unidades Orgânicas e concurso para os cargos de gestão, a começar pelo de administrador geral. Esta é uma medida diferenciadora que apenas este projecto tem coragem de defender e implementar.

Se perder, irá colaborar com o vencedor? E se ganhar, terá os seus adversários nesta corrida como seus colaboradores e parte da sua equipa directiva?

Este é um projeto da Universidade de Cabo Verde, desenvolvido nos últimos dois anos através de troca de ideias no seio desta academia. Sendo um projeto coerente, objetivo e viável, o vencedor terá todas as condições para o implementar. Nós estaremos cá, como sempre estivemos, na construção da excelência desta Casa. Como frisamos anteriormente, os dirigentes serão escolhidos através de eleição e concurso.

Vai ter pela frente 3 candidatos, todos a residir na Praia. O facto de se encontrar em São Vicente não prejudicará a sua candidatura?

Não. Nós estamos numa academia e cremos que os eleitores terão todo o cuidado de ler e analisar os projectos apresentados para fazer a sua escolha, de forma consciente e em prol da Universidade e do país. Este projecto é da Universidade de Cabo Verde, eu sou da Universidade de Cabo Verde.

Breve Registo do percurso da Professora Corrine Almeida

Corrine do Rosário Timas Almeida é Doutora em Ecologia dos Recursos Marinhos Vivos, pela Universidade de Las Palmas de la Gran Canaria. Fez Licenciatura em Ciências Biológicas, pela Universidade de São Paulo - Instituto de Biociências e Mestrado em Oceanografia Biológica, pela Universidade de São Paulo – Instituto Oceanográfico. A Professora Doutora Corrine Almeida incorpora em si a ideia de internacionalização da docência e da investigação made in Cabo Verde já que leciona e integra projetos de pesquisa que envolvem Universidades de diferentes países, nomeadamente da Alemanha, Espanha, Dinamarca. No início deste ano letivo lecionou disciplinas na Universidade de Vigo, Espanha, e em Goethe University Frankfurt, Alemanha e na Dinamarca. Dedica-se à pesquisa efetiva desde 1997/1998 e já publicou vários artigos científicos em revistas internacionais. Nos últimos 16 anos dedicou a sua vida à docência e à investigação – primeiro no ISEMAR e depois na Uni-CV.  

Rigorosa, Mulher de Trabalho e de Luta, nunca se curvou aos desafios. 

Comentários  

0 # adilson Ex contino 20-12-2017 15:18
Ando a assistir esta corrida com a divida distância, mas é hora de falar.
O candidato, badiu de fora, Artur Furtado, é uma fraude. O Homem que procura emprego de reitor na Uni-CV, não possui o grau de Doutor!
Investiguem e actuem rápido, porque o sonso é uma fraude e deve ir para a cadeia. Burlou toda a gente. Não pode ser candidato a coisa alguma, porque não possui as habilitações necessárias.
Agora percebo porquê que os seus apoiantes são apenas continos. Este é que são os seus verdadeiros colegas.
Responder
0 # Observador 20-12-2017 10:54
Um, Dois, Três ... e a Judite?
Bem, pelos vistos, o cargo é muito aliciante, ou ninguém tem maturidade suficiente para perceber o quanto é "pesado" o cargo de Reitor de uma Universidade, mormente em Cabo Verde. Todos se acham COMPETENTES para exercê-lo. Assim foi a TACV, que agora não se sabe é o quê, mas atenção! Por este Cabo Verde, os TACV's são muiiiiiitos. Pena é que a TACV, ao não ter avião para voar, ou ao não ter dinheiro para as operações, tudo pára e salta à vista logo. Bem, os que se julgam mais inteligentes, acham que a solução está na PRIVATIZAÇÃO. Talvez, esta venha a ser, também, a receita para a Uni-CV? Bem, para já, ela já é quase privada na medida em que a participação direta do Estado nos custos de funcionamento ronda os 30 e pouco%. Estando nessa situação, e com as enormes dificuldades que os alunos têm no pagamento das propinas, a governação da Uni-CV torna-se num Bicho de 7 Cabeças, o que coloca qualquer Reitor, por mais habilidoso que for, num corredor de gestão muito estreito em termos de possibilidades de sucesso. Será que os candidatos estão cientes disso? Mas mais, estão suficientemente preparados (de ponto de vista técnico) para governar uma Universidade?
Avaliando os pontos de vistas/opiniões dos candidatos que já se posicionaram, faz-nos lembrar os posicionamentos e os debates havidos em 2013/14. É tudo igual, revelando a superficialidade no conhecimento da essência de uma Universidade, o populismo e a ganância pelo poder. Nenhum dos candidatos, como de resto, os sucessivos reitores da Uni-CV, têm ou tiveram a coragem de trazer para o debate (interno e público) um pensamento estruturado e estratégico sobre e para a Uni-CV, enquanto Universidade Pública que deve estar ao serviço do país. Aqui, uma questão central que se coloca e que a governação da Uni-CV deve ter a coragem para enfrentar e debater com o Governo da República, é a redefinição da visão e do papel do Estado para com essa academia. Pois, a Universidade não pode continuar a funcionar nessa lógica em que toda a nossa Educação funciona, ou seja, onde a preocupação é apenas a de ALFABETIZAR as pessoas e conseguir os números que nos faça ficar "bem" junto de alguns organismos internacionais. O país tem que clarificar a sua visão sobre a Educação no Geral se não queremos continuar no fio da navalha perante as SECAS, como a que estamos a atravessar. É preciso acreditar que tudo se resolve com a Educação/formação de qualidade e, não apenas, repito, para ALFABETIZAR. (digo isto porque já estamos a ter pessoas com o título de doutor, mas que é pouco mais
do que um simples alfabetizado). Enquanto o Estado não der essa Cambalhota, não vejo Reitor nenhum, por mais qualificado e habilidoso que for a vir fazer da Uni-CV a realidade dos discursos de momento. Mas qual é o candidato que tem a coragem de tocar com o dedo nas feridas?
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