Cabo Verde está em exaltação. Morreu uma jovem grávida que fez o trajecto Boa Vista/Sal para onde havia sido evacuada de emergência. Esta viagem, que por via aérea não passaria 10 minutos, terá demorado mais de 3 horas num bote, porque a companhia aérea Binter não presta este tipo de serviços. A não ser, quando assumidos pelo INPS ou pelo Tesouro Público.
O transporte doméstico, a evacuação de pacientes, o salvamento do gado, o mau ano agrícola, o emprego público, o desemprego jovem, as bolsas de estudos, a pensão social, a recuperação de barragens, entre outras intervenções com forte pendor social não fazem parte das acções prioritárias deste governo. Por uma razão muito simples: é que este governo é amigo das empresas e dos empresários.
Não é novidade para ninguém que o MpD e, logo, o governo que sustenta, são amigos das empresas e dos empresários. O primeiro ministro, Ulisses Correia e Silva, e o seu vice, Olavo Correia, passam a vida a repetir estas declarações, que hoje podem ser consideradas palavras de ordem deste partido, que se afirma como um acérrimo defensor do liberalismo económico, na sua dimensão exacerbada e extrema.
O MpD desenvolve uma governação próxima dos empresários e das empresas. O governo dos ventoinhas trabalha no sentido de empoderar o sector privado, na perspetiva de, por esta via, criar empregos no país. Menos estado e mais sector privado. Esta é a palavra de ordem do governo de Ulisses Correia e Silva.
Ora, quem se afirma amigo das empresas, não pode ser amigo do povo. Porque quem elege os empresários como seu parceiro privilegiado, o capital como seu companheiro de jornada da primeira linha, automaticamente relega o povo para o segundo plano, uma vez que não sendo este detentor do capital, do dinheiro, logo não faz parte dos planos prioritários da jornada governativa.
Na verdade, quando muito, havendo emprego, o povo pode aparecer como a massa trabalhadora, mão-de-obra nas mãos de quem possui o capital, ou seja, dos empresários.
É neste contexto, é que se percebe a posição de puro descaso como o governo encara os problemas de evacuação de doentes, o desaparecimento de pessoas, a violência urbana, o grito de socorro das populações rurais, o drama dos jovens desempregados, a ausência de bolsas de estudos, porque são assuntos que representam despesas, gastos, e este governo não está para estas chatices populares.
Num país arquipelágico, pobre, desprovido de recursos naturais, com elevada taxa de desemprego e carente de infraestruturas básicas para responder às necessidades das populações, como o acesso aos cuidados primários da saúde, colocar a ligação entre as ilhas nas mãos do sector privado estrangeiro, e ainda por cima em regime de monopólio, só pode ser entendida num quadro em que o dinheiro e o lucro justificam todos os fins.
Cabo Verde precisa entender que investir no transporte doméstico é um dever do Estado e jamais deverá ser classificado como despesas, ou gastos, mas sim investimentos no bem-estar social colectivo do povo das ilhas.
Seria óptimo que as ligações domésticas, seja aérea ou marítima, fossem rentáveis, mas não sendo, o Estado deve assumir os riscos, ciente de que estaria tão-somente a satisfazer uma das necessidades básicas das populações, fim último da sua existência.
O lucro do Estado é o bem-estar social. Só defendendo o bem-estar social, é que o Estado estaria a assumir a sua função tradicional nos domínios da segurança, saúde, educação e justiça, consagrados como direitos fundamentais da pessoa humana.
Um Estado pessoa de bem é aquele que, entre o capital e as pessoas, escolhe automaticamente, e sem djobe pa ladu, as pessoas. Que Estado é Este?...
A direcção,
Não podia deixar de juntar a minha voz aqueles que que repudiam o comportamento da empresa BINTER CV no quesito evacuações de doentes inter ilhas. Como já se disse em vários comentários, para prestar socorros, principalmente quando se trata de evacuações, acho que qualquer empresa de companhias aéreas, principalmente quando em regime de monopólio, devia ser mais tolerante com os pacientes.
Discordo de certos aproveitamento político, quando numa tentativa vã de tirar dividendo político, com total desrespeito ao relatório médico produzido sobre este caso que em nenhum momento refere a morte da vitima, como sendo falta de socorro atempado.
Aceito a posição de certos políticos ou partidos políticos em querer tirar dividendo deste triste caso.
No passado muito recente, houve vários casos de crianças que perderam a vida na pediatria do Hospital Agostinho Neto, em que se desconfiava da própria incubadora que estaria infectada supostamente.
Não confirmo e nem desminto justamente porque ninguém levantou suspeitas para incriminar o HAN, nem o governo na altura, e nem sequer foi assunto a discutir-se no parlamento. Será que a oposição na altura era menos barulhenta, mais desatenta ou mais cautelosa, deixando para as autoridades competentes fazerem os inquéritos necessários e apurar as responsabilidades.
Eu não entendo e por isso aceito os procedimentos da Binter CV nestes casos, assim como não aceito o posicionamento de alguns políticos em tentar passar a ideia de que se o paciente fosse socorrido em 10 minutos e não em cerca de 4 horas como aconteceu, que o desfecho seria outro. Podia até ser. Mais com quais bases científicas esses políticos estão munidos para pronunciarem, a ponto de ignorar o relatório médico?