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Cabo Verde existe desde que o mundo existe. A história regista que Diogo Gomes terá chegado cá em 1456, e desde então se intitulou – ou alguém o terá feito por ele - descobridor destas ilhas.

A história atribui ainda o comando da primeira expedição a Cabo Verde ao veneziano Alvise Cadamosto, em 1460, ou ainda ao genovês António da Noli, em 1462. E todos eles se intitularam – ou alguém o terá feito por eles – descobridores destas ilhas.

Se sim, se não, um dia há de se saber. A única certeza aqui até hoje, é que a história tem tentado passar para a memória colectiva - e em certa medida tem estado a conseguir - a ideia de que nestas ilhas tudo terá partido de um descobridor, que um dia cá aportou, e como num golpe de mágica terá começado o destino de todos nós, sem nunca explicar como é que tal façanha seja possível, se, num primeiro momento, é de se supor que estas não se encontravam perdidas, e num segundo momento, que a sua existência se deve única e exclusivamente à vontade da natureza. Que assim quis, e pronto!

Sim. Umas ilhas semeadas neste vasto oceano atlântico, aqui na costa ocidental africana, por obra e ciência da natureza, e que a história insiste em impor terem sido descobertas por este ou aquele… Enfim, mistérios…

Mistérios que teimam em submeter estas ilhas e este povo mestiço, fruto do cruzamento de outros povos que por aqui passaram e passam, a um conjunto de “crenças e credos”, adulterando o curso natural dos factos e da vida.

Um povo que é cabo-verdiano, ilhéu, na sua cultura, na sua identidade e modo de viver e estar no mundo. Nada mais que cabo-verdiano de naturalidade e de papel passado!

Um povo que não é, e jamais será, invenção de ninguém, seja pessoa física ou jurídica, organização, conjuntura política, económica ou cultural.

Um povo cabo-verdiano, porque sim. Porque forjado na dureza destas ilhas de origem vulcânica, que se dão pelo nome de arquipélago de Cabo Verde.

Um povo que se afirma como tal há mais de 5 séculos, não necessitando de qualquer decreto régio, colonial ou republicano para o efeito.

Um povo que construiu e constrói a sua história, todos os dias, porque portador de uma identidade e de um nome, que o define e credibiliza enquanto tal. Com seus os desafios, fracassos e vitórias. Com os seus heróis, uns conhecidos outros não, mas todos legitimados pelo seu trabalho, dedicação e entrega às causas públicas.

Homens e mulheres que nunca pediram licença a seja quem for para pensarem e agirem em consequência, nas artes, na administração, na justiça, na vida comunitária, na emigração. Com armas, com palavras. No campo, na cidade. No escritório, na lavoura, no mar. Com dignidade. Com coragem. Com determinação. Porque ciente dos seus deveres e dos seus direitos.

Então, o que é isto de heróis nacionais? Porquê tanto mistério à volta dos heróis nacionais?

Este país foi construído por um conjunto de pessoas, em diferentes épocas e contextos, até os dias de hoje.

Estas pessoas, homens e mulheres, não são fantasmas, elas existem, e o país tem o dever de as reconhecer, as estudar para passar o seu legado de geração em geração.

Os heróis são os principais construtores do seu país. Aqui não há mistério. Cabo Verde precisa reconciliar-se com a sua história, sendo o único caminho para a formação de uma nação forte, nos seus fundamentos e identidade!  

A direcção

Comentários  

+1 # PEPETELA 22-01-2018 12:24
EXCELENTÍSSIMO EDITORIAL. PARABENS. O Regime que falava de ditadura do partido único, nega o reconhimento das mulheres e dos homens que deram os seus sangues para a construção deste país. A NEGAÇÃO DA HISTÓRIA é a forma mais grave da alienção. Frantz, Fanon, "Pele negra, máscaras brancas": a alienação, uma etapa prévia à escravatura e ao colonialismo, necessária para a manutenção da exploração económica ("Leite do Olávo", "indemnização dos agricultores", etc.) e as condutas identitárias de “vergonha de si” (Código da Ética do Kabraão), resultado da dominação colonial.
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+1 # Caty Lopes 21-01-2018 10:44
Esse Comentario Editorial é do nosso grande NEI di Chinda de Achada Santo Antonio, que foi como o Eurico Monteiro, Jacinto Santos, Djonsa e José Filomeno, os radicais defensores do PAIGC, que levaram o desmantelamento da UPIC e da UDC, bem como todos aqueles que não acreditavam no PAIGC, como força luz e guia do nosso povo na Guiné e Cabo Verde. Ouvimos o NEI no Programa Espaço Publico a dizer que a democracia não fora instalada a 5 de Julho de 1975, por culpa do PAIGC, em que ele foi os dos principais e acérrimos defensores em Achada Santo Antonio, juntamente com os seus conteraneos, que referimos, em que se chegaram ao ponto de se enforcar uma pessoa que era contra o PAIGC e influenciaram decisivamente a morte do senhor Artur Correia, pai de um ilustre dirigente administrativo deste paîs. Oh NEI bâ dâ fuz nâ sinza com os navegadores Portugueses e deve saber que os Chineses e os Finicios, estiveram aqui primeiro e deixaram marcas escritas na Pedra Screbida de Janela de Paul.
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+1 # Planalto 21-01-2018 09:15
Excelente Editorial e muito Oportuno.

Cabo Verde precisa reconciliar com a sua História e, neste caso, com os seus Heróis. Todavia, uma questão pertinente se coloca. Para além do Amílcar Cabral, todos temos "dúvidas" de quem são os nossos Heróis. É que o Estado ainda não definiu quem são os Heróis de Cabo Verde. Sendo assim, cada um, mais letrado ou menos, se acha no entendimento de que pode definir uma lista de Heróis Nacionais, começando e bem pelo Cabral. Ora, isto não é assim. O Ministério da Cultura (que quanto a mim tem sido mais um Ministério das ARTES) e o Ministério da Educação têm de assumir as suas responsabilidades. A História de Cabo Verde está sendo muito mal tratada na nossa sociedade e com isso, só podemos ter a sociedade que temos, no seu declínio acelerado para o ABISMO.
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+1 # Regabof - O. C. 21-01-2018 00:19
Deves retirar o véu da cara para podermos conhecer-te melhor. Inocência ou Ignorância .
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