A gestão fundiária em Cabo Verde tem dado muito que falar. Há muita coisa encoberta, violação de leis e de direitos, negócios obscuros, tráfico de influência, cumplicidades institucionais públicas.
Vários artigos têm sido publicados ao longo dos anos, por diversas entidades, versando o tema. Existem processos judiciais em curso, envolvendo importantes figuras do mundo político, económico e social das ilhas, mas a ideia de impunidade prevalece, com o Estado a assumir o duplo papel do lobo e do cordeiro.
Santiago Magazine, enquanto órgão de comunicação social, tem feito a sua parte, trabalhando na divulgação de negócios de solos no país, na medida das suas possibilidades e de acordo com as informações disponíveis, ciente de que há muito lixo escondido debaixo do tapete e no silêncio das luvas transacionadas entre as partes envolvidas, condimentado com palmadinhas nas costas e olhares cúmplices de satisfação.
De mano para mano, como se diz na gíria popular, todos devem receber o seu quinhão, para que ninguém fique ralhando pelos cantos, não vá o diabo tecê-las.
Em julho de 2019, o jornal Santiago Magazine publicou um Editorial sob o título “A máfia de terrenos e o "dinheiro que nunca mais acaba", onde a imobiliária Turística Salamansa havia sido abordada, entre outros processos.
Porém, novos desenvolvimentos à volta dessa imobiliária recomendam o presente editorial, que apenas quer ver o interesse coletivo salvaguardado, no quadro de uma gestão pública eficiente, eficaz, justa e vinculada aos princípios que fundamentam um Estado de Direito.
Ora, temos que a Imobiliária Turística Salamanca é uma empresa que pertence ao Grupo Figueiredo SGPS, e tem como membros do Conselho de Administração Paulo Figueiredo, Teófilo Figueiredo, José Carvalho (foi Diretor Geral do Turismo, Administrador Executivo da SDTIBM, Administrador Não Executivo e Presidente Substituto da Cabo Verde Investimentos) e José Tomás Veiga.
Fonte: https://www.its.cv/board-of-directors
Não é de se desprezar o facto de que esta empresa se assemelha à Tecnicil, seja na origem, seja nos proprietários. Todos eles que são ou foram proeminentes figuras do MpD.
Recuando um pouco no tempo, temos que a criação das Zonas Turísticas Especiais em São Vicente na zona de Salamansa, Saragaça, Topinho e São Pedro, foi oficialmente aprovada no B. O. N.º 32, de 25 de agosto de 2008, pelo então Governo de José Maria Neves.
Em 2016, o governo de José Maria Neves deixa o poder. A 20 de outubro de 2017, é publicada a Resolução nº 116/2017, que altera o Plano de Ordenamento Turístico (POT) (incluindo o do Saragaça, Topinho e São Pedro), determinando que dos 552 hectares da Zona Turística de Salamansa, 70% se destinam à ocupação de empreendimentos hoteleiros e imobiliária turística, 22% constituem áreas não ocupáveis e 8% ficam reservados à Área Técnica. Da área ocupável, 11% ficam reservadas ao campo de golfe.
Logo no mês seguinte, ou seja, em novembro, seria aprovada a minuta da Convenção de Estabelecimento a celebrar entre o Estado de Cabo Verde, representado pelo então Ministro da Economia e Emprego, José da Silva Gonçalves, e a Imobiliária Turística de Salamansa - ITS S.A. para a Urbanização da Fase 1 da ZTS.
Registe-se que apesar da justeza e seriedade deste instrumento para a atracão de investimentos, nebulam dúvidas pertinentes sobre a sua valência. Por exemplo, o governo exige prova concreta do financiamento, isto é, a garantia de que o Investidor tem o dinheiro para investir antes de assinar a Convenção de Estabelecimento? Tem sido a Convenção de Estabelecimento (doação de Terrenos e isenções fiscais e aduaneiras) o garante do financiamento apresentado aos investidores?
O tempo passa e de repente estamos em 2019, concretamente a 1 de julho desse ano, quando a Imobiliária Turística de Salamansa (ITS) e o Banco de Investimento e Desenvolvimento da CEDEAO (EBID) resolve rubricar o acordo de financiamento para a construção do "Salamansa Bay Stage1", na Ilha de São Vicente. Este ato acontece durante o Cabo Verde Investment Fórum.
Note-se que o Meliã Salamansabay foi promovido pela ITS. Este developer está aberto à negociação e VENDA de até 40% do capital social subjacente ao investimento correspondente.
Convenção transverte-se em concessão? Porquê?
Saltando de documentos em documentos, com fóruns pelo meio, reuniões e encontros diversos que normalmente abrilhantam esses negócios, chega o ano 2020 e com ele a pandemia - Covid-19.
Com o país mergulhado numa luta titânica contra um inimigo invisível e uma recessão económica violenta – o orçamento do Estado acabou sugado pela crise – todavia eis que a 27 de julho é publicada no Boletim Oficial a concessão de duas áreas de terrenos Localizados na ZDTI de Salamansa à empresa ITS.
Ora, tudo indica que com a resolução publicada a 27 de julho, a convenção de estabelecimento, de 12 de outubro de 2017, transverte-se em concessão por um período de 75 anos.
Se assim for, a pergunta óbvia é: porquê? Se o projeto que dá corpo á Convenção de Estabelecimento, assinada em 2017, ainda não está realizado, o que é que de novo terá acontecido para se mudar a modalidade para concessão por 75 anos? E mais, o que é que explica o secretismo em relação ao acordo de concessão, que não foi publicado como devia e é recomendado por lei?
As leis da república exigem que o gestor público – governo e os seus agentes – prestem contas e sejam transparentes na condução dos negócios do Estado. Este caso concreto de Salamansa configura-se um negócio em que um ativo do Estado – zona de Salmansa – possa estar a ser transferido para o domínio privado sem quaisquer contrapartidas dignas do valor real desse património público.
Será que se trata de mais um caso de Máfia dos Terrenos? Cabo Verde precisa moralizar a gestão fundiária, para proteger o seu património. Há que separar o interesse público do interesse privado.
Fonte: https://www.its.cv/planning
A área concessionada compreende duas zonas contiguas, marítima e costeira (nas famosas 80 metros da linha de água, em direcção ao interior).
Como se pode constatar no mapa que incorporou no artigo, há uma área do projecto em forma de esporão a ser construída no mar, portanto necessária a uma concessão, ou outra forma de vinculação.
Da área que compreende os 80 metros da orla marítima para o interior, como é sabido é necessário uma concessão.
De um lado o Estado cede, em regime de concessão, um terreno e uma área marítima, e por
outro lado, a ITS está vinculada a pagar uma contrapartida segundo o artigo 2.º do contrato de concessão.
Portanto, aí não há "máfia". Se houver "máfia", deverá procurar, na forma como a ITS, ou a Empreitel Figueiredo, consegui o terreno onde está pretende implantar o resort
Todas essas decisões são uma vergonha nacional! Porque entregar terrenos por tempo indeterminado sem qualquer custo a amigos e empresas de amigos que não têm dinheiro para investir?
Pura corrupção!
É assim que vai a nossa pobre e queridinha terra ! Os ricos cada vez mais ricos ( à custa alheia ) e os pobres cada vez mais lázaros ! Depois auto-proclamam-se de melhores, ou os únicos, democratas dessa terra !
Houvesse justiça ( esta é uma autêntica vergonha moral e nacional ), esses gajos (todos eles ) só veriam a luz do dia através das grades da prisão !
Não há lembrança de ter visto tanta corrupção nessa terra depois do nascimento do mpd ! É um mal que temos que suportar e viver por toda a eternidade, até que um dia a Justiça divina caia do Céu ! É a única esperança que nos resta. Não rezando e pedindo pela Justiça dos homens , tão corruptos como aqueles ! Enfim, a nossa terra nas mãos dos barões usurpadores do Arquipélago !
Obrigado.
PITABOLA
Com isso não quero dizer este caso agora trazido não deva ser explicado tim por tintim. E espero que assim seja.
Tudo negocios de defrauda estado es esta metedo nel.