E pronto. O nosso país perdeu a oportunidade de presidir a Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. Costa de Marfim passa à frente e vai assumir a presidência da comunidade. E Cabo Verde vai continuar na região como uma alma morta, mas que se recusa a deixar o mundo dos vivos, mesmo que ninguém dê por ela, mesmo que ninguém esteja interessado em saber se ainda anda por aqui ou não.
É assim que Cabo Verde sempre esteve na região e é assim é que vai continuar por muito tempo. Ou seja, Cabo Verde vai continuar de corpo presente na região. Porque escolheu assim! Sempre quis que assim fosse. E os países da região, os maiorais, nada mais estão a fazer do que assegurar-lhe a vontade.
Por isso, nada de lamentos. Costa de Marfim é o favorito. E que favorito! Porque tem amigos. Amigos com quem conta, porque contam com ele também.
É assim. Quem ama os seus amigos é também amado por estes. Como diz o ditado popular, “uma mão lava a outra e as duas lavam a cabeça”. Os maiorais da região nunca acreditam na amizade de Cabo Verde, e por isso jamais o ajudam a lavar a cabeça.
Porquê? Porque Cabo Verde tem assumido ao longo dos anos, uma relação simultaneamente cínica e hipócrita com a CEDEAO. Uma relação de desconfiança e de descrédito. O nosso país sempre se posicionou em cima do muro em relação aos problemas e demandas da região. Esquivou-se sempre, umas vezes de forma clara outras vezes de forma dissimulada, porém esta nossa indignidade diplomática e política não passou despercebida na comunidade, que foi registando e corrigindo para não ser enganada em momentos que podem ser cruciais e onde os oportunistas costumam jogar pesado.
Com efeito, o nosso país nunca apareceu como parte da solução da CEDEAO, posicionando-se como se os problemas da região não lhe pertencessem, não fossem seus também.
No entanto, quando surge algo bom, o nosso país aproxima e assume um discurso de parceria, de amizade, de comunidade, próprio dos oportunistas, para logo de seguida afastar-se, muitas vezes adoptando discursos inflamados sobre a bondade ou os benefícios de ser membro de um corpo que, apesar de tudo, continua sendo estranho aos seus sonhos e projectos. Momentos houve em que dirigentes deste país, devidamente identificados, chegaram ao ponto de sugerir a saída do nosso país da comunidade.
E agora?
E agora, aqui estamos. No meio do mar. Na costa ocidental do continente africano, remando atrás da nossa identidade, como criança rejeitada pelos seus progenitores. Ou, mais pior ainda, como criança que, à viva força, quer trocar de pai, porque recusa aceitar o seu verdadeiro progenitor. E o pai, no caso a comunidade, apesar de rejeitado, sempre abre a porta ao filho, lhe afaga a cabeça, a ver se toma o tino para, tão logo quanto possível, assumir a sua condição de membro da família, de filho legitimo, para, ao menos, legitimar-se na corrida à herança. Porque a herança vem com a identidade e com o nome. Quem se assume bastardo, que aguarde atrás da porta!
Entretanto, nada de estranhar porque nós temos um problema real de identidade. Somos uma espécie de "filhas da [censurado]", que duvidam de quem é o seu verdadeiro PAI. Mas a verdade é que não somos culpados por este facto, pois a nossa mentalidade resulta do nosso processo histórico e esta modifica-se é com a passagem de GERAÇÕES o que ainda não operou na nossa sociedade.
Peçam a Pedro Pires, que nos explique em tempo útil, por que razão, após a independência nacional, Cabo Verde passou cinco anos sem CONSTITUIÇÃO e a primeira, aprovada em em Setembro de 1980, não dava corpo ao projecto da então propalada UNIDADE GUINÉ E CABO VERDE, DOIS CORPO UM CORAÇÃO.
Isto porque já não é possível perguntar a um ex CAMARADA dele, anos após a nossa independência, respondendo à pergunta do jornalista Castanheira questionou se a Independência foi a melhor opção.
O nosso problema de IDENTIDADE É REAL, a nossa paixão pela Europa não escondida, por isso é normal que não sejamos permitido liderar uma comunidade de povos com quem lidamos com desconfiança.De todo modo, a Nigéria deu um sinal importante que os nossos diplomatas não perceberam de que se Isaías tivesse merecido o consenso dos Caboverdianos, seria mais provável conseguirmos esse objectivo meramente circunstancial.