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Por: Elsa Furtado

 ElsaFurtado

Por estas bandas o Sr. Barulho está institucionalizado. Conseguiu estatuto de permanência e agora tem os “pés” fincados no chão. Não adianta reclamar, queixar-se ou ficar chateado porque ele já se oficializou e ai de quem se lhe oponha!

Para quem se sentir incomodado com a sua presença, melhor não falar, sufri kaladu, pois o Sr. Barulho adquiriu o estatuto do “Não-Me-Toques”.

Instalou-se dentro das casas, nos bares, nas ruas e nos carros! Nestes últimos tempos então, com o eclodir da época das festas de romaria, nem se fala! Para quem tem a necessidade de fazer um percurso longo nos Hiaces, é um verdadeiro martírio. O nosso famoso kotxi-po, kutun-kutun durante 1 hora ou mais, é demais para um cristão!

Difícil de entender: todos se queixam da pouca ou não existência do dinheiro, tanto os condutores como os proprietários; todos têm na boca o tão famoso Kau sta mau ou o bendito kau dja tora; todavia, como é que todos os carros de passageiros, tanto Hiaces como Hiluxes estejam equipados com aparelhos ultramodernos que emitem sons de milhares de decibéis?

O barulho é tanto que mesmo depois da viajem, a gente leva horas continuando com o barulho dentro da cabeça!

Alguns condutores sentem-se tão “machos” que, abrem o som no máximo, escancaram as portas do carro e deixam que o som extravase (a virilidade varia na direta proporção do som, ou seja, quanto mais alto o som, mais macho se é)!

As pessoas admiram. Acham chique. Há mesmo aquelas que começam a balançar ao som do barulho (entenda-se, da música), mostrando perfeita empatia entre o barulho e elas.

É impossível pensar, reflectir, meditar! Tudo tem que seguir a onda do Sr. Barulho! Na rua, dentro das casas, por tudo o que é lado. De dia, à tarde, à noite. Se pedes aos vizinhos que baixem a música, estás sendo chata, se chamas a polícia, és inimiga, vais para lista negra, com direito a revanchismo.

O barulho reflecte, obviamente, também pela forma de interagir entre as pessoas. São gritos, apupos, independentemente do lugar e das pessoas com quem se esteja a interagir.

Contagiante para as crianças, que aprendem mais vendo e reproduzindo do que de outra forma. Começam a achar o barulho a coisa mais normal que exista e interiorizam a prática de gritar, falar alto e conviver com o Sr. Barulho com a maior naturalidade.

Isso provoca uma aversão ao silêncio e a tudo o que seja a favor de interiorização e reflexão. Assim, quem fala mais alto, é mais forte, quem faz mais barulho tem mais razão, quem grita mais é mais poderoso, e assim por diante.

E ninguém fica imune a isso: todos falamos alto, gritamos desnecessariamente, temos dificuldades em nos concentrar...e a meditação? Esta fica apenas nas intenções.

Calheta, junho de 2018

Comentários  

0 # Joao 03-08-2018 11:15
Bom artigo!
Abordou vários pontos sensíveis sendo todos eles verdadeiros. O barrulho tomou conta das nossas cidades, vilas e aldeias. As entidades públicas (Câmaras municipais em primeira linha), os promotores de eventos e muitos particulares já não respeitam os cidadãos. Este barulho incomoda a todos mas ninguém consegue mudar este cenário. Pior, a situação tende a agravar-se e a lei existente sobre a matéria tem sido letra morta. Até parece que ninguém consegue distinguir entretenimento do barulho. Falta respeito pelo próximo, respeito por si mesmo e respeito pela vida em comunidade. Urge combater esta prática perniciosa para todos.
#stamal
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0 # Pedro Fernandes 26-07-2018 00:57
Muito bem prima Elsa, uma boa escrita.
Atualmente o barulho constitui um dos piores males das sociedades modernas. Continua estás no rumo certo, sempre a brindar-nos com boas reflexões. Um abraço.
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0 # Torres 23-07-2018 20:24
Meus ilustres! Com o devido respeito pela vossa opinião. seria muito bom que não confundamos um artigo tão importante com com questões da política partidária. Prezemos pelas boas práticas, ensinemos os nossos filhos, porque, caso contrário,será um caos no futuro. O vizinho acha se gana de por a música como lhe apetece, os outros estão obrigados a ouvir mesmo que não queira, os hiacistas fazem de orelha moca quando o passageiro lh chama atenção, o proprietário da bar ali na esquina faz o mesmo. Barulho qu nunca mais acaba.
A lei da poluição sonora que vá para o caixote de lixo ,ou qu . quem direto tone conta disto. Seria uma matéria importwnte a introduzir, na formação de condutores, proprietários de quiosque bares e restaurantes e a população em geral.
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0 # Marciano Moreira 23-07-2018 10:38
Prufundu i pertinenti! Forsa!
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0 # Barulhento Sanches 23-07-2018 08:06
Baseado em factos, arrisco-me a dizer que, a matxundadi do Sr. Barulho vem extravasando as fronteiras do simples estatuto e reclamou proteção ou guarda-costas.
Ora, no princípio dos anos de 1990, a campanha eleitoral acabaria de iniciar. Era meia noite em pino, de um dia útil da semana. Em Achada Fátima, no concelho de Santa Cruz, umas colunas com muitos milhares de “barulhe eis” começaram a emitir Slogan campal sem o mínimo de respeito para com quem levanta kel otu dia sedu palmanhan. Todo o processo estava sendo produzido, realizado e conduzido pelo Sr. Pedro Alexandre Tavares Rocha, sob as couraças protetoras dos capangas, os karatecas Quintino de Nha Domingas e os irmãos Duncan os (NAI e Nandi de Raimundo).
Um cidadão, ou eleitor, se quiser, telefonou à Polícia, este respondeu-lhe que nada podia fazer contra Pedro Alexandre, a não ser que já não quisesse envergar a farda verde-escura.
O cidadão deslocou-se à residência do então Procurador da Comarca, Evandro de Condon e denunciou o caso. Com toda a bazofaria, o Procurador ligou à Polícia e determinou a que atuasse imediatamente. Com medo da democracia (malkiriadokrasia?) o agente disse que foi acatar uma determinação do Sr. Procurador, Evandro de Condon.
Pedro Alexandre Tavares Rocha, Presidente e candidato à sua sucessão para a Câmara Municipal de Santa Cruz, dirigiu e comandou o seu exército, tendo ido, sen djobe pa ladu, invadir a residência do Procurador. Obrigaram-no a abrir-lhes a porta, entraram, enxovalharam-no e, a dada altura, o Comandante do Pelotão, um dos manos Duncano perguntou:
- Senhor Presidente, tomamos medidas?
Dizem que o Procurador ficou a tremer, outros dizem que ele chorou e, a mesmo quem diga que ele mijou nas calças. Entretanto, um rabentola, um ferrenho mpdista, disse que segurou no nariz e recuou porque o cheiro era fedi Dimas.
E acredito, porque se bosta de um simples mortal cheira fedi… de um Doutor então!...
E o Sr. Barulho imperou quitemente por mais 15 dias seguidos.

Falei.
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+5 # Emanuel 21-07-2018 12:02
Apoio e recomendo. O barulho foi institucionalizado em Cabo Verde, desde o ano da Independencia, com os bailes ao ar livre, nos polivalentes e outros espacos abertos, realizados pelas entidades locais e privados, sem respeito por ninguem. O barulho passou a ser uma das vertentes da nossa cultura.
H'a alguns anos, perdeu-se tempo a criar uma lei contra o barulho, com recurso a decibeis, etc, que ninguem ligou, nem os seus promotores. 'E que, de facto, tal comportamento esta ligado a m'a-educacao das pessoas, que em Cabo Verde sao a maioria, inclusive as que fazem parte dos poderes locais e centrais. Desde crianca que sei que é proibido fazer barulho depois da meia-noite, nao interessando se corresponde a 1 ou a 100 decibeis. Tal disposicao consta das posturas municipais e do Codigo Civil. Como estamos em democracia, sendo a maioria quem manda e desmanda, nada a fazer, pois esta é mal-educada.
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+2 # Rosa 21-07-2018 01:29
Minha sra., a sra fez uma analise perfeita de tudo o que se passa um pouco por todo o País.
Nao valia pena haver uma lei de poluição sonora em Cabo Verde. Isto é falta de respeito que brada os ceus. A instituição Policia deveria atuar os infratores, pois, a lei existe é para ser cumprida e cabe a instituição policia fiscalizar e atuar o infrator.
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+3 # Gilberto Furtado Vie 20-07-2018 21:22
Boa dissertação prima. Costumo dizer que a lei sm C. Verde é oara o inglês ver. A legislação é bonita mas não funciona. Interessou me sobretudo a parte que mostra a interiozicao pelas crianças desta pratica. Quem é professor sabe o que e lidar ckm barulho. E preocupante o fato das pessoas acharem que é normal. Para onde vamos...?
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+1 # Mario Silva 20-07-2018 20:19
Finalmente alguém em Sá consciência reconhece que o nadou é extremamente barulhento.Um pouco mais de civismo não faz mal a ninguém.
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+1 # Cutelu Mendi 20-07-2018 20:06
Muito bem, Elsa Furtado. Excelente artigo, abordando um tema que nos aflige a todos. Cabo vive uma insuportável barrulheira desde das primeiras eleições pluralistas, com altifalantes aos berros e as músicas de campanha. O MPD e o PAICV são os maiores poluidores sonoros do espaço público. Depois, vem os festivais e os berros de todo o tipo. Devia haver uma alta autoridade para punir os infractores institucionais. Sendo que o restante pessoal devia ver-se em aperto com a polícia.
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